Poluição do ar durante a gravidez pode afetar desenvolvimento de bebês recém-nascidos

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A exposição materna à poluição do ar durante a gravidez tem sido frequentemente associada a efeitos adversos na saúde de recém-nascidos. No entanto, um novo estudo, publicado em junho no periódico Environmental Research, mostrou que o ar poluído tem efeitos negativos sobre a tireoide – e que as fases de maior risco são os primeiros e os últimos meses de gravidez.

Os hormônios tireoidianos são essenciais para regular o crescimento e o metabolismo fetal e desempenham um papel importante no desenvolvimento neurológico. A tiroxina (T4) é o principal hormônio da tireoide em circulação, enquanto o TSH é o hormônio estimulador da tireoide.

Quarenta e oito horas após o nascimento, os bebês são submetidos a um teste de picada no calcanhar, no qual são medidos os níveis de tiroxina e TSH no sangue. Na verdade, se o equilíbrio desses hormônios da tireoide não estiver certo, o risco de desenvolver doenças graves aumenta.

Baixos níveis de hormônios da tireoide estão associados a um maior risco de doenças

Por isso, “este estudo teve como objetivo analisar a relação entre a poluição atmosférica durante a gravidez e o nível de tiroxina no recém-nascido”, explicou Amaia Irizar-Loibide, pesquisadora do Departamento de Medicina Preventiva e Saúde Pública da Universidade do País Basco (UPV/EHU).

O dióxido de nitrogênio (NO2) e as partículas finas com menos de 2,5 micra de diâmetro (PM2,5) são dois dos principais poluentes relacionados à poluição do ar e ao tráfego de veículos. Partículas de PM2.5, por exemplo, são muito finas e entram facilmente no trato respiratório.

“Neste trabalho, analisamos especificamente o efeito da exposição materna a essas partículas finas e ao dióxido de nitrogênio durante a gravidez e a ligação existente com os níveis de tiroxina em bebês recém-nascidos. Temos monitorado esses níveis semanalmente, pois o desenvolvimento do feto varia muito de uma semana para a outra. Por isso, procuramos fazer uma pesquisa o mais detalhada possível para saber quais são as semanas mais sensíveis da gravidez”, acrescentou a pesquisadora.

Assim, foi analisada a amostra do projeto INMA (Meio Ambiente e Infância) em Gipuzkoa. Também foram utilizados dados sobre os poluentes atmosféricos PM2.5 e NO2, além de dados sobre os níveis de TSH e T4 de calcanhares neonatais coletados no projeto.

Poluição tem influência direta sobre a tireoide

Segundo Amaia Irizar, “os resultados obtidos neste estudo revelaram a relação direta entre a exposição a partículas finas durante a gravidez e o nível de tiroxina nos recém-nascidos. No entanto, não observamos uma ligação clara com a exposição ao dióxido de nitrogênio”.

Esses resultados, portanto, coincidem com as limitadas pesquisas anteriores. “O que vimos neste trabalho”, frisou Irizar, “é que a exposição durante os primeiros meses de gravidez tem uma influência direta no equilíbrio dos hormônios da tireoide. Esses bebês tendem a ter um nível mais baixo de tiroxina”.

Ela acrescenta: “À medida que a gravidez avança, descobrimos que essa relação diminui gradativamente, ou seja, a exposição da mãe se torna gradativamente menos importante. No final da gravidez, entretanto, essa ligação ganha destaque outra vez, mas exibe um efeito oposto: conforme a concentração dessas partículas finas aumenta, vimos que o nível dos hormônios da tireoide também aumenta, o que tem efeito oposto no equilíbrio”.

Segundo ela, o mecanismo por trás de tudo isso não está claro. No entanto, os pesquisadores chegaram à conclusão de que os períodos mais sensíveis da gravidez em termos de poluição atmosférica são os primeiros e os últimos meses de gestação.

A próxima tarefa da equipe é estudar os mecanismos pelos quais essas partículas finas causam efeitos opostos no início e no final da gravidez. Irizar explica que é preciso continuar investigando se a exposição materna ao ar poluído afeta, além dos hormônios da tireoide, outros aspectos do desenvolvimento, como desempenho cognitivo, crescimento e risco para obesidade, entre outros.

Isabela

Redatora e revisora de textos, formada em Letras pela Universidade de São Paulo. Vegetariana, ecochata na medida, pisciana e louca dos signos. Apaixonada por literatura russa, filmes de terror dos anos 80, política & sociedade. Psicanalista em formação. Meu melhor amigo é um cachorro chamado Tico.

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