A polarização política nas redes sociais divide os internautas em grupos com posicionamentos bastante distintos. A existência de ideologias distintas é comum, por isso, a princípio, não deveria ser um problema. No entanto, no ambiente on-line, discussões pouco respeitosas são cada vez mais comuns, tornando a polarização uma verdadeira disputa entre os grupos. Diante disso, pesquisadores discutem sobre o que pode ser feito para diminuir a polarização e obter debates focados nas questões que realmente importam. Saiba mais a seguir!
A polarização se refere à divisão da sociedade em polos diferentes. Esses polos são grupos de pessoas que defendem um ponto de vista – seja opinativo ou ideológico – diferente a respeito de determinado tema. No caso da polarização política, os grupos defendem pontos de vista políticos diferentes.
Por vezes, a polarização política pode tomar um rumo negativo, revelando uma verdadeira disputa entre as pessoas. Essa disputa impede o diálogo saudável, que visa debater questões necessárias. Assim, cada um dos grupos acaba se fechando e, consequentemente, não há mudanças efetivas.
Na contemporaneidade, as redes sociais têm sido o centro da acentuada polarização política. Ao navegar pelas mídias on-line, vê-se discussões que pouco debatem verdadeiramente sobre as questões importantes. Isso faz com que as mídias sejam, inclusive, associadas ao aumento da polarização política. Mas especialistas afirmam que elas apenas agravam uma polarização já presente antes delas próprias existirem.
Um dos fatores que pode agravar a situação é o algoritmo. Para falar sobre esse assunto, Eri Pariser apresentou o conceito “filtro-bolha”. O filtro-bolha é um universo de informação que é exclusivamente seu. Ele é formado a partir do que o algoritmo das mídias identifica como importante para você, baseado nos seus passos on-line. Viver nessa bolha te deixa ainda mais longe de outros pontos de vista e pode aumentar a polarização.
Assim, as mídias atuam de forma direta ou indireta. Um estudo que investigou o uso da mídia social associado à polarização, por exemplo, descobriu que a polarização era mais alta para as faixas etárias que menos usam a internet, não ficando claro o efeito direto do uso de redes sociais.
Ainda assim, é inegável o impacto dessas mídias no discurso político. Parte das notícias até passou a se concentrar nas ações dos políticos on-line, anunciando quando algum presidente, por exemplo, publica algum tweet.
Jaime Settle, professor e diretor no Laboratório de Redes Sociais e Psicologia Política, diz que a polarização política nas redes sociais tem muito a ver com a falta de dicas não-verbais. Segundo Settle, o ser humano evoluiu junto com a comunicação, algo vital para nossa sobrevivência como espécie. Nesse contexto, a linguagem corporal é bastante importante para que reconheçamos o que as outras pessoas estão sentindo. No ambiente on-line, porém, essa linguagem corporal não existe.
Uma pesquisa da Duke University sugere que tentar sair da bolha de informações pode não ser suficiente para o problema da polarização política nas redes sociais. Durante o estudo, os pesquisadores recrutaram centenas de democratas e republicanos ativos no Twitter e os pagaram para seguir um bot que retuita conteúdo do lado oposto.
Depois de um mês passando por essa experiência, os democratas tinham uma atitude bem parecida, enquanto os republicanos acabaram mais conservadores do que quando começaram o estudo. O resultado sugere que a polarização na verdade pode ser impulsionada pela exposição a pontos de vista diferentes. Ainda é preciso mais estudos para entender as questões comportamentais relacionadas a essa polarização.
Um estudo liderado por Kai Ruggeri, professor de política e gestão de saúde na Escola Mailman de Saúde Pública da Universidade de Columbia, publicado na revista Nature Human Behavior, sugere outra abordagem. Segundo Ruggeri, o estudo “fornece evidências de que as pessoas ao redor do mundo superestimam os sentimentos negativos de seus oponentes políticos, quando na verdade o outro lado é frequentemente muito menos negativo do que as percepções que nutrimos sobre o outro grupo.”
Esse equívoco gera como consequência a polarização, o conflito entre os grupos de pontos de vista diferentes e narrativas cada vez mais agressivas. “Embora sem dúvida existam diferenças entre as crenças e ações dos partidos políticos opostos, suas opiniões sobre questões menos relatadas são frequentemente mais semelhantes do que pensamos”, aponta o pesquisador. Nesse sentido, os resultados do estudo sugerem que focar nas questões sem torná-las partidárias pode mitigar o exagero da polarização.
Esse problema, contudo, não será solucionado de forma simples. É preciso haver mudanças estruturais para que a sociedade realize discussões sérias e verdadeiras. Nesse caso, as plataformas também precisam contribuir, uma vez que seus algoritmos estão relacionados à formação das bolhas. As mídias podem atuar visando conter o extremismo e a polarização on-line.
Diante de contextos políticos específicos e enquanto as plataformas funcionam dessa mesma forma, os usuários devem estar atentos à maneira como as mídias sociais funcionam – isto é, agravando o problema da polarização. No âmbito individual, é importante manter a cabeça aberta para entender os posicionamentos divergentes e manter as discussões de forma séria, focada no que realmente importa.
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