Imagem: Forest and Kim Starr / CC
A adoção generalizada de produtos rotulados como ‘biodegradável’ não vai diminuir significativamente o volume de plástico que entra no oceano ou os riscos físicos e químicos que os plásticos representam para o ambiente marinho, concluiu um relatório da ONU divulgado em 17 de novembro
O relatório “Plásticos biodegradáveis e Lixo Marinho. Equívocos, preocupações e impactos nos ambientes marinhos” demonstra que a completa biodegradação de plásticos ocorre em condições que raramente, ou nunca, se observam em ambientes marinhos, com alguns polímeros exigindo compostores industriais e temperaturas prolongadas acima de 50°C para serem desintegrados. Há também alguma evidência que sugere que os produtos de rotulagem como ‘biodegradável’ aumentam a propensão do público de despejar o lixo em locais impróprios para tal.
O relatório foi lançado para marcar o 20º aniversário do Programa Global de Ação para a Proteção do Ambiente Marinho de Atividades Situadas em Terra (GPA, na sigla em inglês), um mecanismo intergovernamental, organizado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
O Diretor Executivo do Pnuma, Achim Steiner, disse: “Estimativas recentes do Pnuma mostraram que cerca de 20 milhões de toneladas de plásticos acabam nos oceanos a cada ano. Uma vez no oceano, o plástico não vai embora, mas se quebra em partículas de microplástico. Esse relatório mostra que não há uma forma simples e rápida de consertar o estrago e que uma abordagem mais responsável na gestão do ciclo de vida dos plásticos será necessária para reduzir os impactos sobre os nossos oceanos e ecossistemas.”
Em 2014, um estudo feito pelo PNUMA e por parceiros estimou que cerca de 280 milhões de toneladas de plástico são produzidas globalmente a cada ano e que apenas uma pequena porcentagem é reciclada. Em vez disso, parte desse plástico acaba nos oceanos, custando vários bilhões de dólares anualmente em danos ambientais aos ecossistemas marinhos.
Nos últimos anos, cresceu a preocupação com relação aos microplásticos (partículas de até cinco milímetros de diâmetro, sejam fabricadas ou criadas pela quebra do plásticos). Sua ingestão tem sido amplamente relatada nos organismos marinhos, incluindo aves aquáticas, mexilhões, vermes e zooplâncton.
O novo relatório focou em verificar a tese de que os plásticos considerados “biodegradáveis” podem desempenhar um papel importante na redução desses impactos ambientais negativos.
A conclusão é de que os plásticos mais comumente usados para aplicações gerais, como polietileno (PE), polipropileno (PP) e policloreto de vinilo (PVC) não são biodegradáveis nos ambientes marinhos. Polímeros, que se biodegradam sob favoráveis condições na terra, demoram muito mais a quebrar no oceano e sua adoção generalizada pode contribuir para o lixo marinho e as indesejáveis consequências para os ecossistemas marinhos.
O estudo também analisa os impactos ambientais de plásticos oxo-degradáveis, enriquecidos com um pró-oxidante como o manganês, que precipita a fragmentação. Ficou claro que, nos ambientes marinhos, a fragmentação é razoavelmente devagar e pode levar até cinco dias, enquanto os objetos de plástico continuam a sujar os oceanos.
Plásticos oxo-degradáveis podem representar uma ameaça aos ecossistemas marinhos mesmo depois da fragmentação. O relatório diz que podemos presumir que os microplásticos criados no processo de fragmentação permanecem no oceano, onde podem ser ingeridos pelos organismos marinhos e facilitar o transporte de espécies nocivas de micróbios, patógenos e algas.
O relatório também cita uma pesquisa que sugeriu que algumas pessoas são atraídas por “soluções tecnológicas” como uma alternativa para mudar o comportamento. Rotular um produto como biodegradável pode ser visto como um “conserto técnico” que retira a responsabilidade do indivíduo, resultando numa resistência à tomada de atitude.
O relatório completo (em inglês) pode ser baixado aqui.
Fonte: Pnuma
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