Preocupado com a crise climática? Seja vegano! Pescetarianismo é extremamente nocivo para o meio ambiente

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Quando pessoas bem intencionadas decidem parar de comer animais por razões éticas, é comum que elas abandonem a carne vermelha, o frango e a linguiça e os substituam por peixes e frutos do mar acreditando que estão fazendo uma escolha mais benéfica para o meio ambiente e a saúde. Entretanto, pesquisas recentes apontam que o pescetarianismo é extremamente nocivo para o meio ambiente. Paralelamente, uma comissão de mais de 30 cientistas líderes mundiais concluiu que a melhor dieta para a saúde e para o planeta, no contexto atual, é a dieta vegetariana estrita, também chamada de vegana.  

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O que leva as pessoas a aderirem ao pescetarianismo?

Imagem de Ivana Milakovic no Unsplash

Estima-se que o principal motivo que leva as pessoas a aderirem ao pescetarianismo é porque os peixes são vistos como menos dignos de compaixão do que os animais terrestres. Embora as vidas dos peixes capturados na natureza sejam interrompidas, pelo menos eles não passam toda a sua existência em gaiolas tão apertadas, em situação cruel de confinamento, como vivem galinhas, porcos e vacas. Além disso, a pesca tem uma pegada de carbono menor do que a agropecuária industrial, o que pode ser outro fator que atrai pessoas bem intencionadas.

Os peixes sentem dor? É provável que sim

Como apontado em um artigo publicado esse mês no jornal Vox, quase um quarto dos americanos relata que está tentando comer menos carne, motivado mais pela preocupação com o meio ambiente do que pelo bem-estar animal. Mudar de uma dieta onívora para uma pescetariana provavelmente reduzirá seu impacto climático porque, em média, a produção de frutos do mar libera menos carbono por quilo de carne do que a criação de animais terrestres (embora haja uma grande variação dependendo da espécie).

Conheça os impactos da pesca no meio ambiente

Por um lado, os cientistas acumularam evidências nos últimos 20 anos de que os peixes são sencientes – sentem dor, experimentam emoções e se envolvem em um comportamento social complexo que antes pensávamos estar limitado a humanos e animais terrestres – derrubando décadas de sabedoria recebida que eles não importam moralmente porque não podem realmente sofrer.

Pesca fantasma, fenômeno bizarro pouco conhecido

Além do sofrimento animal, o pescetarianismo envolve um fenômeno bizarro chamado pesca fantasma. A pesca fantasma, chamada de ghost fishing em inglês, é o que acontece quando os equipamentos desenvolvidos para capturar animais marinhos, como redes de pesca, linhas, anzóis, arrasto, potes, covos e outras armadilhas, são abandonados, descartados ou esquecidos no mar.

Esses objetos colocam em risco toda a vida marinha, já que, uma vez preso nesse tipo de engenhoca, o animal acaba ferido, mutilado e morto de forma lenta e dolorosa.  A pesca fantasma ameaça baleias, focas, tartarugas, golfinhos, peixes e crustáceos que acabam morrendo por afogamento, sufocamento, estrangulamento e infecções causadas por lacerações. Isso significa que, apesar da boa intenção, consumir uma “porçãozinha” de peixe, atum ou sardinha também mata golfinhos, tartarugas e baleias

O agravante é que essas redes de pesca e outras armadilhas são feitas de plástico. Uma pesquisa realizada na Wageningen University em conjunto com a instituição Ocean Cleanup revelou que 90% do lixo do Pacífico é resultado da pesca em seis países, que são as principais nações pesqueiras da atualidade. É estimado que a área esteja coberta de dezenas de milhares de toneladas de lixo, cobrindo milhões de quilômetros quadrados.

Impactos da pesca para o sofrimento animal

Mesmo se você estiver menos confiante de que os peixes podem sofrer como porcos ou vacas, ou apenas tiver menos empatia por eles, lembre-se de que normalmente é necessário comer muito mais peixes individuais para obter uma porção equivalente de comida. Um salmão cultivado médio produz pouco menos de 2,5 Kg de carne. Isso é mais de 30 vezes menos carne do que um único porco e mais de 100 vezes menos do que uma vaca. 

Conheça os impactos da pesca de arrasto

Salmão e frango produzem uma quantidade semelhante de carne por animal, e ambos sofrem intenso sofrimento em fazendas industriais, mas o salmão de viveiro vive cerca de 26 vezes mais do que as galinhas antes de atingirem o peso de abate, o que significa 26 vezes mais tempo gasto com dor. E ao contrário dos animais terrestres de criação, muitos dos peixes que comemos são carnívoros, então eles comem um grande número de iscas de peixe antes de chegarem ao seu prato, o que só aumenta a conta moral do pescetariano.

Portanto, não é surpresa que, de acordo com uma estimativa, os humanos pesquem ou criem pelo menos 840 bilhões a 2,5 trilhões de peixes a cada ano – pelo menos 11 vezes o número combinado de vacas, galinhas e porcos abatidos globalmente, embora os frutos do mar representem apenas 17% da ingestão mundial de proteína animal.

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Espera-se que esses números aumentem – ainda mais se mais consumidores mudarem a forma como comem para ajudar principalmente o clima, sem se preocupar muito com os animais. Há um bem conhecido trade-off aqui: uma dieta de pequenos animais como frango ou anchovas em vez de grandes como vacas tem uma pegada de carbono menor, mas resulta em sofrimento e morte para um número muito maior de animais individuais.

Felizmente, há uma saída simples para esse dilema, que é melhor tanto para os animais quanto para o clima: em vez de trocar um animal por outro, coma menos animais de qualquer espécie e mais plantas. Você já pensou em aderir a uma dieta plant-based ou ao estilo de vida vegano? Se você é uma pessoa bem intencionada, talvez seja hora de considerá-las.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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