Loja
Apoio: Roche

Saiba onde descartar seus resíduos

Verifique o campo
Inserir um CEP válido
Verifique o campo

Entenda o que é a teoria da privação relativa e como ela explica mudanças de comportamento individuais e coletivas

A privação relativa é uma teoria que explica o sentimento de discrepância que um indivíduo experimenta entre o que ele tem e o que poderia – ou deveria – ter, em contraposição à privação absoluta das necessidades básicas para viver.

Ela acontece quando, por exemplo, você olha para o carro de um colega de trabalho, que recebe o mesmo salário que o seu, e pensa: “Por que o carro dele é melhor que o meu?”. Em outras palavras, a privação relativa explica a sensação de que, como diz o ditado popular, “a grama do vizinho é mais verde”. Isso gera uma ação social diante da percepção de que se está sendo privado de algo que é seu por direito.

Definições

foto aérea de um gramado dividido no meio por uma estrada. a metade superior é um gramado rico e verde escuro e o gramado de baixo é separado em duas partes, uma possui a coloração amarelada e a outra é uma área sem grama, desmatada. ilustra a privação relativa com o termo "a grama do vizinho é mais verde"
Foto de jean wimmerlin na Unsplash

Como foi definido por teóricos sociais e cientistas políticos, a teoria da privação relativa é aplicada a várias áreas. A teoria sugere que as pessoas que se sentem privadas de coisas consideradas essenciais em seu grupo social (renda, direitos civis, voz política, status) tendem a se organizar e aderir a movimentos sociais de luta por melhor qualidade de vida nesses campos específicos.

Por exemplo, a privação relativa foi mencionada como uma das causas da eclosão do Movimento pelos Direitos Civis nos Estados Unidos na década de 1960. Que foi enraizado na luta dos negros norte-americanos em busca por igualdade social e legal. A mesma motivação explicaria o movimento de pessoas LGBT+ para a conquista do direito ao casamento civil igualitário.

A privação relativa é definida como uma falta real ou percebida de recursos necessários para manter a qualidade de vida, comum a um ou vários grupos sociais e econômicos. Recursos tais como alimentação adequada, atividades de lazer e bens materiais. Ela se contrapõe à privação absoluta (ou à pobreza absoluta). Este outro tipo, por sua vez, compreende uma situação potencialmente fatal que ocorre quando a renda de um indivíduo ou grupo cai abaixo do nível adequado para a manutenção de direitos essenciais, como comida e moradia.

Origens

Muito explorado pela Psicologia, especialmente pela Psicologia Social, e por outros campos das ciências humanas, como a Sociologia e a Ciência Política, o conceito foi registrado pela primeira vez em um estudo chamado The American Soldier, de 1949, conduzido pelo sociólogo norte-americano Samuel Stouffer, em parceria com outros coautores. Neste trabalho, os pesquisadores relatam que as unidades do exército com maiores taxas de promoção também apresentavam os níveis mais altos de insatisfação entre os não promovidos.

Mais tarde, o também sociólogo norte-americano Robert K. Merton desenvolveu a teoria mais profundamente no livro Social Theory and Social Structure, de 1957, argumentando que as altas taxas de mobilidade social aumentam as esperanças e expectativas individuais, encorajando comparações sociais demasiado otimistas. Nove anos depois, Walter. G. Runciman forneceu evidências adicionais, na obra Relative Deprivation and Social Justice, de que os sentimentos de privação e consciência de classe dos trabalhadores tendem a ser relativos, em vez de absolutos.

Runciman também aponta uma distinção entre privação relativa “egoísta” e “fraternal”. De acordo com o sociólogo, a privação relativa egoísta é impulsionada pela percepção que o indivíduo tem de que é tratado injustamente, em comparação com outros de seu grupo social.

Um funcionário que acredita que deveria ter sido promovido em uma empresa, no lugar do funcionário que recebeu a promoção, apresenta um sentimento de privação relativa egoísta. Já a privação relativa fraternal está mais frequentemente associada a movimentos sociais organizados, que lutam pelos direitos de um grupo. Desde então, diversos pesquisadores têm ampliado os estudos que exploram como as ações coletivas têm sido, ao longo da história, desencadeadas pelo sentimento de privação relativa.

Críticas à teoria da privação relativa

Os detratores da teoria da privação relativa costumam argumentar que o conceito falha em explicar por que algumas pessoas, embora privadas de direitos ou recursos, deixam de participar de movimentos sociais destinados a obtê-los. Afinal, por que nem todas as pessoas negras participam – ou nem mesmo apoiam – movimentos de luta por direitos dos negros? E por que alguns LGBT+ não reivindicam os mesmos direitos de que gozam as pessoas heterossexuais, como o casamento civil igualitário?

Os proponentes dessa teoria respondem que muitas dessas pessoas simplesmente preferem evitar os conflitos e as dificuldades que podem encontrar ao aderir a movimentos que não garantem melhores condições de vida.

Além disso, a teoria da privação relativa não leva em consideração aqueles indivíduos que participam de movimentos que não as beneficiam diretamente. Esses indivíduos incluem:

  • veganos, que se engajam na luta pelos direitos dos animais;
  • heterossexuais e pessoas cisgêneras, que marcham ao lado de ativistas LGBT+;
  • indivíduos socialmente favorecidos, que se manifestam contra as políticas que perpetuam a pobreza ou a desigualdade de renda.

Nesses casos, a explicação seria um sentimento de empatia ou simpatia, e não de privação relativa.

Esperança evita comportamentos de risco diante do sentimento de privação relativa

De acordo com uma pesquisa da Escola de Psicologia da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, ter esperança no futuro pode evitar que as pessoas adotem comportamentos de risco, ainda que elas experimentem o sentimento de privação relativa. A motivação dos pesquisadores era descobrir por que alguns indivíduos canalizam essa sensação para vícios e escapes prejudiciais à saúde física e mental – como drogas, álcool, transtornos alimentares e jogos –, enquanto outras, sob as mesmas condições, não adotam a mesma postura. A resposta, segundo a equipe, está na esperança.

Shahriar Keshavarz, um dos autores do estudo, explica que a privação relativa é capaz de desencadear emoções negativas, como raiva e ressentimento, e levar a padrões de comportamento destrutivos. No entanto, nem todos os indivíduos que experimentam essa sensação fazem escolhas de vida ruins. As evidências mostraram que, quanto maior é a esperança no futuro, menor é a chance de que a privação relativa provoque a tendência de adotar hábitos de risco.

Os experimentos mediram os níveis de esperança e privação relativa nos voluntários, por meio de questionários, e induziram neles sentimentos de privação relativa. Em seguida, os participantes foram testados em jogos de apostas, com probabilidade real de ganhos financeiros.

Ao analisar os resultados, a equipe descobriu que as pessoas que registraram níveis mais altos de esperança, segundo os questionários de medição de tendências, apresentavam um risco muito mais baixo de perda de controle durante o jogo – ainda que sob indução do sentimento de privação relativa. Os pesquisadores acreditam que nutrir esperança em indivíduos insatisfeitos com a própria vida pode ajudar a protegê-los de comportamentos nocivos, como beber e jogar.


Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos. Saiba mais