Cientistas do Institute of Environment, nos Estados Unidos, mediram a quantidade de poluentes presentes na água potável conhecidos como perfluoroalquil e polifluoroalquil (PFAS) e encontraram cerca de 30 diferentes tipos deles.
“Não queremos causar alarme ou assustar as pessoas”, disse a professora assistente de química, Natalia Soares Quinete. “Nosso objetivo é fornecer os dados necessários sobre o estado atual de nossa água, para que as pessoas estejam cientes desses contaminantes e saibam de onde eles vêm.”
Os PFAS incluem milhares de diferentes produtos químicos sintéticos, usados principalmente em produtos industriais e de consumo. Eles são encontrados em tudo, desde embalagens de fast food, utensílios de cozinha antiaderentes, maquiagem à prova d’água, roupas, adesivos, espumas de combate a incêndio e muito mais. Conhecidos como “produtos químicos persistentes”, os PFAS são problemáticos porque se acumulam com o tempo na água, no ar, no solo — e até no sangue humano.
Como o corpo humano também pode acumular PFAS, esses produtos químicos são conhecidos por afetar a reprodução e o desenvolvimento, o funcionamento do sistema imunológico, interferir na eficácia das vacinas e causar danos ao fígado e aos rins.
Os EUA retiraram gradualmente a produção de dois PFAS especialmente prejudiciais — PFOS e PFOA — depois que eles foram associados a efeitos adversos à saúde. Além disso, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês) estabeleceu um nível de recomendação de saúde para água da torneira de 70 partes por trilhão (ppt) para esses dois PFAS específicos combinados.
Porém, a professora Quinete aponta que o limite de recomendação de saúde da EPA não leva em consideração os muitos outros PFAS mais novos que ainda estão sendo usados hoje. Muitos podem ser tóxicos em pequenas quantidades — tão baixas quanto 1 parte por trilhão.
Os níveis médios totais de PFAS que ela encontrou na água da torneira foram 86,3 ppt. Um total de 242 ppt foi encontrado na água da torneira coletada na área de Grapeland Heights, próximo ao Aeroporto Internacional de Miami. Dania Beach, localizada a poucos quilômetros do Aeroporto Internacional de Fort Lauderdale-Hollywood, teve a segunda maior concentração de PFAS de 124 ppt.
Os níveis totais de PFAS foram mais baixos — com média de 57,7 ppt — nas amostras de água da torneira coletadas em Key Biscayne, Kendall, Cutler Bay e área de Princeton. West Palm Beach, Lake Worth, Boynton Beach e Boca Raton também tiveram uma concentração média total de PFAS inferior de apenas 40,3 ppt.
O PFAS mais predominante na água da torneira do sul da Flórida foi o PFBA, que em estudos anteriores se acumulou nos pulmões e afetou o sistema imunológico. Atualmente, porém, é regulamentado apenas em Minnesota.
Além de testar a água potável, Quinete e os alunos de seu laboratório também coletaram água na Baía de Biscayne e nos canais vizinhos. A quantidade total média de PFAS foi 46,3 ppt. Embora os níveis não fossem tão altos como na água potável, a baía já enfrenta outros problemas de poluição e qualquer quantidade de poluição PFAS é motivo de preocupação.
“Precisamos criar uma imagem completa de todos os tipos de contaminantes que existem na Baía de Biscayne, especialmente o PFAS”, disse Quinete. “Esses poluentes específicos são capazes de causar danos reais, pois podem afetar a saúde dos animais, levando a problemas neurológicos, de desenvolvimento e até interferindo na reprodução”.
Quinete diz que mais pesquisas são necessárias sobre a ocorrência de PFAS no sul da Flórida, especialmente porque as descobertas levantaram mais questões sobre as fontes de PFAS na água potável e se eles estão presentes nos Everglades — uma das principais fontes de aquíferos da Flórida, abastecendo água potável para oito milhões de habitantes da Flórida (o que não impede que essas substâncias estejam presentes em abundância também na água engarrafada).
Como um dos poucos pesquisadores no sul da Flórida trabalhando com PFAS, Quinete investigará esta questão — e muito mais — para reunir os dados necessários para desenvolver diretrizes e procedimentos para controlar e reduzir PFAS na Flórida.
“PFAS não foi amplamente pesquisado aqui e há apenas alguns estudos sobre sua distribuição e ocorrência no sul da Flórida”, disse Quinete. “Nosso objetivo é fornecer as informações necessárias para chegar a possíveis soluções e novos regulamentos para começar a eliminá-los ou removê-los de nosso ambiente.”Os resultados foram publicados na Science of the Total Environment.
Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.
Saiba mais