Parentes podem retirar composto para plantá-lo no quintal, dando continuidade ao ciclo da vida
O processo de sepultamento de corpos, comum desde os tempos mais primórdios, não é um método ambientalmente correto. Com a inserção dos cadáveres em caixões, às vezes cheios de enfeites (muitos deles feitos com metais) e as possíveis irregularidades em cemitérios, há soterramento de metais pesados e percolação (passagem de um líquido pelo solo ou por pedras permeáveis) de necrochorume (chorume proveniente da decomposição de corpos humanos). Tudo isso polui o solo e os lençóis freáticos.
A fundadora do projeto estado-unidense Urban Death, Katrina Spade, acredita que corpos humanos podem ter um fim mais sustentável: a compostagem. Assim, da mesma maneira que fazemos com cascas de fruta e outros restos de comida na composteira doméstica, os corpos, em um ambiente especial, podem oferecer benefícios nutritivos à terra, incentivando o crescimento de novas plantas.
Esse local especial é um edifício com um núcleo de três andares para acomodar os corpos para o início da compostagem do corpo humano. É necessário que o corpo não seja embalsamado, pois sua composição natural é de extrema importância para o processo, que ocorre de forma contínua em conjunto com outros corpos. Após serem colocados no topo do edifício, eles se decompõem em apenas algumas semanas e se transformam em um composto rico em nutrientes. O resultado do processamento pode ser coletado logo abaixo da estrutura do edifício após cerca de um mês; é neste momento que ele estará pronto para fazer parte do ciclo da vida, nutrindo o solo. O projeto dá a opção aos familiares de levarem os compostos para serem colocados em seus próprios jardins, de forma a manterem um laço afetivo com seus entes queridos.
No início do projeto, houveram algumas dificuldades, como a questão de metais pesados usados como enchimentos que devem de ser retirados antes do processo e, agentes patogênicos que, mesmo com o processo da compostagem, podem sobreviver.
O projeto tem a intenção de solucionar a superlotação dos cemitérios trazendo alternativas sustentáveis, baseando-se na transformação de cadáveres humanos em adubo, além de oferecer um espaço de contemplação, que nos ajuda na despedida com o ente, conectando-o com ciclo da vida. É uma grande ideia sustentável, entretanto enfrenta um grande tabu: a morte.