A produtividade lenta pode ser definida como a redução do ritmo de trabalho para aumentar a produtividade e a satisfação do trabalhador. Essa “técnica” é um modo de fazer com que empregados e empregadores repensem sobre o que realmente significa “produtividade”, além de enfatizar a qualidade acima da quantidade.
A Revolução Industrial foi uma grande impulsionadora para o entendimento da produtividade e do ritmo de trabalho. A introdução da ciência e da tecnologia no mercado de trabalho durante o século 17 resultou em melhorias na produtividade e, consequentemente, influenciou a vida como é hoje.
Com o ritmo acelerado do dia a dia, a espera de resultados melhores e mais rápidos é comum. No entanto, diversas pesquisas já demonstraram que esse tipo de mentalidade pode afetar negativamente a saúde humana.
A síndrome de burnout, por exemplo, é um estado de exaustão mental e física resultante da sobrecarga do trabalho. A priorização do trabalho pela saúde mental, embora perniciosa, é relativamente comum — com um relatório de 2021 indicando que 52% dos entrevistados já sofreram de burnout.
Por isso, novos métodos que prezam pelo bem-estar do trabalhador, como a produtividade lenta, começaram a ser explorados.
O livro do jornalista Carl Honoré, “In praise of slowness”, de 2024, evidencia que os pedidos por uma sociedade desacelerada não são novos. Acredita-se que o fenômeno tenha-se iniciado em 1986, quando uma famosa rede de hambúrgueres abriu uma unidade perto da histórica Piazza de Spagna, em Roma.
Consequentemente, um manifesto, personificado pelo fast-food, apelou a uma revolução na desaceleração da vida, que começaria na cozinha. Foi a partir disso, segundo Honoré, que diversos outros movimentos “lentos” começaram a surgir.
Em seu livro, Honoré também fala sobre um dos tópicos que mais afetam o ritmo humano — o trabalho. O autor registra alguns esforços para reduzir a duração da semana de trabalho normal, e nomeia o movimento como “Slow Work” ou “Trabalho Lento”.
“Em todo o lado, e especialmente nas economias com longas jornadas de trabalho, as sondagens mostram um desejo de passar menos tempo no trabalho”, escreve Honoré.
Contudo, o professor de ciência da computação na Universidade de Georgetown, Cal Newport, em um artigo ao The New Yorker, ressalta que a diminuição do tempo de trabalho pode não resolver um dos maiores problemas que levam ao burnout — a sobrecarga de tarefas.
“Ninguém está pedindo para você entrar e sair [do emprego]. Em vez disso, exigem, em algum sentido mal definido, mas urgente, que você seja receptivo e faça as coisas. Esta autonomia permitiu que o trabalho do conhecimento moderno evoluísse aleatoriamente em direção a uma configuração cada vez mais insustentável. A questão nesta evolução não é quantas horas agora você tem que trabalhar, mas o volume de trabalho que lhe é atribuído a qualquer momento”, diz Newport.
Ou seja, estar sempre ocupado não lhe dá tempo para desacelerar.
Foi a partir da pandemia de Covid-19 e da ascensão do trabalho remoto que Newport começou a explorar um novo movimento lento. Segundo o autor, a diminuição da carga horária devido ao aumento de reuniões online resultou em um acúmulo de tarefas insustentável para a maioria dos trabalhadores.
“Neste contexto, os esforços do tipo Slow Work para simplesmente reduzir as horas de trabalho oficiais podem, na verdade, piorar a situação, uma vez que pouco fazem para mitigar o estresse da sobrecarga. O que precisamos é de um movimento para reduzir o volume de trabalho que nos é atribuído – um movimento que chamo de Produtividade Lenta”, escreve.
O principal objetivo do movimento de Produtividade Lenta, segundo Newport, é manter o volume de um trabalhador individual em um nível sustentável. E foi a partir dessa ideia que o professor publicou o livro “Slow Productivity: The Lost Art of Accomplishment without Burnout”.
O livro enfatiza que, para evitar o burnout derivado da sobrecarga do trabalho, é preciso:
Em geral, pessoas que trabalham em um ritmo mais lento podem manter o bem-estar mental e têm mais energia para atingir seus objetivos. Ao praticar a produtividade lenta, acredita-se que as pessoas se tornam mais eficientes – não trabalhando mais ou mais rápido – mas sendo mais inteligentes e priorizando as tarefas que os levam adiante de maneira significativa.
Produzir lentamente impulsiona o ser humano a priorizar a qualidade de seu trabalho, em vez da quantidade.
Além disso, a produtividade lenta também beneficia as empresas. Mesmo que os funcionários não sofram de burnout, eles nem sempre são tão produtivos quanto deveriam ou poderiam ser. A desaceleração pode aumentar a produtividade e melhorar os resultados dos negócios, permitindo mais tempo para se concentrar no que é mais importante para os clientes e outras partes interessadas na empresa.
“Um receio natural é que, ao reduzir a quantidade de trabalho que cada funcionário realiza num determinado momento, possa reduzir a quantidade total de trabalho que uma organização é capaz de realizar, tornando-a menos competitiva. Este medo é infundado.
(…) Quando o volume de trabalho de um indivíduo aumenta, também aumenta a sobrecarga e o estresse que o acompanham, reduzindo tanto o tempo restante para realmente executar as tarefas quanto a qualidade dos resultados. Se, em vez disso, você permitir que o indivíduo trabalhe de forma mais sequencial, concentrando-se em um pequeno número de coisas por vez, esperando até que ele termine antes de assumir novas obrigações, a taxa com que ele conclui as tarefas poderá realmente aumentar”, explica Newport.
O maior desafio para a instalação da produtividade lenta no ambiente de trabalho é a resistência de gestores à ideia.
Porém, o volume de trabalho excessivo para os trabalhadores está incorporado na sociedade, de acordo com Newport, e uma semana de trabalho mais curta, ou simplesmente limitar o número de horas trabalhadas, não resolverá o problema de burnout dos funcionários.
Por isso, as organizações devem considerar abrandar o ritmo do próprio dia de trabalho e gastar menos tempo em trabalhos que não importam.
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