A vida noturna dos seres humanos, principalmente em cidades grandes, tem causado fortes impactos não só na rotina das pessoas, mas também na de outros animais que também habitam o planeta Terra (apesar de, às vezes, esquecermos). O maior problema é que a nossa vida noturna vem com uma alta poluição luminosa, cujo maior impacto se dá na quebra do ciclo circadiano e outros ciclos funcionais dos animais. Um artigo publicado na Yale Environment 360, revista eletrônica do departamento de Silvicultura e Meio Ambiente da Universidade de Yale dos EUA, reúne alguns dados sobre o impacto da poluição luminosa nos animais.
Segundo o autor, Paul Bogard, 30% dos vertebrados e mais de 60% dos invertebrados são seres de hábitos noturnos, e todos correm o risco de sofrerem os impactos da poluição luminosa. O astrônomo Fabio Falchi explica que os níveis da luminosidade artificial são milhares de vezes mais elevados se comparados com o ambiente noturno sem lâmpadas. Essa luminosidade, principalmente dos polos urbanos, vem afetando processos naturais de acasalamento, migração, alimentação e polinização das espécies, sem que elas tenham tempo de se adaptar.
As tartarugas-de-couro, por exemplo, fazem seus ninhos na praia e quando os filhotes nascem eles são instintivamente guiados pelo reflexo da luz das estrelas e da lua para seguirem em direção ao mar. Infelizmente, um estudo realizado na Ilha de Tobago, revelou que, ao invés de irem ao encontro do mar, os filhotes seguem as luzes dos hotéis e das ruas, e acabam morrendo de desidratação, devorados por algum predador, ou até mesmo atropelados por carros. Muitos pássaros, também atraídos pelas luzes artificiais, saem do seu curso migratório e morrem ao colidirem com construções humanas, como por exemplo, os outdoors, que também matam milhares de insetos.
E não pense que os seres humanos estejam fora da lista de prejudicados, afinal, nós também somos animais. Steven Lockley, da Divisão de Medicina do Sono da Escola de Medicina de Harvard, explica que, assim como esse de tipo de poluição produz alterações no padrão sazonal das árvores e na reprodução dos anfíbios, ela tem impactos sobre nós, seres humanos, o contrário do que se pensava até os anos 80.
A luz noturna provoca mudanças no sono e confunde o ritmo circadiano, que é o processo biológico o qual regula as funções do corpo baseado em 24 horas, sendo determinado principalmente pelas variações de luz. Uma das maiores preocupações é a quantidade dos comprimentos de onda azul contida em aparelhos eletrônicos e outdoors, pois este tipo de comprimento de onda é reconhecido por nosso cérebro como um sinal de um belo dia de céu azul, o que se torna um inconveniente no meio da noite. Tecnologias como os LEDs (do inglês, diodo emissor de luz), têm causado preocupação, pois apesar de poderem ser controlados e melhor direcionados, a luz é mais forte do que as lâmpadas comuns. Outros estudos afirmam ainda que a alta exposição à luz durante a noite aumenta o risco de obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.
Algumas medidas já vêm sendo tomadas. Na França, por exemplo, da 1h às 7h, luzes de lojas e escritórios devem estar apagadas, e as luzes de fachadas de prédios só podem ser acesas após o pôr-do-sol. O intuito é de reduzir as emissões de dióxido de carbono em 250 mil toneladas por ano, e, além disso, segundo o Ministro do Meio Ambiente da França, também reduzir o excesso de luz noturna, que, como já vimos, causa diversos problemas para a saúde dos ecossistemas. Outra solução muito eficaz é uso de protetores em lâmpadas, que permitem o direcionamento da luz, não enviando mais a luminosidade para o céu.
Ainda assim, a poluição luminosa continua aumentando em 20% a cada ano, na maioria das vezes devido à associação entre segurança e luz, o que é uma medida relativa, pois a alta luminosidade causa o ofuscamento – o que pode impedir a pessoa de ter o criminoso à vista.
No Brasil, o Laboratório Nacional de Astrofísica preparou uma apostila que alerta e fornece informações sobre a poluição luminosa e as formas de combatê-la. Eles apresentam uma “regra de ouro” que todos nós deveríamos seguir: “iluminar apenas o que for preciso e apenas durante o tempo que for necessário.”. Então, da próxima vez, ao deixar um cômodo não se esqueça de apagar as luzes.
Confira a interessante animação de Olivia Huynh, que aborda a questão:
Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.
Saiba mais