Proteína microbiana: a carne sustentável

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A proteína microbiana é produzida por microrganismos através de um processo de fermentação de carbono e substratos que contêm nitrogênio. Utilizada na alimentação humana, ela age principalmente como uma alternativa mais sustentável e saudável da carne. O alimento, além de oferecer micronutrientes similares ao da proteína animal, também possui textura e gosto parecidos com a carne.  

Seu desenvolvimento foi uma resposta à degradação ambiental causada pela indústria agropecuária, uma vez que ela apresenta a mesma função da carne sem a maioria dos impactos relacionados à sua produção.

Produzida em biorreatores, a proteína microbiana pode ser feita a partir de fungos (cogumelos), algas, leveduras ou biomassa celular bacteriana simples que são alimentados com açúcar e sua produção e fermentação é similar à da cerveja e outros alimentos populares. Sendo assim, uma fonte de proteína vegetal que pode ser aproveitada em dietas veganas e vegetarianas.

Os benefícios da dieta sem carne

Quorn® 

Quorn® é um tipo de proteína microbiana chamada de micoproteína, criada a partir do fungo Fusarium venenatum e que é rica em fibras e possui pouca gordura saturada. Criada em 1985, a empresa distribuidora do Quorn® é uma das pioneiras na fabricação e distribuição dessa proteína microbiana, e garante que seu produto oferece diversos benefícios para a saúde e para o meio ambiente. 

Sendo uma carne sustentável, a micoproteína emite 95% CO2 a menos que a carne convencional, uma vez que não conta com o desmatamento para campos de pasto e com a comida e água necessárias para alimentar gado. 

De acordo com o site da empresa, a pegada de carbono do Quorn® é 40 vezes menor que a da carne de boi, além de levar 30 vezes menos água na sua produção. Em 2012, a sua pegada de carbono foi reconhecida pela Carbon Trust, tornando-se a primeira fonte de proteína sem carne a ser creditada pela conquista. 

A Quorn® é uma empresa inglesa e que tem seus produtos distribuídos em alguns países da Europa, Oceania e América do Norte. 

Sustentabilidade 

A produção de proteína animal contribui para diversos agravantes do aquecimento global, incluindo a emissão de gases do efeito estufa — como o metano e o dióxido de carbono. Além disso, entre as principais causas para a insustentabilidade da agropecuária estão o desmatamento, o uso da água e de fertilizantes à base de nitrogênio, que liberam óxido nitroso na atmosfera.

Uma pesquisa realizada pelo Potsdam Institute for Climate Impact Research na Alemanha comprovou que a substituição de 20% da carne por proteína microbiana poderia reduzir o desmatamento pela metade. 

Proteína derivada dos cogumelos pode reduzir o desmatamento

O estudo foi baseado em modelos de computador, onde a demanda de carne e outros fatores socioeconômicos eram considerados. A análise dos cientistas conseguiu provar que a substituição de apenas um quinto da produção de carne pela proteína microbiana até 2050 poderia reduzir o desmatamento em até 56% — o equivalente a 78 milhões de hectares. 

Outros modelos provaram que o corte de 50% na produção de carne poderia reduzir o desmatamento em 82% até 2050.

Substituto da soja

Os nutrientes obtidos na produção da proteína microbiana podem ser úteis para o gado também, possivelmente substituindo a soja na alimentação da agroindústria. 

A soja é um dos principais agravantes do desmatamento por conta de sua demanda no mercado. É estimado que cerca de 20% da Amazônia tenha perdido sua vegetação original para o plantio do alimento. 

Enquanto a soja também seja utilizada para o consumo humano, apenas 6% de sua produção é destinada a esse fim. Por outro lado, cerca de 80-90% da soja produzida é plantada como alimento do gado. Deste modo, a substituição da soja pela proteína microbiana pela soja possibilitaria a recuperação de áreas verdes degradadas pela agricultura, além de diminuir todo o impacto ambiental derivado da agropecuária. 

Nutrição 

A proteína microbiana, além de ser uma fonte de proteínas, também é constituída por outros micronutrientes essenciais, como fibras, vitaminas, carotenos e carboidratos. Por serem relativamente baixas em gorduras saturadas, elas também oferecem benefícios em relação à substituição da carne. 

De acordo com um estudo publicado em 2020, o consumo excessivo de carne e produtos de origem animal pode ser prejudicial à saúde humana, com evidências relacionadas ao câncer, doenças do coração, doenças metabólicas, obesidade, diabetes e a episódios de acidente vascular cerebral. 

Portanto, a substituição na produção de carne pela proteína microbiana poderia ser benéfica tanto para a saúde humana, quanto para a ambiental. 

Enquanto o seu surgimento teve origem na década de 70, a comercialização da proteína microbiana ainda não é tão popular na indústria proteica, principalmente no Brasil. Para que essa substituição seja viável, é necessário um investimento na área de produção e distribuição desse produto, para que ele possa exercer o seu papel dentro da alimentação nacional — e internacional. 

Júlia Assef

Jornalista formada pela PUC-SP, vegetariana e fã do Elton John. Curiosa do mundo da moda e do meio ambiente.

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