Por WWF-Brasil — O assassinato de Chico Mendes, em 22 de dezembro de 1988, não conseguiu apagar o legado do maior ambientalista brasileiro. Mais de 30 anos depois, o líder seringueiro é nome de escolas, parques, prêmios, de um instituto e é reconhecido internacionalmente pela sua luta em defesa do meio ambiente no Brasil.
Chico Mendes tornou-se uma figura tão lembrada porque denunciou o avanço do desmatamento e os conflitos fundiários na Amazônia, além de se posicionar como uma voz importante entre os seringueiros da região.
O líder foi homenageado como nome de uma Reserva Extrativista (Resex), criada em 1990 no município de Xapuri (AC), e de uma autarquia federal, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que é responsável pela gestão das unidades de conservação da natureza do Brasil.
Em 2004, Chico Mendes foi reconhecido como Herói da Pátria e, em 2013, foi declarado Patrono Nacional do Meio Ambiente. Seu legado, no entanto, vai além das homenagens.
Como presidente do sindicato de trabalhadores rurais de Xapuri (AC). Chico Mendes convocou, em 1985, o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros da Amazônia. A ideia era discutir as ameaças de expulsão das famílias extrativistas de suas terras e lutar pela defesa da floresta.
O encontro reuniu em Brasília 130 seringueiros da Amazônia, que definiram propostas de fortalecimento da categoria, de melhoria de suas condições de trabalho e de renda, além do acesso à educação e saúde.
O grupo discutiu e formulou o conceito de Resex (Reserva Extrativista), com o objetivo de garantir o direito de posse às populações tradicionais e à conservação da floresta. Esse é considerado o maior legado de Chico Mendes
Uma das primeiras Resex, criada em 1990, leva o nome do ambientalista. Atualmente, no entanto, a reserva está ameaçada pelo PL (projeto de lei) 6024/2019, que propõe a redução dos seus limites.
Chico Mendes também foi o idealizador da Aliança dos Povos da Floresta, para reunir em uma mesma causa populações distintas, como seringueiros, índios e ribeirinhos em defesa da Amazônia.
Essa união das populações tradicionais da região foi reativada durante as comemorações da Semana Chico Mendes de 2019. Agora, a mobilização tem o objetivo de fazer frente ao governo Bolsonaro e barrar seus planos de desmantelamento da política ambiental brasileira.
Outro legado de Chico Mendes foi a utilização de uma tática conhecida como “empate”, quando os moradores de comunidades tradicionais se reuniam para evitar que árvores fossem cortadas para avanço da agropecuária.
Sempre que havia uma ameaça, o líder mobilizava os seringueiros para desmontar os acampamentos, se posicionar diante das árvores e das casas e tentar impedir o avanço dos tratores e das motosserras.
Com a medida, eles ganhavam tempo até a chegada das autoridades e da justiça e, em muitas vezes, conseguiam reverter a derrubada da mata e o despejo das famílias extrativistas.
Foi de Chico Mendes a ideia que deu origem ao Projeto Seringueiro, a primeira experiência de alfabetização de adultos que vivem em comunidades isoladas na floresta. Ele mesmo só aprendeu a ler e a escrever aos 16 anos, e viu na escola uma forma de melhorar as condições de vida e igualdade dessa população.
O projeto começou em 1983 a partir de um grupo de educadores, e implantou uma rede de escolas nos seringais do Acre. A proposta de educação popular tinha como base a pedagogia de Paulo Freire e o contexto de trabalho e de vida dos seringueiros.
A primeira escola do projeto foi instalada no seringal Nazaré e recebeu o nome de Wilson Pinheiro, em homenagem ao mentor e companheiro de Chico que foi morto em julho de 1980 a mando de fazendeiros de Brasiléia. O seringal onde a escola foi construída, ficava dentro da Fazendo Bordon, onde hoje fica a Reserva Extrativista Chico Mendes.
Entre os dias 15 e 22 de dezembro (datas de nascimento e morte do líder seringueiro, respectivamente) serão as realizadas as atividades da Semana Chico Mendes 2021.
O evento é promovido pelo Comitê Chico Mendes, com apoio do WWF-Brasil, e traz como tema: “Crise climática: vozes da floresta em defesa do território”.
Neste ano, a Semana volta a ser presencial, no Acre, para garantir a participação e a mobilização das populações tradicionais da Amazônia, onde o acesso à internet ainda é um obstáculo. A atividades também serão transmitidas pelas redes do Comitê Chico Mendes.
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