Isaías José de Lima Neto, mais conhecido como “Miro”, é pescador da Barra de Sirinhaém, em Pernambuco, município do nordeste brasileiro com cerca de 14 mil habitantes, onde as principais atividades econômicas são a cana-de-açúcar e a pesca.
Todas as manhãs, às 5 da manhã, seu navio “Joací”, que é o nome de seu irmão mais velho, sai para o mar. Há dias em que o turno inclui dormir no mar, antes de voltar para a terra firme.
Miro aprendeu a ser pescador com o pai, que por sua vez aprendeu com seu pai. Desde a morte do pai no ano passado, pescar para ele, além de ser seu ganha-pão, é uma forma de lembrança.
Miro tem 40 anos e desde os 13 trabalha como pescador e como mestre na confecção de redes de pesca ou “tremenda dor”, como são informalmente chamados na localidade. Miro, assim como centenas de famílias da região, vive da pesca, principalmente do camarão.
A pesca na Barra de Sirinhaém está associada a outras tarefas importantes. Há quem cuide dos galpões por onde chega o peixe, quem se encarregue da limpeza, quem compre, também os chamados “pombeiros” que têm pontos de venda, quem se encarregue de distribuir a produção, entre outras funções.
“A pesca é a atividade laboral e fonte de vida de várias famílias do município”, afirma.
Miro faz parte de um grupo de cerca de 450 pescadores de arrasto de Pernambuco e Alagoas, que tem apoio da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco, e financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente, no projeto de manejo sustentável de capturas acidentais em pesca de arrasto (REBYC) em Pernambuco.
O projeto, que envolve um total de seis países e organizações regionais da América Latina e do Caribe, visa melhorar a gestão das capturas acidentais e apoiar o desenvolvimento sustentável da pesca de arrasto e das pessoas que dela dependem.
O objetivo é reduzir as perdas de alimentos e promover meios de subsistência sustentáveis, melhorando a gestão das capturas acidentais e reduzindo as devoluções e danos ao fundo do mar, transformando assim a pesca de arrasto de fundo em pesca responsável.
Começos difíceis – Miro reconhece que, quando vieram apresentar o projeto, inicialmente houve um pouco de resistência por serem forasteiros.
“Por sugestão de outro pescador, o professor Fábio Hazin, a equipe da FAO e da Universidade Federal Rural de Pernambuco vieram me procurar enquanto eu estava fazendo redes e queriam me mostrar a experiência de pesca mais sustentável, por meio de treinamentos sobre temas de manejo e um dispositivo nas redes”, explica.
“No início fiquei desconfiado, porque eram pessoas externas que vinham intervir na forma como sempre tínhamos feito as coisas, na forma como nos ensinaram a fazer. Houve pescadores que se opuseram, mas aos poucos fomos trabalhando a confiança”, diz.
Miro e seus colegas perceberam que com a implementação das recomendações de manejo da rede e a incorporação do dispositivo, a pesca teve melhores resultados do ponto de vista ambiental, sem diminuição na produtividade do camarão.
“Fiquei curioso com o projeto e percebi que essa informação poderia nos ajudar, que fazia sentido. Começamos a mudar o conceito da pesca predatória para a pesca sustentável”, conte Miro.
Com a nova metodologia implantada, sem reduzir a captura de camarão, foi possível diminuir, em algumas redes, mais de 60% da fauna que acompanha o camarão.
“Me juntei ao projeto REBYC quando vi que eles estavam trazendo um novo conceito, que atendia tanto a área de reserva ambiental quanto a área de pesca. É uma iniciativa que me permite pescar hoje e continuar pescando no futuro, além de preservar o meio ambiente. Assim poderei sempre pescar e meus filhos e netos poderão ver os mesmos peixes que vejo no mar. Gosto muito de trabalhar com a FAO, a universidade, e de perceber que há pessoas com estudos que também entendem a pesca e o seu valor, esteja ou não no mar”, afirma o pescador.
Novo estudo da FAO – O projeto de manejo sustentável da pesca acidental implantado no Brasil, atualmente trabalha com 55 comunidades em 15 estados, que representam mais de 90% da captura de camarão do país.
O trabalho realizado com a assistência da FAO e com o apoio do Fundo Global para o Meio Ambiente foi destacado em uma nova publicação Rumo à Agricultura Sustentável e Resiliente na América Latina e no Caribe, lançada neste semana.
O relatório revela, por meio da análise de sete experiências de produção sustentável e resiliente na região, que existem opções que permitem uma transformação da agricultura, que não afetam a produtividade ou a lucratividade, e que, pelo contrário, em muitos casos ampliam a economia, benefícios sociais e de inovação.
Este material é uma homenagem a Fabio Hazin, coordenador do projeto Rebyc no Brasil, que nos deixou devido a complicações da COVID-19. Nossas condolências a sua família e a família de todos aqueles que nos deixaram nesta pandemia.
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