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Pesquisa de Harvard estima que centenas de vidas poderiam ter sido salvas se o ar de grandes cidades estivesse mais limpo

Um estudo realizado na Escola de Saúde Pública de Harvard analisou os níveis de poluição do ar e as mortes por Covid-19 ocorridas até o dia 4 de abril em 3.000 municípios dos Estados Unidos. A análise cobriu 98% da população dessas cidades e concluiu que um pequeno acréscimo nos níveis de poluição nos anos anteriores à pandemia foi responsável por um aumento de 15% na taxa de mortalidade. Segundo a pesquisa, se o ar estivesse um pouco mais limpo em Manhattan no passado, hoje centenas de vidas poderiam ter sido salvas.

Dadas as grandes diferenças nos níveis de poluentes atmosféricos entre os países, o estudo sugere que as pessoas que vivem em áreas poluídas possuem muito mais chance de morrer com o coronavírus do que aquelas que residem em áreas mais limpas. Os cientistas afirmam que as altas taxas de poluição do ar já são conhecidas por aumentar o risco de doenças respiratórias agudas, que são extremamente mortais e uma das causas de morte relacionadas à Covid-19. Segundo o estudo, um pequeno aumento na exposição a partículas de poluição ao longo de 15 a 20 anos aumenta em 20 vezes o risco de morte por Covid-19.

“Os resultados são estatisticamente significativos”, disseram os pesquisadores de Harvard. Em sua análise, o estudo considerou uma série de fatores, incluindo níveis de pobreza, tabagismo, obesidade, número de testes da Covid-19 e leitos hospitalares disponíveis. Eles também tiveram o cuidado de remover da análise a cidade de Nova York, que teve muitos casos, e municípios com menos de 10 casos confirmados da doença.

“Trabalhos anteriores mostram que a exposição à poluição do ar aumentou drasticamente o risco de morte por Sars (causada por outro coronavírus) durante o surto de 2003”, disse Rachel Nethery, integrante da equipe de Harvard, observando que os atuais resultados são consistentes com os dados já conhecidos.

Outro colega da equipe, Xiao Wu acredita que as informações podem ajudar a preparar as populações de locais mais poluídos, incentivando precauções extras e uma melhor alocação de recursos para reduzir os impactos negativos da pandemia. “É provável que a Covid-19 faça parte de nossas vidas por muito tempo, apesar da esperança de uma vacina ou tratamento. Sabendo disso, devemos considerar medidas adicionais para nos proteger da exposição à poluição e reduzir o número de mortos pelo novo coronavírus”

Os pesquisadores afirmam também que os resultados destacam a necessidade de continuar aplicando os regulamentos existentes relacionados a poluição do ar e que qualquer falha poderá aumentar o número de mortos por Covid-19. Eles observaram com receito a suspensão das leis ambientais aplicada pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos em 26 de março.

A pesquisa apresenta resultados promissores e deve ser publicada em breve em uma grande revista médica. Embora seja metodologicamente sólido e plausível, o professor Jonathan Grigg, da Universidade Queen Mary, de Londres, acredita que o estudo possui limitações técnicas, já que alguns fatores, como o fumo, não foram avaliados em níveis individuais.

Pesquisas anteriores sobre a Covid-19 sugerem que os pulmões enfraquecidos de fumantes e ex-fumantes os tornam mais suscetíveis ao vírus, o que parece apontar para o fumo como um fator essencial na análise. Grigg acredita que são necessários mais estudos, já que a poluição do ar deve voltar a subir assim que o isolamento acabar.

Cidades poluídas devem redobrar cuidados

Pesquisadores italianos chegaram a conclusões semelhantes às de Harvard. Um estudo publicado na revista Environmental Pollution no começo deste mês aponta que as altas taxas de mortalidade observadas no norte da Itália estão associadas a níveis de poluição mais altos. Eles acreditam que essas descobertas podem ser usadas para que países mais poluídos tomem precauções extras para retardar a disseminação do vírus e lidar com as consequências provocadas pela pandemia.

O estudo italiano concluiu que o alto nível de poluição no norte do país deve ser considerado um fator adicional para a letalidade registrada na área. Eles analisaram os dados registrados até o dia 21 de março, que mostram uma mortalidade de 12% nas regiões norte da Lombardia e Emília-Romanha em comparação com 4,5% no restante da Itália.

“É sabido que um indivíduo que vive em áreas com altos níveis de poluição está mais propenso a desenvolver condições respiratórias crônicas, além de ser mais vulnerável a qualquer agente infeccioso”, reforça a pesquisa.

Embora o isolamento tenha causado uma queda drástica na poluição do ar e os estudos indiquem que isso contribui para reduzir as mortes por Covid-19, também são necessárias medidas de longo prazo. Uma revisão de estudos publicada em 2019 constatou que a exposição prolongada à poluição atmosférica é capaz de danificar todos os órgãos e células do corpo humano.



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