Professores criam site em defesa da ciência

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Com participação de docentes da USP e de outras instituições, “A Terra é Redonda” quer combater a anticiência

Imagem: Reprodução

Tendo em vista o fortalecimento recente, no Brasil e no mundo, de movimentos anticientíficos – como os defensores de que a terra é plana, os chamados “terraplanistas”, e os contrários às vacinas -, um grupo de professores da USP e de outras universidades criou o site A Terra é Redonda, um espaço para a expressão da academia brasileira contra o pensamento que nega a ciência.

Já com textos de mais de 250 autores publicados e um time de quase 40 colunistas, o site é uma publicação sem fins lucrativos, que pretende abrir espaço para a intervenção pública dos intelectuais na sociedade. Os assuntos são tão diversos quanto os autores, tendo foco em temas ligados a política, economia, cultura e sociedade.

“Um dos princípios do site é que ele é contra o terraplanismo geral, não exatamente o pensamento de que a Terra é plana, mas a anticiência”, afirma o professor Ricardo Musse, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, editor-adjunto do site, explicando o nome escolhido para o projeto. “Terraplanismo é a ideia de que tudo é opinião e não há um saber que possa ser comprovado, e hoje estamos vendo isso na saúde, na economia, no dia a dia. É uma ideologia apartidária. Há terraplanismo de direita, de centro e de esquerda, e somos uma oposição a essa forma de pensar.”

O site surgiu em outubro do ano passado, graças aos esforços conjuntos de Musse, de Artur Scavone, jornalista responsável, e de Ricardo Maciel, administrador do Sindicato dos Médicos de São Paulo e coordenador geral do site.

Segundo Musse, dois professores da USP foram essenciais para o estabelecimento do projeto, ao concordar em atuar como colunistas exclusivos do site: Marilena Chauí e André Singer, docentes do Departamento de Filosofia e do Departamento de Ciência Política da FFLCH, respectivamente. Outros dois professores participaram desse esforço inicial: o economista Luiz Carlos Bresser Pereira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e o filósofo Michael Löwy, do Centre National de la Recherche Scientifique, de Paris, na França.

A partir daí o site começou a ampliar a equipe de colunistas. “Agora temos mais de 250 colaboradores, que incluem desde alunos de graduação a Professores Eméritos de universidades de praticamente todos os Estados do Brasil e também do exterior”, conta Musse. “Conseguimos transformar isso em um empreendimento da universidade pública brasileira.”

Docentes da USP participam em peso do site, que conta com nomes de diversas unidades da Universidade, como Eleutério Prado e Leda Paulani, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), Vladimir Safatle, da FFLCH, Eugênio Bucci, Marilia Fiorillo e Celso Frederico, da Escola de Comunicações e Artes (ECA), Afrânio Catani, da Faculdade de Educação (FE), Paulo Capel Narvai, da Faculdade de Saúde Pública (FSP), Fábio Konder Comparato e Alysson Mascaro, da Faculdade de Direito (FD), entre outros.

Universidades federais também participam do site em grande número. O projeto conta com professores das Universidades Federais do Rio de Janeiro (UFRJ), da Paraíba (UFPB), de Minas Gerais (UFMG) e do ABC (UFABC). A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) também entra na lista, com professores como Armando Boito e Fernão Ramos.

Entre os textos já publicados em A Terra é Redonda estão, por exemplo, A primavera libertária, de Rubens Pinto Lyra, da UFPB, que comenta sobre o Maio de 68 francês e suas repercussões nas revoltas do século 21, e O fascismo nas Américas, de Paulo Butti de Lima, da Universidade de Bari, na Itália, que analisa o impacto da política dos Estados Unidos no resto do continente. Há também as séries Literatura na Quarentena e Cinema na Quarentena, que trazem dicas culturais para ajudar as pessoas a enfrentar o isolamento social.

A Terra é Redonda tem seu próprio podcast, apresentado por professores que aprofundam assuntos abordados no site e trazem novos temas para discussão, como a devastação do cerrado brasileiro. Os professores também fazem análise de livros. O tema da epidemia aparece nos podcasts, como ocorre no episódio intitulado A reflexão artística sobre a peste.

Além dos textos dos colaboradores e colunistas, o site também publica traduções de obras de autores como Thomas Piketty e David Harvey. Também reproduz textos de autores nacionais e internacionais, como Antonio Candido e Antonio Gramsci. Musse comenta que, por não ter fins lucrativos, o site depende do trabalho voluntário de tradutores, mas há planos de remunerar esse trabalho. “A ideia é montar em breve um crowdfunding para remunerar as traduções, porque não vamos aceitar publicidade.”

Musse explica que A Terra é Redonda é um site apartidário. “Já postamos artigos de autores que vão do centro até o anarquismo. A diversidade de tendências políticas é bem-vinda”, conta. “O site é uma reação dos setores da universidade à campanha de descrédito da ciência e da academia que se formou nos últimos anos. Nessa campanha da arma contra o livro, nós nos posicionamos contra a arma e a favor do livro.”


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