Protetor solar biodegradável é seguro para o meio ambiente?

Na hora de se proteger dos raios solares, optar por um protetor solar biodegradável é uma forma de diminuir os impactos ambientais que seus componentes causam.

O uso regular do protetor solar é uma maneira de cuidar não só da pele, mas também da saúde. Os benefícios estão relacionados ao combate ao envelhecimento precoce, às manchas e às queimaduras causadas pelo Sol e, principalmente, ao câncer de pele.

Quais são os efeitos do sol na pele?

O papel do protetor solar é, como o próprio nome sugere, proteger a pele e suas camadas, contra a radiação ultravioleta (UV). A radiação UV, presente na luz solar, é dividida em duas: UVA e UVB. Enquanto a radiação UVA é quem faz o bronzeamento da pele, a radiação UVB é a responsável pela vermelhidão. Nesse sentido, os raios UVA envelhecem enquanto os raios UVB causam queimaduras. 

Vale lembrar que nos horários mais amenos e na quantidade certa, tomar sol é importante e benéfico a saúde.

Os raios UVB são absorvidos também pela camada de ozônio, que funciona como uma camada protetora. Um dos impactos causados pela poluição atmosférica é o enfraquecimento da camada de ozônio, com a formação de um buraco que, em 2023, atingiu três vezes o tamanho do Brasil

Além de causar efeitos nocivos à pele, os raios UV também podem causar problemas nas córneas, cataratas e outras doenças oculares.

Imagem de Freepik

Qual é a diferença entre um protetor solar biodegradável e um comum?

Existem dois principais tipos de protetores solares: orgânicos e inorgânicos. 

A palavra “orgânico” é usada popularmente para se referir a produtos que consumimos e impactam positivamente na saúde e no meio ambiente. Entretanto, é fundamental reforçar que o termo “orgânico”, usado para os protetores solares, remete às substâncias químicas na sua composição, que são componentes orgânicos. E não quer dizer que esses produtos sejam ecologicamente corretos.

Os protetores inorgânicos, também conhecidos como minerais, funcionam como uma barreira física. São, geralmente, compostos de óxido de zinco e dióxido de titânio, e suas partículas são capazes de refletir ou dispersar a radiação solar, protegendo a pele. 

Além disso, o produto se mantém na camada superficial da pele, reduzindo irritações cutâneas e mantendo sua fotoproteção eficaz. Os protetores solares vendidos como biodegradáveis são, comumente, do tipo mineral. Além desses dois elementos, outras fórmulas, baseadas também na nanotecnologia, com compostos biodegradáveis, podem ser usadas.

Já os protetores orgânicos funcionam quimicamente. Suas moléculas absorvem a radiação solar e a convertem numa radiação de baixa energia, como a radiação infravermelha, por exemplo, que resulta em calor. O grande problema relacionado ao uso de protetores orgânicos é sua composição química, que envolve compostos como a oxibenzona, o octocrileno, a avobenzona, o octinoxato, entre outros.

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Quais são os impactos da oxibenzona no corpo humano?

A oxibenzona é um composto orgânico (ou substância química), formada por estruturas de carbono e ligações covalentes com outros elementos. Umas das aplicações mais comuns desse composto é como filtro de radiação ultravioleta (UV). 

A oxibenzona é encontrada em filtros solares e outros cosméticos com proteção solar, como protetores labiais, cremes antissinais, bases, bb creams, entre outros. Além disso, por ter um cheiro adocicado, também é utilizado em produtos de limpeza, tanto pelo perfume, quanto pela proteção à degradação por raios UV.

Além disso, esse composto orgânico também é usado em fixadores de perfumes e aditivos alimentares. Nos Estados Unidos, a proibição do composto, como aromatizante, foi feita em 2018. 

Outros nomes, como benzofenona-3 ou BP-3, podem aparecer nas embalagens dos produtos, mas são apenas nomenclaturas diferentes para o mesmo composto. Algumas embalagens de produtos, vendidos nacionalmente, mantêm sua lista de componentes em inglês. Nesse caso, esse composto pode aparecer como benzophenone ou oxybenzone.

Composto mutagênico, cancerígeno e desregulador endócrino

Um estudo, de 2021, publicado na Chemical Research in Toxicology (CRT), reforça que a benzofenona é um composto mutagênico, cancerígeno e um desregulador endócrino. De acordo com os pesquisadores, não existe uma quantidade mínima que possa ser usada em segurança em produtos cosméticos, incluindo protetores solares

Segundo os pesquisadores, o benzofenona é gerado por uma reação química de outro composto: o octocrileno (octocrylene). Os pesquisadores listaram 17 produtos, de marcas famosas, que possuem octocrileno em sua composição. Produtos que, inclusive, são populares no Brasil. A lista de produtos pode ser consultada clicando no estudo citado.

