O sistema de produção agrícola intensiva é altamente danoso para o meio ambiente, já que seu intenso uso de fertilizantes, agrotóxicos e maquinários, são responsáveis por poluir a água, além de compactar e erodir o solo. Somado a isso, o setor pecuário, muito presente no Brasil, é responsável por emitir uma quantidade considerável de metano para a atmosfera.
Nesse cenário, desde a década de 70, vem se intensificando os esforços para estudar métodos sustentáveis de produção agropecuária. O conceito da agrossilvicultura, desde então, vem ganhando relevância, onde seus primeiros estudos relacionam o papel das árvores para a manutenção do solo em ambientes tropicais. Com isso, grande parte dos seus estudos estão relacionados à silvicultura, zootecnia e manejo dos solos, tendo como objeto de estudo a produção de alimentos, a conservação ambiental, a melhoria paisagística, e a exploração de produtos madeireiros.
O sistema agrossilvipastoril pode ser definido como uma prática de combinação entre espécies florestais, produção animal, além de culturas agrícolas. Ela tem como objetivo maximizar o aproveitamento dos recursos naturais, gerando uma maior biodiversidade em seu território e produzindo alimentos de uma forma mais sustentável. Esse sistema também é conhecido popularmente como sistema de agrofloresta (SAF’s).
Essa atividade de integração lavoura, pecuária e floresta visa a conservação ambiental, uma maximização da produtividade agropecuária e um maior conforto para os animais. Podemos ter como exemplo o método “taungya” (mistura de culturas agrícolas durante os primeiros momentos de plantio de árvores), com pastagem nos momentos de manutenção de florestas.
O sistema agrossilvipastoril oferece grandes vantagens, permitindo uma maior biodiversidade e sendo menos prejudicial ao meio ambiente, quando comparado a métodos mais intensivos. Com isso, essa maior biodiversidade ajuda na melhor utilização da água, promove uma maior ciclagem de matéria orgânica e nutrientes do solo, fornece adubos verdes e é efetivo no controle de pragas, como as ervas daninhas.
Além disso, ela emite menos gases de efeito estufa (quando comparados ao sistema produtivo agrícola atual), reduz a taxa de desmatamento, e ao mesmo tempo aprimora o conforto térmico para os animais e plantas.Na área produtiva, ela é responsável por diversificar a produção com um melhor aproveitamento dos recursos naturais.
Um exemplo muito interessante, é o desenvolvido pela Embrapa no semiárido nordestino (SAF Sobral). Essa região, durante décadas, passou por um processo de degradação ambiental causada pela exploração do setor agropecuário e madeireiro desregulado. Essas intensas atividades foram responsáveis pela destruição da flora e fauna presentes, erosão e compactação dos solos, além do assoreamento das nascentes dos rios.
Os objetivos deste projeto visam reduzir a degradação vista na Caatinga (bioma presente na região Nordeste), garantindo uma estabilidade e aumento de produção na terra. Ele também promove uma fixação do homem no campo, onde ao mesmo tempo incentiva a sustentabilidade ambiental, econômica e social no setor produtivo familiar campestre.
Com isso, a preparação das áreas destinadas para a agricultura começa na época do verão, retirando a vegetação lenhosa em excesso (raleamento), preservando a mata ciliar (vegetação presente em volta da nascente e dos riachos), e plantando algumas árvores na região agrícola. No início da época das chuvas, as culturas agrícolas são introduzidas, intercalando linhas compostas por cultivos agrícolas e árvores, sendo que em cada lado destes são plantados leguminosas, com o intuito de fertilizar o solo e alimentar os animais.
Já na região voltada para os animais, temos novamente uma retirada da vegetação lenhosa excesso, mantendo uma taxa considerável de árvores e mata ciliar. Vale ressaltar, que as plantas forrageiras (para a alimentação do animal), são escolhidas de acordo com a estação do ano, e o animal presente.
A parcela restante da floresta, é manejado sob condição silvipastoril, para a alimentação dos animais, sendo preservado também, um apiário.
Nesse caso, o sistema agrossilvipastoril trouxe diversas vantagens além das já citadas anteriormente, como a redução das queimadas e desmatamento, aumento da estabilidade da oferta de alimentos, maior produção nas épocas de seca, incremento e estabilidade na renda familiar, proteção das nascentes e águas dos rios, e redução do risco de desertificação da Caatinga. Para saber mais sobre esse projeto, acesse a matéria.
A crescente demanda por alimentos, somado ao atual contexto de crise climática, exigem novas alternativas mais sustentáveis para substituir o atual sistema produtivo no campo, que é altamente nocivo ao meio ambiente. Combinando sustentabilidade com produção, o sistema agrossilvipastoril se mostra uma alternativa menos nociva frente ao sistema de produção agropecuário que vemos atualmente, mesmo ainda precisando de muitos avanços para chegar em uma metodologia ideal.
A longo prazo, a produção agrossilvipastoril ainda se mostra mais segura e com o retorno monetário mais constante, além de diversificar a produção. Portanto, com a atual estrutura fundiária brasileira ainda precisando de muitos avanços (no quesito sustentabilidade), o sistema agrossilvipastoril pode ser um importante componente para a transformação de um campo mais biodiverso e menos nocivo.
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