Por Mariana Oliveira, Luciana Alves e Bruno Calixto em WRI Brasil| Elas podem gerar postos de trabalho e renda, prezando por um bom uso da terra e promovendo formas sustentáveis de desenvolvimento econômico.
Estudos sobre a governança da restauração de paisagens e floretas, por exemplo, colocam as empresas como atores importantes, mas o aumento da escala da restauração requer ainda a diminuição da percepção de risco por parte de investidores, analistas de investimentos e produtores rurais, o fomento ao desenvolvimento e atração de instrumentos financeiros adequados à atividade e a conexão de bons projetos com potenciais investidores.
Dessa forma, é importante reconhecer lacunas de conhecimento, treinamento, capacitação e recursos financeiros, especialmente para as pequenas e médias empresas do setor florestal. Como essas lacunas podem ser endereçadas para garantir uma participação eficiente por parte do setor privado?
Uma iniciativa trazida ao Brasil pelo WRI Brasil e Pacto pela Restauração da Mata Atlântica busca justamente preencher essa lacuna: a iniciativa global The Land Accelerator, ou a Aceleradora de Negócios Florestais.
A Aceleradora de Negócios Florestais se inspira no conceito de programas de incubação e aceleração de startups. Esses programas em geral incluem mentoria e componentes educacionais, e culminam em rodadas com investidores interessados em apoiar essas empresas.
No caso da Aceleradora de Negócios Florestais, esse mesmo conceito foi aplicado com empreendimentos que atuam com restauração de paisagens e florestas ou com sistemas agroflorestais. O objetivo é trazer capacitação e treinamento, melhorando a gestão dos negócios e possibilitando trocas de experiências e intercâmbio entre as pessoas.
As empresas que se inscreveram e participam do processo de seleção precisam estar atuando na cadeia da restauração ou agroflorestas. São negócios que envolvam produção de sementes e mudas até comercialização de produtos gerados a partir das áreas restauradas, como madeira, frutos e alimentos em geral, além de prestadores de serviços relacionados à restauração como assistência técnica, engajamento e educação.
Como a Aceleradora realmente funciona? Ela prevê sessões de treinamento virtuais para as empresas selecionadas, em que os empreendedores e empreendedoras aprenderão como aprimorar seus planos de negócios, construir projetos de captação de recursos e apresentação para investidores. Além disso, terão sessões sobre como melhorar os aspectos ambientais e sociais na empresa, garantindo que tenham impacto positivo real ao reverter a degradação da terra ou das florestas a partir de seus negócios.
É fácil compreender os benefícios da restauração e do reflorestamento para fins ecológicos. Recuperar uma área para proteger a diversidade de espécies, capturar carbono da atmosfera ou recuperar nascentes, por exemplo, são atividades já reconhecidas. Mas onde as empresas entram nessa equação, e como elas ajudam a reverter a degradação?
Ao apoiar empresas que atuam na cadeia da restauração e de agroflorestas, estamos buscando criar um ambiente favorável para modelos sustentáveis de uso da terra. Uma empresa que depende da floresta para a comercialização de produtos florestais não madeireiros, por exemplo, contribui para evitar que essa área se degrade. Ao incentivar empresas que apostam na silvicultura de espécies nativas, como é o caso do projeto Verena, evita-se que mais madeira de desmatamento ilegal chegue ao mercado.
Os negócios florestais promovem impacto positivo pois suas atividades restauram áreas degradadas. Tudo isso gerando emprego e renda. Um estudo identificou que a restauração tem potencial para criar mais de 2,5 milhões de empregos no Brasil. São postos de trabalho criados em áreas rurais, muitas vezes carentes de boas oportunidades.
Dessa forma, a Aceleradora se propõe a apoiar esses negócios, buscando o ganho de escala da restauração e mobilizando recursos para melhorar a qualidade de vida no campo.
A Aceleradora de Negócios Florestais é parte da iniciativa global intitulada The Land Accelerator que já possui uma valiosa rede de negócios e oportunidades de investimento que está atuando na África, América Latina e sul da Ásia. Mais 190 empreendedores de 46 países já participaram para aprimorar seus negócios florestais. A rede está crescendo e agora atuará também com foco na Mata Atlântica brasileira.
No Sudeste Asiático, a iniciativa já está em seu terceiro ano. Na última chamada do programa, foram selecionados 58 empreendedores da Índia e do Sri Lanka. Esses empreendimentos incluiam técnicas para garantir a sobrevivência de mudas, restauração focada no aumento da produtividade da agricultura, redução de riscos financeiros em atividades relacionadas à agricultura sustentável e no desenvolvimento de cadeia de suprimentos eficientes.
Na África, a Aceleradora em seu terceiro ano trabalhou com 104 empreendedores de 35 países diferentes. Juntos, esses empreendedores empregam mais de 9 mil pessoas, e atuam na cadeia da restauração em mais de 90 mil hectares. O programa africano focou em inovações que vão desde a produção por meio de agroflorestas até soluções tecnológicas para a restauração.
No Brasil, a chamada de 2023 para a Aceleradora de Negócios Florestais se concentrou em um bioma específico: a Mata Atlântica. Isso acontece porque a Mata Atlântica apresenta um potencial gigante para o desenvolvimento de negócios florestais.
A Mata Atlântica é atualmente o bioma mais desmatado do país. Em outras palavras, é também onde há mais áreas a serem restauradas. Um mapeamento do IIS, no projeto em parceria com WRI Brasil, identificou uma oportunidade de restauração de 5 milhões de hectares de paisagens e florestas, o que protegeria mais de 600 espécies ameaçadas de extinção e retiraria mais de 5,6 milhões de toneladas de carbono da atmosfera.
É neste bioma em que estão localizadas algumas das maiores cidades do Brasil e a maior população urbana do país. A restauração em florestas próximas desses centros urbanos gera grande benefício em disponibilidade de água e produção de alimentos para as populações urbanas. Do ponto de vista econômico, a infraestrutura logística já existente facilita o acesso aos produtos da restauração e das agroflorestas.
Os programas de aceleração para negócios florestais no Brasil e no mundo podem contribuir muito além das capacitações para empresas: eles criam uma grande rede de relacionamento e troca de experiências entre negócios florestais do mundo todo. Essa rede é parte crucial para garantir o ganho de escala da restauração no mundo e atingir as metas de recuperar mais de 350 milhões de hectares de florestas. Na Década da ONU da Restauração de Ecossistemas, precisamos contar com a participação de todos os setores para permitir que a economia do mundo faça uma transição para um modelo mais limpo, justo e sustentável.
Este texto foi originalmente publicado pela WRI Brasil de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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