Por Mauro Bellesa em IEA USP – Entre julho e agosto, a USP apresentará à sociedade uma agenda de temas prioritários para a elaboração de políticas públicas que atendam às metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos na Agenda 2030 da ONU.
Não será um livro branco, com a definição de ações a serem implementadas, mas sim um repertório de questões a serem debatidas, detalhadas e aprofundadas na elaboração de políticas públicas por cidades, estados, regiões e pelo país como um todo, segundo o coordenador-geral do Programa Eixos Temáticos da USP, o professor Marcus Buckeridge, diretor do Instituto de Biociências e integrante da Assessoria do Gabinete do Reitor (AGR), à qual o programa é vinculado.
Além de ser colocado à disposição da sociedade, o documento será encaminhado como uma proposta da USP aos candidatos à Presidência de República e aos governos estaduais. Será entregue também às mesas diretoras do Congresso Nacional e das assembleias legislativas estaduais.
O trabalho não será encerrado com elaboração do documento, segundo Buckeridge: “A itens de agenda serão referência para futuras pesquisas e detalhamento de propostas que contribuam para o desenvolvimento do país de forma sustentável, com o objetivo de promover a redução de desigualdades e a melhoria da qualidade de vida da população.”
Temas
O programa teve início com definição de 11 grandes temas, baseados nos 17 ODS: Agronegócio, Desigualdades, Democracia, Cidades, Cultura e Artes, Educação, Economia, Energia, Indústria, Meio Ambiente e Saúde. Cada tema é vinculado a subitens de três ODS, o que permite uma articulação integral entre as duas esferas temáticas.
Haverá um seminário no IEA quando da conclusão dos trabalhos de cada grande tema (eixo), para apresentação dos resultados à comunidade.
Além de Buckeridge, outros dois integrantes da AGR coordenam o programa: os professores Bruno Caramelli, da Faculdade de Medicina, e Célia Garcia, da Faculdade de Ciência Farmacêuticas. Os três já escolheram os docentes que coordenarão cada eixo temático [veja tabela abaixo]. Os dois níveis de coordenação contam com docentes de 17 unidades de ensino e pesquisa da USP, o que demonstra o grau de interdisciplinaridade da iniciativa, que deve aumentar substancialmente com a incorporação de dez docentes a cada tema, os quais poderão contar com a colaboração de pós-doutorandos e pós-granduandos.
Metodologia
Para a definição dos itens de agenda em cada tema, será adotada a mesma metodologia empregada na produção do Guia das Cidades Sustentáveis – Eleições 2020 pelo Centro de Síntese USP Cidades Globais (USP-CG) (do IEA), do qual Buckeridge é um dos coordenadores. O guia foi elaborado para subsidiar as administrações dos prefeitos e a atuação dos vereadores escolhidos nas eleições municipais há dois anos.
No início, os pesquisadores de cada eixo temático trabalhão em workshops para o estabelecimento de uma série de nexos (articulação de três aspectos; por exemplo: educação-emprego-renda). Três desses nexos serão propostos para cada ODS e depois serão definidas três ações necessárias em cada nexo. Considerados os nexos e ações, serão propostos itens de agenda para cada ODS. A relação de itens será depurada por meio de análise da correlação entre eles e as metas de cada ODS. Ao final do processo, cada eixo temático terá uma série de itens de agenda relacionados a três ODS [veja o diagrama acima].
TEMA | COORDENADORES |
---|---|
Agronegócio | Francisco Palma Rennó (FMVZ) e Gerd Sparovek (Esalq) |
Cidades | João Sette Whitaker Ferreira (FAU) e Pedro Roberto Jacobi (IEE) |
Cultura e Artes | José Teixeira Coelho Neto (ECA) e Martin Grossmann (ECA) |
Democracia | Cibele Saliba Rizek (IAU) e Cícero Romão (FFLCH) |
Desigualdades | Ana Elisa Bechara (FD) e Vladimir Safatle (FFLCH) |
Economia | Fábio Frezatti (FEA) e Rudinei Toneto Junior (FEARP) |
Educação | Marcos Neira (FE) e Tadeu Fabrício Malheiros (EESC) |
Energia | José Roberto Cardoso (Poli) e Suani Teixeira Coelho (IEE) |
Indústria | João Fernando Gomes de Oliveira (EESC) e Vanderley Moacyr John (Poli) |
Meio Ambiente | Ana Maria de Oliveira Nusdeo (FD) e Jean Paul Metzger (IB) |
Saúde | Berenice Bilharinho de Mendonça (FM) e José Sebastião dos Santos (FMRP) |
Desdobramentos
O documento com os itens de agenda será a referência para as fases seguintes do programa, subsidiando a elaboração de novas propostas de pesquisa, produção de bancos de dados e outras iniciativas. Um dos trabalhos já previstos é a indexação de todas as teses (de doutorado e de livre docência) e dissertações de mestrados que abordaram temas caros às metas dos ODS. A indexação será feita a partir do Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, que contém 105 mil documentos, defendidos desde 1942. Segundo Buckeridge, esse trabalho será feito por meio de software específico, capaz de identificar termos e expressões presentes no texto integral das teses e dissertações. Trabalho similar já foi feito pelo USP-CG sobre o tema cidades, a partir de 1.500 teses e dissertações produzidas desde 1967.
As possibilidades de trabalhos derivados do programa são inúmeras, diz Buckeridge. Algumas atividades são naturalmente exigidas, como a estruturação de serviços de comunicação que permitam a divulgação dos resultados à sociedade de forma ampla.
Para ele, o Programa Eixos Temáticos é mais uma das ações relevantes da Universidade para o diálogo com a sociedade: “Muitas pessoas não conhecem os diversos projetos e pesquisas da USP – muitos deles articulados com setores da sociedade – voltados ao desenvolvimento sustentável, redução de desigualdades e melhoria da qualidade de vida da população”.
Exemplo disso são algumas atividades desenvolvidas pelo Centro de Síntese USP Cidades Globais, disse. É o caso dos seminários do ciclo UrbanSus (Sustentabilidade Urbana) sobre pesquisa a respeito dos moradores de rua da cidade de São Paulo, que tratou não só realidade vivida por eles, mas também do diálogo entre pesquisadores e técnicos de várias áreas envolvidos na assistência à população em condição de rua.
Outro caso mencionado por Buckeridge, desta vez relacionado a questões estruturais do Brasil que precisam ser revistas, foi o envio de quatro pós-doutorandos à Alemanha, para estudar as peculiaridades do sistema federativo alemão e sua possível aplicação no contexto brasileiro. Iniciado no IEA e depois desenvolvido em parceria com várias entidades, sendo o Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS Brasil) uma das principais, o trabalho será apresentado no seminário Pacto Federativo: Municípios para a Agenda 2030, no dia 29 de abril, às 9h, com transmissão ao vivo pela internet..