A rede WWF (Fundo Mundial para a Natureza) divulgou nesta terça (13) o relatório “Below the Canopy” (Abaixo da copa das árvores), a primeira avaliação global da biodiversidade florestal. Histórico e inédito, o levantamento avalia dados desde 1970 até 2014, o ano mais recente para o qual há dados disponíveis.
O Índice Específico de Florestas mostra que as populações monitoradas de aves, mamíferos, anfíbios e répteis que vivem em florestas diminuíram, em média, 53% no período estudado. A perda e a degradação de habitat causada principalmente pela atividade humana, como o desmatamento, é a causa de 60% das ameaças a florestas e espécies florestais . Os declínios foram maiores em florestas tropicais, como a floresta amazônica. Ou seja, mesmo abaixo das árvores, a sobrevivência das espécies não está garantida.
Ainda segundo o relatório, as florestas são vitais para a saúde do planeta, uma vez que abrigam bem mais da metade das espécies terrestres do mundo e são um dos agentes responsáveis pela maior quantidade de captura de carbono, o que mitiga a crise climática. E a fauna silvestre, por sua vez, é vital para manter as florestas saudáveis e produtivas, cumprindo funções como a polinização e a dispersão de sementes, além de outros papéis essenciais para sua própria regeneração e o armazenamento de carbono.
“As florestas são sistemas complexos que dependem da vida selvagem que os habita para mantê-los saudáveis, e a rápida diminuição da vida selvagem da floresta nas últimas décadas é um sinal de alerta urgente. As florestas não são apenas um tesouro da vida na Terra, mas também nosso maior aliado natural na luta contra o colapso climático. Nós os perdemos por nossa conta e risco. Precisamos que líderes globais iniciem imediatamente ações para proteger e restaurar a natureza e manter nossas florestas em pé ”, comenta Will Baldwin-Cantello, líder global em florestas no WWF.
Se quisermos reverter o declínio da biodiversidade em todo o mundo e evitar a crise climática, precisamos salvaguardar as florestas e as espécies que vivem nelas. Por isso, o WWF tem pedido aos líderes mundiais que declarem emergência planetária e assegurem um “Novo Acordo para a Natureza e para as Pessoas” até 2020, que barre a emergência climática, proteja a natureza remanescente e que torne o nosso modelo de consumo e produção mais sustentável. Proteger e restaurar florestas deve estar no centro deste acordo.
O desmatamento na Amazônia brasileira vem crescendo aceleradamente nos últimos sete meses. Segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o desmatamento de julho de 2019 teve um aumento de 278% em relação ao mesmo mês do ano passado. Nos primeiros sete meses de 2019 houve um aumento de 65% em relação ao mesmo período do ano passado.
Mas o que está ruim pode piorar. Tramita em regime de urgência na Câmara dos Deputados o PL 3.729 de 2004, que modifica toda a legislação de licenciamento ambiental. Sob a presidência de Rodrigo Maia (DEM-RJ), o projeto pode ir à votação ainda esta semana.
Se aprovada como apresentada pelo seu relator, o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), o projeto permitirá que obras de infraestrutura sejam realizadas na Amazônia sem que o desmatamento, impacto indireto, seja considerado.
“Essa legislação faz o Brasil retroceder aos anos 1970, quando o governo militar abriu estradas e construiu hidrelétricas na Amazônia sem tomar qualquer cuidado socioambiental, o que levou à dizimação de povos indígenas, ao desmatamento acelerado e a muita violência “, avalia o diretor de Justiça Socioambiental do WWF-Brasil, Raul Valle. “Em função do desastre ocorrido, passamos a exigir, inclusive por pressão de financiadores internacionais, a elaboração de estudos e adoção de medidas de controle antes da aprovação de obras com grande impacto ambiental. Estamos voltando quarenta anos no tempo.
O Índice Específico de Florestas também avaliou se a cobertura florestal sozinha – o indicador mais usado globalmente – era uma indicação precisa da saúde da vida selvagem na florestas, abaixo da copa das árvores. A pesquisa descobriu que, ao mesmo tempo em que o combate ao desmatamento e o aumento da cobertura florestal são essenciais para restaurar a natureza, estes são, por si só, etapas que não são suficientes.
“Para reverter o declínio da vida selvagem e a saúde de nossas florestas, é crucial abordar as múltiplas pressões sobre as espécies florestais, incluindo desmatamento, comércio ilegal de animais selvagens, caça insustentável, espécies invasoras, mudanças climáticas e doenças”, diz Baldwin-Cantello. “Futuras estruturas globais e todas as futuras avaliações florestais globais devem incluir medidas diretas de biodiversidade florestal e mudança na cobertura florestal. Se não abordarmos ameaças abaixo da copa das árvores, corremos o risco de cair ainda mais na síndrome das “florestas vazias”, onde as árvores permanecem, mas grande parte da vida selvagem é perdida “.
“O primeiro passo para proteger a vida selvagem ameaçada é entender as tendências de suas populações e o que impulsiona seu declínio. Ao utilizar o já bem estabelecido Índice Planeta Vivo para criar um novo indicador para espécies florestais, podemos observar abaixo da copa das árvores para saber como a vida selvagem dentro dessas florestas está”, explica a especialista em conservação Louise McRae, da Sociedade Zoológica de Londres (ZSL, Zoological Society of London). “Nossa análise faz exatamente isso, e revela que os números de muitas espécies animais que dependem inteiramente de florestas estão caindo. Com este novo indicador, podemos rastrear a situação da vida da floresta e acompanhar seu progresso em direção a acordos internacionais e metas de biodiversidade .”
Enquanto as descobertas do Índice de Especialistas em Florestas mostram um quadro sombrio do estado da biodiversidade florestal, as histórias de sucesso da conservação nos mostram que os animais que habitam a floresta podem se recuperar com as intervenções corretas. De macacos na Costa Rica a gorilas na África central e oriental, o relatório destaca uma série de soluções que ajudaram com sucesso as populações de animais da floresta a prosperar novamente.
Ainda se sabe pouco sobre a situação dos animais silvestres nas florestas. O Índice Específico de Florestas (Forest Specialist Index), desenvolvido pelo WWF seguindo a metodologia do Living Planet Index (usado no mais importante relatório mundial sobre biodiversidade, o Relatório Planeta Vivo – Living Planet Report), se concentra em espécies que dependem inteiramente de florestas. Isso significa que este indicador fornece uma representação acurada da saúde do ecossistema florestal.
O Centro de Monitoramento Mundial de Conservação (UNEP-WCMC, World Conservation Monitoring Centre) liderou a análise e modelagem para este relatório em colaboração com a Sociedade Zoológica de Londres (ZSL, Zoological Society of London).
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