Por Paula Guatimosim em Faperj – A fim de auxiliar gestões ambientais e restaurar ambientes aquáticos, uma equipe composta por pesquisadores das áreas de Biotecnologia e Ciências Naturais da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e da área de Tecnologia Ambiental da Universidade Federal Fluminense (UFF) desenvolveu um projeto de jardins flutuantes, empregando plantas aquáticas que atuam na retirada de contaminantes. Uma solução que alia o paisagismo à recuperação ambiental.
Inovador, o projeto “Caiapé Jardins Flutuantes” obteve o segundo lugar no HackAçu, uma maratona de inovação on-line, promovida pelo Porto do Açu, complexo portuário inaugurado no município de São João da Barra, em 2014. A competição tem o objetivo de encontrar ideias que auxiliem no desenvolvimento socioeconômico e sustentável de Campos dos Goytacazes e São João da Barra, ambos municípios do Norte Fluminense. A maratona, que aconteceu no final de outubro de 2021, propôs desafios nas áreas do meio ambiente; pessoas e comunidade e negócios sustentáveis.
Glacielen Ribeiro, engenheira ambiental e doutoranda em Biotecnologia Vegetal, que conta com apoio do programa de Pós-Graduação – Doutorado – UENF – 2021 da FAPERJ para o desenvolvimento de suas pesquisas, explica que a equipe da Caiapé vem se dedicando ao estudo do processo de interação entre microrganismo e plantas para fins de biorremediação de metais e glifosato. “Nosso projeto consegue abranger os aspectos socioambientais e econômicos de forma harmônica, propondo uma solução para remediar corpos hídricos contaminados”, pontuou Glacielen. Segundo ela, a equipe está estudando o desenvolvimento de um bioinoculante que, em associação às plantas aquáticas – como a Salvinia auriculata – aumentará o potencial biorremediador e a capacidade de absorver metais pesados, enterobacter e glifosato da planta.
Analyse Villanueva, engenheira ambiental, doutoranda em Biotecnologia Vegetal que também conta o apoio do programa de Pós-Graduação – Doutorado – UENF, esclarece que o projeto é flexível e pode ser adaptado a vários ambientes. Na prática, para que seja implantado um jardim flutuante é necessário realizar a análise da água em laboratório e escolher a macrófita mais eficaz para remediar o problema encontrado no curso d’água. Ela explica que o projeto também se adapta a corpos de água corrente, quando são escolhidas plantas que se fixam às margens – como Typha domingensis – e/ou outras espécies que podem ser “ancoradas”. Tais plantas também contribuem para fitorremediar e melhorar a qualidade do ar, acrescenta Analyse.
A bióloga e doutoranda em Biotecnologia Gabriela Petrocelli, que também integra a equipe do Caiapé, destaca que os jardins flutuantes podem ajudar na depuração das águas nos ambientes naturais e também servirem de bioindicadores. Ela dá o exemplo dos canais existentes em Campos dos Goytacazes, que muitas vezes recebem esgoto sanitário residencial e se tornam ricos em matéria orgânica, sendo um ambiente propício ao crescimento de macrófitas. “O problema é que essas plantas precisam ser manejadas; há um limite saudável para sua população, caso contrário passam a reduzir o oxigênio na água, torná-la turva e com mau cheiro; favorecer a proliferação de insetos, e colocar em risco a fauna aquática. Muitas vezes, isso leva a população a eleger o local como depósito de lixo, o que piora mais ainda o problema”, alerta a pesquisadora.
Além de o projeto prever a coleta e análise da água, a seleção de plantas, a implantação do sistema em interação com a comunidade, também comtempla a destinação correta dos resíduos. A implantação do sistema com a ajuda de moradores locais ajuda a promover a sensibilização ambiental. Segundo Glacielen, outro diferencial da aplicação da tecnologia no local é que o tratamento é realizado no próprio ecossistema contaminado, sem desviar o curso do corpo hídrico. Já a manutenção é realizada de forma periódica, por uma cooperativa de reciclagem treinada pela Caiapé, que fará a coleta de plantas excedentes para a formação de adubos em composteiras, destinadas ao reflorestamento e jardins ornamentais. Glacielen esclarece que enquanto a compostagem de resíduos orgânicos provenientes da horticultura, por exemplo, leva em média 45 dias, a compostagem da macrófitas se dá em uma a duas semanas. Entretanto, no caso de plantas usadas em cursos d’água com metais pesados, o adubo resultante da compostagem não deve ser usado em hortas e pomares, mas apenas no paisagismo, como, por exemplo, no projeto de reflorestamento a ser desenvolvido pela prefeitura de Campos dos Goytacazes.
Wanderson Primo de Sousa, gerente de Relacionamento com a Comunidade do Porto do Açu diz que a ideia do HackAçu é estimular a cultura de inovação local, mobilizando estudantes, universitários, professores, comunidade e profissionais do mercado a usar o potencial criativo para solucionar desafios que tragam melhorias e impacto positivo à região. Tal inciativa, acrescenta ele, está alinhada à missão do Porto do Açu, de promover o desenvolvimento das cidades e da comunidade do entorno do empreendimento.
“Os jovens são as mentes criativas, ousadas, com espírito transformador, que vão trazer as soluções para conservar o meio ambiente, recuperar e acelerar a economia pós-pandemia, otimizar o setor de energia na região e criar novas competências para desenvolver todo o Norte Fluminense”, diz Sousa.
Segundo ele, que é mestre em Biociências e Biotecnologia, os principais desafios ambientais do Porto do Açu são o desenvolvimento das Unidades de Conservação, fundamentais para a manutenção de serviços ecossistêmicos, abrigo de recursos naturais e biodiversidade e estímulo ao turismo sustentável. Em sua opinião, além da beleza cênica notável gerada pelos jardins flutuantes, eles são úteis na gestão ambiental por meio da retirada de impurezas in loco e do aproveitamento, por meio da compostagem, em plantios de recomposição florestal.
No momento, os pesquisadores que desenvolveram o Caiapé Jardins Flutuantes vão iniciar a captação de recursos para testarem o protótipo do projeto. “Inicialmente, seremos uma empresa júnior ou startup. Com todos os problemas ambientais da atualidade e a busca por soluções sustentáveis, acreditamos no potencial de mercado e no retorno socioambiental da execução do projeto”, acredita Gabriela Petrocelli. Além de Gabriela, Glacielen e Analyse, compõem ainda a equipe da Uenf o biomédido, doutorando em Biociência e Biotecnologia Francisnei Pedrosa e a bióloga, doutoranda em Ciências Naturais Ingrid Siqueira. O grupo conta ainda com a colaboração do biólogo, mestrando em Tecnologia Ambiental Álef Sousa, da UFF.
Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.
Saiba mais