Imagem: Fernanda Birolo (MTB 81/AC) / Embrapa
Um fruto da natureza combinado a mais de uma década de pesquisa deu origem à primeira variedade de maracujá nativo da caatinga recomendado para cultivo comercial.
A espécie será utilizada em ações do projeto Bem Diverso – iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) que apoia o Brasil na conservação da biodiversidade por meio do manejo sustentável de recursos e produtos florestais. A agência da ONU conta com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Fundo Mundial para o Meio Ambiente.
Nomeado oficialmente BRS Sertão Forte, o maracujá foi apresentado em 3 de junho pela Embrapa, em Pernambuco, durante o a primeira edição do Simpósio do Bioma Caatinga. O fruto também foi apresentado durante um dia no campo que reuniu dezenas de produtores, representantes de cooperativas, de criadores de víveres e agroindústrias.
O novo espécime é resultado do aprimoramento genético desenvolvido pela Embrapa no Semiárido em parceria com a unidade da empresa que se dedica à pesquisa nos cerrados brasileiros.
Selecionado a partir de avaliações de maracujazeiros silvestres coletados em diferentes partes da caatinga no Nordeste, a planta apresenta maior produtividade e rende mais e maiores frutos do que os maracujás nativos.
O maracujá do mato – ou maracujá da caatinga, como também é conhecido – tem vantagens em comparação com as espécies comerciais de maracujá azedo, pois são mais resistentes à falta de água.
Ele apresenta ainda um ciclo produtivo mais longo, o que significa que a planta vive e produz por mais tempo no campo, além de tem maior tolerância à fusariose – uma das principais doenças que ataca o maracujazeiro azedo.
Os frutos do BRS Sertão Forte, quando maduros, apresentam coloração verde-clara e chegam a pesar pouco mais de 200g. A polpa é bastante ácida, própria para processamento, e atinge um rendimento de até 50% quando extraída em máquinas.
“Essa variedade pode ser cultivada com baixo custo tecnológico e com limitação de água. Por isso, é bastante apropriada para a agricultura familiar das áreas dependentes de chuva, com foco principalmente na produção orgânica”, destaca o engenheiro agrônomo da EMBRAPA do Semiárido responsável pelo desenvolvimento da espécie, Francisco Pinheiro de Araújo.
“É muito fácil cultivá-lo”, confirma a agricultora Maria Luiza de Castro, do Projeto Pontal, em Petrolina, onde foi montada uma área experimental do maracujá.
Ela faz parte de uma cooperativa que trabalha desde 2011 com o processamento de umbu, outro fruto nativo da caatinga. Os agricultores viram no maracujá uma boa alternativa para complementar a renda das famílias e, atualmente, já comercializam produtos como geleia, calda e mousse, e ainda vendem o fruto in natura.
Além de indicado para as áreas com restrição hídrica da caatinga, o BRS Sertão Forte também apresentou bom desempenho em áreas irrigadas. De acordo com as pesquisas, seguindo as mesmas recomendações técnicas para o maracujazeiro azedo comercial, é possível produzir de 14 a 29 toneladas da variedade por ano.
Segundo Pinheiro, a espécie tem ainda potencial para ser plantada nas bordas dos cultivos de maracujá amarelo, uma vez que suas flores abrem por volta das 5h da manhã, enquanto as das variedades de maracujazeiro azedo abrem no final da manhã ou à tarde.
Assim, a planta atrai os polinizadores para as primeiras horas do dia e aumenta o tempo e, consequentemente, a eficiência da polinização natural — o que está diretamente ligado ao incremento da produtividade.
Além da sua região nativa, a variedade foi testada também no cerrado do Distrito Federal, onde apresentou boa produtividade .
A Embrapa já está disponibilizando as sementes do maracujá BRS Sertão Forte para viveiristas interessados na produção e comercialização de mudas, por meio de edital aberto até o dia 30 de junho. Logo após o licenciamento, a Empresa divulgará os nomes e contatos desses viveiristas para os agricultores interessados na aquisição de mudas.
Fonte: ONUBr
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