Privacidade na internet é um tema sempre em pauta. Os apps, softwares produzidos não somente, mas sobretudo para uso em dispositivos móveis, já fazem parte do nosso cotidiano. Segundo a Flurry Analitics, o uso dessa tecnologia cresceu em 115% no ano de 2013. Esse crescimento é visível na grande variedade de aplicativos que estão disponíveis no mercado: há aplicativos que ajudam o consumidor a saber a origem do produto que adquiriu, que monitoram a circulação e o metabolismo do corpo e que até mapeiam o desmatamento no mundo.
A novidade agora são os aplicativos que traçam o perfil do consumidor ao rastrear as suas preferências e o seu estilo de vida. No entanto, um alerta deve ser dado: ao invés de apenas ajudar o consumidor a encontrar ofertas e a encher as sacolas de compras, esse tipo de aplicativo pode invadir a sua privacidade.
Geralmente, o consumidor é induzido a fazer o download do aplicativo com a finalidade de comparar preços, economizar e encontrar promoções e produtos que sejam do seu interesse. Tudo para personalizar e facilitar a “experiência de compras” dos clientes. Para isso, esses aplicativos contêm um dispositivo que rastreia desde o histórico de buscas do consumidor até o seu endereço. Esse dispositivo, na verdade, acessa os cookies do aparelho em que ele foi instalado.
Os cookies são arquivos de texto muito simples que armazenam informações coletadas durante a navegação do usuário na internet. Enquanto os cookies estiverem ativos no seu computador, toda vez que você acessar uma página da internet, o seu navegador irá encaminhar um cookie para essa página.
O sucesso desse tipo de aplicativo pode ser explicado por meio de uma breve análise da geração em curso. Isso porque vivemos em uma época em que consumir transformou-se em hábito cada vez mais presente, por vezes definidor de identidade. Dia após dia, a mídia apresenta produtos diferentes que chegam até nós por meio de estratégias de publicidade muito eficientes. Isso, consequentemente, acaba incentivando as pessoas a comprarem cada vez mais.
A projeção da ONU para o ano de 2050 é a de que a população mundial alcance o número de 9,6 bilhões de pessoas. Isso significa que haverá cerca de 9,6 bilhões de pessoas submetidas à cultura do consumo. Segundo o estudo publicado pelo Worldwatch Institute e traduzido pelo Instituto Akatu, o consumismo não é um paradigma cultural viável, uma vez que habitamos um planeta cujos recursos naturais são fortemente explorados e cujos ecossistemas estão fortemente pressionados. Mesmo assim, o consumismo é cada vez mais reforçado e disseminado entre todas as classes sociais e encontra como forte aliada a internet, responsável por veicular campanhas publicitárias via anúncios e disponibilizar aplicativos como esse mencionado anteriormente.
Além de reforçar o consumismo, aplicativos desse tipo podem acessar informações que o consumidor não gostaria de compartilhar. Outra questão preocupante é que o consumidor não tem o controle sobre o uso dessas informações. Nos Estados Unidos, a Federal Trade Comission está investigando esse novo tipo de indústria que acessa e comercializa informações pessoais que ultrapassam o simples histórico de preferências na internet. Isso porque informações como endereço, renda mensal, registros judiciais e tributários também fazem parte das informações que esses dispositivos conseguem capturar.
Muitas redes de lojas adotaram como estratégia o uso dessa tecnologia, aparentemente inofensiva. Nos Estados Unidos, onde essa tendência é muito forte, lojas como a Macy’s, a Best Buy e a JCPenny fizeram uma parceria com o aplicativo Shopkick. O Shopkick, quando ativado, encaminha para o aparelho em que ele está instalado ofertas de descontos e até downloads de músicas para serem ouvidas enquanto o consumidor experimenta as roupas.
Outro aplicativo, chamado Snapette, mistura a febre das mídias sociais com as tecnologias de localização terrestre. Esse aplicativo é direcionado para mulheres que se interessam por moda, e por meio dele as consumidoras conseguem saber quais produtos estão fazendo sucesso na sua vizinhança, além de receberem anúncios publicitários e cupons de promoção.
No Brasil, a onda de aplicativos que promete personalizar a experiência de compras das pessoas já chegou com tudo. Apesar da polêmica que cerca a questão de compartilhamento de informações, as estatísticas mostram que o público brasileiro ou não tem receio de compartilhar as suas informações ou não tem consciência dos riscos que esse hábito pode trazer.
Uma pesquisa desenvolvida pela Cisco Systems revelou os seguintes dados: 55% dos consumidores brasileiros aceitam ou não se importam em compartilhar as suas informações pessoais para obter serviços personalizados.
Apenas 17% dos brasileiros se consideram seletivos na hora de escolher os sites de varejo que acessarão as suas informações. O relatório também aponta que 70% do público brasileiro usa o celular para fazer compras, sendo que desse total, 56% declararam usar aplicativos para verificar preços e 53% para encontrar liquidações e ofertas. Além disso, 72% dos consumidores brasileiros optam por receber dicas de compras que se baseiam na localização de seus dispositivos móveis.
Por isso, fique ligado. Compartilhar sua privacidade só faz sentido se você realmente estiver disposto e, principalmente, consciente sobre tal possibilidade.
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