Imagem de Maria Lupan no Unsplash
Um estudo recente das universidades de Birmingham e Manchester revelou que a exposição aguda a partículas poluentes no ar pode comprometer funções cerebrais essenciais para o cotidiano. Publicado na Nature Communications, o trabalho aponta que atividades como realizar compras ou tomar decisões rápidas se tornam mais difíceis mesmo após algumas horas de contato com o ar contaminado.
Pesquisadores expuseram voluntários a níveis elevados de material particulado (MP) — simulados por fumaça de vela — e avaliaram habilidades como atenção seletiva, reconhecimento de emoções e velocidade psicomotora. Os resultados mostraram que a capacidade de filtrar distrações, priorizar tarefas e interpretar expressões faciais diminuiu significativamente após a inalação do ar poluído. Curiosamente, a memória de trabalho, responsável por armazenar informações temporárias, não foi afetada, sugerindo resiliência em certas funções cerebrais.
A atenção seletiva, essencial para evitar compras impulsivas ou concluir tarefas complexas, mostrou-se especialmente vulnerável. Já a cognição socioemocional, que permite decifrar sentimentos alheios e agir conforme normas sociais, também apresentou declínio. Para Thomas Faherty, da Universidade de Birmingham, os dados comprovam que a poluição tem efeitos imediatos na execução de atividades rotineiras, com potenciais prejuízos à produtividade econômica e ao bem-estar coletivo.
Francis Pope, coautor do estudo, alerta para as consequências em sociedades dependentes de habilidades cognitivas. “A redução da produtividade em ambientes profissionais e o comprometimento do desenvolvimento intelectual reforçam a urgência de políticas públicas mais rígidas contra a poluição, principalmente em centros urbanos”, afirma.
O material particulado MP 2,5, principal vilão associado a danos à saúde, já é responsável por milhões de mortes prematuras globalmente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda limites anuais abaixo de 5 μg/m³, mas regiões industrializadas frequentemente ultrapassam esses parâmetros. Gordon McFiggans, da Universidade de Manchester, destaca a necessidade de investigar como diferentes fontes de poluição — como tráfego e queimadas — afetam grupos vulneráveis, incluindo idosos e crianças.
Embora o estudo seja pioneiro ao manipular experimentalmente vias de inalação de poluentes, especialistas defendem mais pesquisas para entender os mecanismos biológicos por trás dos danos. A inflamação causada pelas partículas no organismo é apontada como uma possível explicação para os déficits cognitivos.
Além de agravar doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, a poluição do ar já é reconhecida por seus impactos cardiovasculares e respiratórios. Diante disso, a regulamentação de emissões e o monitoramento da qualidade do ar emergem como prioridades para proteger a saúde cerebral e mitigar custos sociais em escala global.
Informações detalhadas sobre a metodologia e resultados estão disponíveis no artigo original:
Faherty, T. et al. Acute particulate matter exposure decreases executive functioning after four hours, regardless of inhalation route. Nature Communications (2025).
Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.
Saiba mais