A professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Maria Luiza Vilela Oliva, e outros pesquisadores da instituição encontraram, nas sementes da árvore conhecida como orelha-de-macaco, uma proteína com capacidade de inibir ao menos cinco tipos de cânceres: mama, próstata, melanoma (câncer de pele), colorretal e leucemia.
A proteína da inusitada árvore foi batizada como Enterolobium contortisiliquum inibidor de tripsina (EcTI, em inglês). “Denominamos o EcTI como inibidor de tripsina porque essa foi a enzima modelo que começamos a estudar, por ser mais barata. Mas ele está patenteado como inibidor de várias proteases. Também patenteamos sua ação contra o câncer”, disse Maria Luiza.
A proteína foi isolada pela primeira vez na pesquisa de doutorado da professora, ainda no final dos anos 1980. A função antitumoral só veio a ser descoberta apenas no início dos anos 2000 e patenteada quatro anos depois.
“Estávamos buscando moléculas capazes de inibir a ação de proteases – enzimas cuja função é quebrar as ligações peptídicas de outras proteínas. Essas moléculas estão envolvidas em inúmeros processos fisiológicos e patológicos no organismo; um inibidor poderia ter efeitos terapêuticos interessantes”, comentou a professora.
A proteína já foi utilizada em diversos testes in vitro na inibição de cânceres, alcançando ótimos resultados. “Antes de migrar para outros tecidos, a célula tumoral precisa aderir ao tecido conjuntivo que lhe dá suporte. O EcTI bloqueia proteases presentes na matriz extracelular e a via de sinalização usada pelo tumor nesse processo sem afetar os fibroblastos, que são as células sadias desse tecido conjuntivo”, explicou Maria Luiza.
A proteína demonstrou bons resultados também no processo de tratamento do câncer. Quando associada ao quimioterápico 5-Fluoracil, necessitou-se de uma dose 100 vezes menor do que a tradicional, o que representa uma grande redução nos efeitos colaterais do tratamento. Além disso, constatou-se função antitrombótica na proteína. A trombose é uma doença comum em pessoas submetidas à quimioterapia.
“Essa proteína inibe a ação da calicreína, enzima que desencadeia o processo de coagulação sanguínea e também ativa a agregação plaquetária. O efeito foi verificado tanto em um modelo de trombose arterial, em ratos, como de trombose venosa, em camundongos”, contou a pesquisadora.
Outros estudos, realizados na FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), avaliaram a ação do EcTI sobre inflamações pulmonares e encontraram resultados animadores. Em outra pesquisa, também se revelou boas perspectivas quanto à sua ação sobre a doença de Chagas.
As pesquisas devem continuar a todo vapor. Os testes ainda não mostraram nenhuma reação alérgica nos ratos, porém, os pesquisadores alertam para a imprevisibilidade da reação da proteína em humanos.
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