Nesse sentido, a benzofenona é considerada um contaminante encontrado no próprio octocrileno, usado na fabricação dos produtos. A degradação do octocrileno, causada pelo envelhecimento dos produtos, é a segunda forma de gerar benzofenona.

O octocrileno não é encontrado apenas em produtos com proteção solar, mas também em xampus e condicionadores, sprays para cabelos e óleos bronzeadores.

Nos testes, realizados pela pesquisa, ficou comprovado que a benzofenona é um agente cancerígeno. 

Além disso, o composto e suas metabolizações, benzidrol e p-hidroxibenzofenona (benzhy-drol e p-hydroxybenzophenone) são potenciais disruptores endócrinos, ou seja, alteram o sistema endócrino e as funções hormonais do corpo.

Quais são os impactos da oxibenzona no meio ambiente?

Em relação ao meio ambiente, a benzofenona também é um contaminante significativo. O composto atinge os ecossistemas marinhos de muitas formas, por meio de filtros solares, cosméticos e perfumes.

O descarte da embalagem desses produtos também é um problema.

Pesquisadores da Florida Gulf Coast University (FGCU) divulgaram, em 2023, um estudo sobre os impactos ambientais da oxibenzona (benzofenona). Os dados mostram que o componente sofre bioacumulação, sendo encontrado em animais marinhos. Já nas plantas, ele atrapalha a fotossíntese, inibe a germinação de sementes e compromete o desenvolvimento vegetal.

O estudo, divulgado pela CRT, aponta outros contaminantes, além da benzofenona e do octocrileno: a avobenzona (avobenzone), a oxibenzona (oxybenzone) e o octinoxato (octinoxate). Esses dois últimos foram banidos do Havaí em 2018, por prejudicarem o desenvolvimento e causarem o branqueamento de corais.

Em 2019, as autoridades do arquipélago Palau baniram o uso de protetores solares que contenham, em sua fórmula, compostos que causem degradação ambiental. O país, que fica na região da Micronésia, no Oceano Pacífico, foi pioneiro na decisão e uma série de produtos, incluindo a oxibenzona, estão proibidos no país.

No Brasil, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) também impôs algumas regras importantes para a visitação do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha. Uma delas é a proibição do uso de dermocosméticos, incluindo o protetor solar, durante a visitação às piscinas naturais. São ambientes sensíveis e devem ser preservados.

O protetor solar biodegradável é seguro para o meio ambiente?

Um estudo, realizado em 2020, no estado de Quintana Roo, no México, analisou a toxicidade e os perigos à vida marinha, causados pelo uso de protetores solares. Quintana Roo faz parte da Península de Yucatán, banhada pelo mar do Caribe. É um local de turismo massivo, envolvendo principalmente atividades aquáticas, que só permite o uso de protetor solar biodegradável.

Os pesquisadores testaram os efeitos tóxicos de nove produtos, em quatro espécies de zooplâncton da região. Quatro produtos eram biodegradáveis e os outros cinco não biodegradáveis. 

Os dados mostraram que espécies de água doce são mais sensíveis aos compostos presentes nos protetores, em comparação a espécies marinhas. Além disso, os produtos que não se decompõem pela ação de agentes biológicos representaram um alto risco para a vida marinha. Por outro lado, os protetores solares biodegradáveis não ficaram isentos, apresentando um risco moderado às espécies. Ou seja, também são tóxicos, porém em menor grau.

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Filtro solar à base de plantas

Apesar de ainda não existir um protetor solar 100% eco-friendly, inúmeras pesquisas estão sendo realizadas, buscando na própria natureza elementos que possam mudar a perspectiva atual.

Apenas no Brasil, em 2023, foram publicados vários estudos sobre o uso de diversas plantas, analisando seus fatores fotoprotetores. 

Alguns deles, por exemplo, envolvem o extrato da folha de lúpulo, extrato de sementes de Moringa Oleífera, extratos etanólicos de própolis vermelho e de pimenta-rosa, óleos de pupunha e de licuri e ainda, algumas plantas da Caatinga.

Isso quer dizer que a solução pode estar na própria natureza.

Bruna Chicano

Cientista ambiental, vegana, mãe da Amora e da Nina. Adora caminhar sem pressa e subir montanhas.

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