Por que temos a ameaça da volta de doenças como a poliomielite?

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Por Aline Vessoni e Fabio Mazzitelli, da Unesp | O último caso de poliomielite paralítica, causada pelo poliovírus selvagem, no Brasil ocorreu em 1989, na cidade de Souza-PB. A doença foi oficialmente erradicada do país em 1994, quando houve a validação da Organização Pan-Americana da Saúde. Desde 2015, entretanto, o Brasil não atinge a meta de 95% do público-alvo vacinado, patamar necessário para que a população seja considerada protegida. Iniciada em agosto, a campanha mais recente de vacinação contra a poliomielite foi prorrogada nacionalmente até o final de setembro em razão da baixa cobertura vacinal e muitos municípios a prorrogaram novamente, até o final de outubro, como é o caso da cidade de São Paulo, cuja cobertura vacinal contra a polio estava em 79,78% ao final do último dia 30. 

O caso da queda de cobertura da vacina contra a poliomielite, após o sucesso de sua erradicação, ilustra um dos principais desafios atuais do Programa Nacional de Imunizações (PNI): a hesitação vacinal. Para Paulo Almeida, diretor-executivo e coordenador do Observatório de Políticas Científicas do Instituto Questão de Ciência (IQC), o que explica em parte tal hesitação da população brasileira em levar os filhos para tomar vacina é, quase paradoxalmente, a falta de memória ou de convivência com a agressividade de doenças que foram prevenidas ao longo da história pela adesão em massa às imunizações, como é o caso da poliomielite paralítica. 

“Ao longo das últimas décadas, houve uma queda da cobertura vacinal no mundo todo, em parte porque as vacinas sofrem o efeito do próprio sucesso. Elas são muito efetivas em conter a proliferação de doenças que têm um impacto muito grande na sociedade e gerações mais novas não viram coisas muito agressivas. Não viram varíola ou não tem um parente com pólio”, exemplifica Paulo Almeida. “Então parte disso (hesitação vacinal) encontra respaldo simplesmente porque é uma geração que não tinha visto, até a covid, um problema muito sério que exigisse vacinação em massa porque a gente já tinha uma população suficientemente coberta”, afirma o diretor do IQC.

O coordenador do Observatório de Políticas Científicas do IQC também acredita que a questão da hesitação vacinal esteja ligada à disseminação de notícias falsas ou informações incompletas relacionadas ao fenômeno da desinformação, o que no Brasil ganhou força com a postura desarticulada do Ministério da Saúde após o surgimento da pandemia de covid-19 –o próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, pôs em dúvida, mais de uma vez, a eficácia das vacinas. “Muita instância técnica de excelência no Brasil está sendo convertida em instância de conchavo político, que foi o que a gente viu acontecendo no Ministério da Saúde durante a pandemia”, diz Almeida.

O crescimento da hesitação vacinal no Brasil foi o tema da 30ª edição do podcast Prato do Dia, que convidou o diretor do IQC Paulo Almeida para reflexões a respeito do problema, que afeta também outros países. “O Brasil sempre teve um histórico muito bom de vacinação porque isso tinha se tornado um fator cultural da população. Vacinar era um hábito. Não havia muito questionamento em torno disso”, lembra Almeida.

Ouça a íntegra desta edição do Prato do Dia abaixo. A entrevista está disponível no site do Podcast Unesp e nos principais serviços agregadores de podcasts.

PODCAST PRATO DO DIA
[Prato do Dia #30] Hesitação vacinal, com o diretor-executivo do IQC Paulo Almeida
Por Podcast Prato do Dia

Este texto foi originalmente publicado pela Unesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Thaís Niero

Bióloga marinha formada pela Unesp e graduanda de gestão ambiental. Tentando consumir menos e melhor e agir para alcançar as mudanças que desejo ver na sociedade.

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