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Por IPAM Amazônia —  As cadeias produtivas do cacau e do açaí estão entre as principais da região amazônica, sendo o Estado do Pará o maior produtor. Em visita à cidade de Cametá, no oeste paraense, a equipe do projeto AFD Cadeias mapeou os riscos da expansão econômica – hoje, insustentável – do cultivo de açaí e ressaltou a importância da adoção de melhores práticas no setor.

O município é o segundo maior produtor de açaí do Brasil e pretende expandir sua produção para áreas de várzea e ilhas, como afirma o secretário de administração de Cametá, Odilon do Socorro Coelho. Em todo o Pará, maior produtor de açaí e de cacau do país, esses ciclos de produção são fundamentais na geração de renda para agricultores familiares e para extrativistas e representam elementos culturais centrais para a região.

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Bacuri: fruta amazônica faz bem à saúde

Apesar da reconhecida importância das cadeias produtivas do açaí e cacau, há inúmeros desafios a serem superados, sendo a necessidade de geração e de integração de dados confiáveis uma delas. Por isso, o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), em parceria com a Sedap (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca do Pará) e com a Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), financiado pela Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), está analisando a situação de ambas as cadeias em municípios paraenses para subsidiar estratégias capazes de aumentar seu impacto socioeconômico e ambiental dentro do Estado.

Segundo a diretora adjunta de Desenvolvimento Territorial do IPAM, Lucimar Souza, devido à relevância do açaí para a economia e para a nutrição da população, “agroindustrializar e exportar os produtos que fazem parte da dieta do povo local pode ser um caminho perverso com as comunidades amazônicas caso não sejam previstas medidas preventivas”.

Em visita às principais cidades produtoras de açaí no Pará, pesquisadores do IPAM constataram que, devido ao rápido crescimento na exportação, os preços do produto na cidade aumentaram 200% em menos de oito anos. “As cadeias do açaí e do cacau são fundamentais ao Pará, tanto em termos de volume de produção quanto de população envolvida no processo, uma vez que trata-se de dois sistemas produtivos praticados por muitas famílias nas áreas rurais”, diz o secretário adjunto da Sedap, Lucas Vieira.

No entanto, atualmente um dos obstáculos para que as cadeias produtivas sejam justas e inclusivas está relacionado à carência de informações e de dados integrados. Essa organização interfere diretamente na capacidade de formulação de programas e de políticas públicas adequadas para o avanço desses setores.

“Informações qualificadas e reunidas sobre a real situação dessas cadeias, e sobre os desafios que as circundam, nos darão a capacidade de propor estratégias e ações mais assertivas, de influenciar tomadores de decisão e, consequentemente, de auxiliar no aprimoramento dos processos de produção e de venda na região paraense”, explica Souza.

“Ouro roxo”

Nas últimas décadas, o consumo de açaí tornou-se um fenômeno global. Devido aos seus benefícios para a saúde, a fruta se popularizou em todas as regiões do Brasil e em países da Europa e América do Norte. 

Em 2019, o Brasil produziu cerca de 1,39 milhão de toneladas de açaí. Se considerarmos os cultivos em áreas plantadas e extrativistas, o Pará corresponde a 94% dessa produção. Apelidado de “ouro roxo”, o cultivo e a extração do açaí são essenciais para a renda de pequenos produtores e para o desenvolvimento econômico nos municípios. 

Essa é uma cadeia que beneficia cerca de 300 mil produtores em todo o país e que, se considerada apenas a produção de polpa, poderia ter uma lucratividade de até 1.500 dólares por hectare/ano, segundo o cientista Carlos Nobre

Os batedores de açaí, contudo, se encontram ameaçados pelo avanço de grandes empresas processadoras que colocam em risco seu trabalho artesanal e informal. “Esses dados mostram a necessidade de fortalecer o papel dos batedores dentro da cadeia, começando pela avaliação do impacto real desses empreendimentos na economia do Pará”, aponta Souza.

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Estão localizadas nos Estados do Pará e da Bahia cerca de 90% das fazendas produtoras de cacau no Brasil, empregando centenas de milhares de pessoas em mais de 400 mil hectares cultivados, segundo dados da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Além disso, a cacauicultura paraense cresce rapidamente, passando de 18% do total brasileiro de cacau em 2005 para 53% em 2018. Por esse motivo, a cadeia de cacau também foi tema do projeto. 

Mesmo se tratando do sétimo maior produtor de cacau do planeta, o Brasil ainda precisa expandir sua produção para acomodar o seu consumo doméstico. Esse processo é dificultado pela falta de coordenação entre cadeias produtivas e de lacunas de informação. 

Portanto, parte da atuação do IPAM será o de avaliar a contribuição da cadeia do cacau à economia do Pará. Além disso, o projeto tem analisado os benefícios socioeconômicos da cacauicultura e o seu potencial na recuperação de áreas por meio de sistemas agroflorestais, capazes de diversificar a renda dos produtores, aumentar a segurança nutricional e gerar serviços ecossistêmicos múltiplos.


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