Produtos químicos eternos podem alterar microbiota e causar doenças para o resto da vida

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Estudos recentes da Universidade Penn State revelaram preocupantes descobertas sobre os efeitos de produtos químicos conhecidos como “produtos químicos eternos” no microbioma intestinal, com implicações severas para a saúde ao longo da vida. Pesquisadores identificaram que a exposição precoce a um poluente orgânico persistente específico, o 2,3,7,8-tetraclorodibenzofurano (TCDF), altera permanentemente a microbiota intestinal em ratos, o que pode levar a doenças metabólicas como obesidade e diabetes tipo 2 na vida adulta.

Os produtos químicos eternos, amplamente difundidos no ambiente, têm origem na incineração de resíduos, produção de metal e combustão de combustíveis fósseis e madeira. Esses poluentes, como o TCDF, acumulam-se na cadeia alimentar, expondo seres humanos principalmente através do consumo de alimentos ricos em gordura, como carnes, laticínios e alguns tipos de peixe. Bebês, por exemplo, podem ser expostos a esses compostos desde cedo pelo leite materno.

Os pesquisadores alimentaram ratos jovens, com apenas quatro semanas de idade, com doses de TCDF durante cinco dias consecutivos. Embora a quantidade administrada fosse mais alta do que a normalmente encontrada na dieta humana, não era suficiente para causar toxicidade direta. No entanto, o impacto no microbioma intestinal foi duradouro, evidenciando uma perturbação significativa. O grupo de controle, que não recebeu TCDF, manteve seu microbioma intacto.

Após três meses da exposição, correspondendo à idade adulta jovem nos ratos, os cientistas avaliaram diversos indicadores de saúde, como peso corporal, tolerância à glicose, triglicérides no fígado e presença de muco nas fezes, todos marcadores de distúrbios metabólicos. Os ratos que haviam sido expostos ao TCDF durante a juventude apresentaram maior peso corporal e intolerância à glicose.

Os resultados se tornaram ainda mais alarmantes quando os cientistas transplantaram o microbioma alterado de ratos expostos ao TCDF para ratos que não tinham microbioma. Esses ratos transplantados também desenvolveram distúrbios metabólicos, sugerindo que as alterações no microbioma eram, de fato, a causa das doenças observadas.

Um ponto importante dessa pesquisa foi a descoberta de que o TCDF reduziu significativamente a presença de Akkermansia muciniphila, uma bactéria essencial para a saúde intestinal. A ausência dessa bactéria foi associada a problemas de saúde, como intolerância à glicose e aumento de peso. Para verificar a importância dessa bactéria, os cientistas administraram Akkermansia muciniphila como probiótico em ratos tratados com TCDF. O tratamento restaurou o equilíbrio do microbioma e melhorou os indicadores de saúde dos animais.

Essas conclusões sugerem que a exposição precoce a produtos químicos como o TCDF pode ter efeitos de longo prazo na saúde, influenciando o surgimento de doenças metabólicas na vida adulta. Além disso, apontam para a possibilidade de desenvolver tratamentos baseados em probióticos para restaurar o equilíbrio do microbioma e, possivelmente, prevenir essas doenças.

A pesquisa, publicada na revista Environmental Health Perspectives, foi financiada por diversas instituições, incluindo os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos e o Departamento de Saúde da Pensilvânia. A equipe multidisciplinar envolveu especialistas em bioquímica, biologia molecular e microbiologia de diversas universidades, reforçando a relevância e o impacto do estudo na compreensão dos riscos associados aos produtos químicos persistentes.4o

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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