Na edição atualizada do livro “São Paulo: o planejamento da desigualdade”, Raquel Rolnik comenta o planejamento urbano da cidade e investiga o momento em que os espaços públicos dão lugar aos privados
Por Diogo Paiva em Jornal da USP — Raquel Rolnik publica uma versão atualizada de seu livro, São Paulo: O planejamento da desigualdade (Editora Fósforo), que conta com um prefácio escrito por Emicida, convidado não só como rapper, mas também como pensador. Raquel é professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e uma das coordenadoras do LabCidade, laboratório dedicado ao acompanhamento crítico de políticas urbanas e habitacionais que busca intervir diretamente no debate público e na realização de ações práticas sobre o tema.
O livro defende a tese de que a desigualdade em São Paulo é resultado de opções de política urbana que foram sendo tomadas ao longo da história da cidade. “É fruto de planos, é fruto de projetos, é fruto de legislação urbanística — e não da falta dela. Ou seja, um pouco contestando a ideia de que nós estaríamos diante de uma cidade caótica, não planejada. Aqui defendemos a tese de que planejamos a desigualdade”, explica Raquel.
A cidade confinada
Em A cidade confinada: shoppings, condomínios e a agonia dos espaços públicos, um dos capítulos do livro, Raquel investiga o momento da história de São Paulo em que os ambientes públicos de uso coletivo dão lugar a ambientes privados, num movimento de “confinamento” da classe média em condomínios e centros comerciais. A professora explica: “É um momento em que cresce e aumenta muito a violência na cidade, a penetração da violência — fisicamente, claro, materialmente, mas também simbolicamente, no imaginário da cidade — e, a partir dela, a gente tem uma série de novos produtos imobiliários, ou ‘produtos do complexo imobiliário financeiro’, como eu denomino no livro, que vão oferecer novos modelos de organização da cidade, que é o que chamo de ‘cidade confinada’”.
“Trocando em miúdos: shopping center, em vez da rua comercial aberta; condomínios fechados e murados para dentro de si, em vez do bairro sem muros. Então, a cidade confinada é essa reestruturação dos modos de viver na cidade, que implicaram um ‘ir para dentro’, uma segregação absolutamente violenta, um modelo de vigilância e securitário predominante, das câmeras, dos muros altos, e um abandono dos espaços públicos, sobretudo por parte das classes médias e altas, que vão se confinar nesses de usufruto coletivo, privados e controlados.”
São Paulo: O planejamento da desigualdade está disponível nas principais livrarias e também no site da editora.