Produtores têm incentivo para adoção de práticas sustentáveis

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Por Marina Torres em Embrapa | Descarbonização tem sido um assunto cada vez mais importante. Mas, afinal, como os produtores rurais podem, na prática, aderir à pecuária de baixo carbono?

O pesquisador Roberto Giolo, da Embrapa Gado de Corte, tem uma explicação simples. “É só fazer o manejo adequado e adotar boas práticas, que automaticamente estaremos fazendo a redução da emissão de carbono”.

A analista Vanessa de Paula, da Embrapa Gado de Leite, explica outro conceito muito falado atualmente, pegada de carbono. “É a quantidade de emissões de dióxido de carbono associadas a uma atividade ou produto, além de outros gases de efeito estufa que são expressos em dióxido de carbono equivalente. Então, para simplificar, fala-se apenas em carbono”.

Para calcular a pegada de carbono de uma atividade pecuária, o primeiro passo é medir as emissões, o que envolve não só as da própria fazenda, mas também as emissões da produção de fertilizantes, combustíveis, eletricidade. “Tudo é computado”, comenta a analista.

A partir dos levantamentos, podem ser adotadas medidas para promover a redução de emissões dos gases de efeito estufa (GEE), com uma produção mais eficiente. Vanessa dá um exemplo simples de como uma fazenda de pecuária de leite pode reduzir sua pegada de carbono com ajustes no rebanho. Se o produtor tem um alto percentual de vacas ‘secas’ (que não estão em lactação) e faz uma alteração no rebanho, com redução desse percentual (por exemplo, de 50% para 30%), já é uma mitigação. Isso porque a pegada de carbono é calculada em relação ao produto. Então, a emissão de gases na mesma área para a produção de um litro de leite será menor.

O pesquisador Giolo ressalta a importância da intensificação da produção a partir da adoção de boas práticas. “É possível produzir mais na mesma área e impactando menos”. Com práticas como recuperação e intensificação de pastagens, Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), pode-se reduzir a emissão de GEE.

Giolo explica que o carbono tem de ser fixado. “Ao invés de haver emissão de gases, é preciso que o carbono fique no sistema. E onde ele fica? No solo. Então, se tem mais biomassa, está feito”. O pesquisador ressalta a importância da matéria orgânica no solo e seus benefícios, dentre eles, a maior retenção de água no terreno.

“Mais carbono fixado significa mais água, mais nutrientes, biodiversidade, mais dinheiro. O carbono é um indicativo da eficiência do sistema. Emitir muito gás é indicativo de ineficiência”, afirma o pesquisador.

Em relação ao mercado externo, uma produção cada vez mais sustentável já é cobrada. E quais seriam as consequências das exigências internacionais? Para o coordenador do Escritório da Embrapa na Europa, Vinícius Guimarães, o Brasil tem plenas condições de atender a essas exigências.

“Contamos com tecnologias, como plantio direto, fixação biológica de nitrogênio, recuperação de pastagens degradadas, intensificação sustentável de produção com ILPF. Temos oportunidades de aumento da produção sem abertura de novas áreas, com ampliação do uso de bioinsumos e condições climáticas favoráveis”. Com todos esses fatores, Vinícius acredita na força do país como potência agrícola. “Temos plenas condições de crescimento e competitividade aliados à sustentabilidade”.

Para a adoção das tecnologias e aumento da eficiência das propriedades rurais, os produtores têm contado com linhas de financiamento e apoio. Em Minas Gerais, o Programa de Agroinovação para o Desenvolvimento Territorial Sustentável (LabAgroMinas) fomenta práticas para a redução das emissões de GEE em uma parceria entre o BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais) e a Embrapa.

“Achamos muito importante a atuação focada em práticas voltadas para a regeneração do solo. O solo atua na manutenção da biodiversidade, na gestão de recursos hídricos, como também no sequestro de carbono”, explica Luísa Lembi, especialista do BDMG.

No Centro-Oeste de Minas, a cooperativa de crédito Sicoob Credinacional firmou uma parceria com o BDMG para oferecer uma linha de crédito aos produtores rurais. “O objetivo é apoiar a transição para práticas de agricultura sustentável, que promovam a construção da fertilidade de solo em médio e longo prazo. O volume de recurso alocado é de sete milhões de reais, e a meta é atender com essa linha 1.500 hectares em nossa área de atuação”, explica Jefferson Ferreira, gerente de negócios do Sicoob Credinacional. 

Os produtores rurais da região de Abaeté-MG puderam conferir todas as informações e orientações sobre pecuária sustentável e também sobre oportunidades de negócios durante o 3º Workshop Rural realizado no último dia 20 de junho. O evento contou com cerca de 70 participantes, entre lideranças, técnicos, produtores e estudantes, numa tarde com palestras e debates. 

A atividade faz parte do projeto de cooperação técnica entre a Embrapa e o Sicoob Credinacional. “Desenvolvido no Centro-Oeste de Minas Gerais, esse projeto promove a aplicação de resultados de pesquisas da Embrapa em fazendas da região e, com o apoio da instituição financeira, busca auxiliar os produtores no desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis, visando a aplicação adequada do crédito rural”, explica o coordenador do trabalho, Sinval Lopes, agrônomo da Embrapa Milho e Sorgo.

Para o presidente do Conselho Administrativo do Sicoob Credinacional, Artur de Andrade, o workshop foi um importante momento da parceria com a Embrapa e reflete o que é possível construir juntos em benefício da comunidade. “Acredito que sementes muito boas foram espalhadas em campo fértil”, conclui Artur.


Este texto foi originalmente publicado pela Embrapa de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Thalles Moreira

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