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Psicodélicos podem ser utilizados no tratamento de transtornos mentais, mas será que oferecem riscos? Descubra

Os psicodélicos, também conhecidos como alucinógenos, são uma classe de substâncias psicoativas capazes de alterar as percepções sensoriais, processos cognitivos e níveis de energia. Na maioria dos casos, eles possuem uso recreacional, embora ilegais.

O termo “psicodélicos” foi cunhado por Humphrey Osmond na década de 50. Ele indica que as substâncias têm uma capacidade de manifestação da mente, revelando propriedades úteis ou benéficas. 

Contudo, a noção de suas propriedades benéficas só foi redescoberta recentemente. De fato, algumas instituições científicas ainda não apoiam pesquisas sobre propriedades potencialmente úteis desses compostos.

Isso aconteceu principalmente na guerra às drogas, que começou nos anos 70, e no uso ilegal de drogas recreacionais.

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Uso dos psicodélicos ao longo da história

O seu uso possui uma longa história, voltando séculos atrás onde as substâncias eram principalmente utilizadas dentro de cerimônias religiosas para que indivíduos passassem por estados espirituais ou elevados de consciência. 

Durante a década de 60, entretanto, a comunidade médica passou a mostrar interesse pelos usos de substâncias psicodélicas dentro da psicologia. Porém, possíveis ensaios clínicos foram interrompidos durante a guerra às drogas e só foram reintroduzidos no conhecido “renascimento psicodélico”, nos anos 90.

“Muitas pessoas se lembram vagamente de que o LSD e outras drogas psicodélicas já foram usados ​​experimentalmente em psiquiatria, mas poucos percebem quanto e por quanto tempo foram usados. Esta não foi uma moda rapidamente rejeitada e esquecida. 

Entre 1950 e meados da década de 1960, houve mais de mil artigos clínicos discutindo 40 mil pacientes, várias dezenas de livros e seis conferências internacionais sobre terapia com drogas psicodélicas. Despertou o interesse de muitos psiquiatras que não eram de forma alguma rebeldes culturais ou especialmente radicais em suas atitudes”, Psychedelic Drugs Reconsidered, 1979. 

Antes dos avanços médicos, os psicodélicos eram chamados de “psicotomiméticos”. Esse termo pejorativo sugeria que as substâncias causavam um estado mental parecido com a psicose. Porém, a partir de inúmeros ensaios clínicos, foi comprovado que esses compostos não obtinham esse efeito quando controlados.

Tipos de psicodélicos 

Existem diversos tipos de psicodélicos — alguns que ocorrem naturalmente em plantas ou fungos, e outros que são sinteticamente produzidos em laboratórios. Alguns deles são: 

  • LSD (ácido): alucinógeno sintetizado quimicamente, desenvolvido a partir do ergot, uma espécie de mofo que cresce no grão de centeio;
  • DMT (dimetiltriptamina): droga triptamina alucinógena, com origem em plantas presentes na América Central, América do Sul e em partes da Ásia, como a Chacrona (Psychotria viridis) e o Jagube (Banisteriopsis caapi);
  • Psilocibina (cogumelos mágicos): uma substância natural encontrada em cogumelos;
  • Mescalina: alucinógeno sintetizado a partir de algumas espécies de cactos, como o peiote, originário do México; 
  • Ecstasy (3,4-metilenodioximetanfetamina): também conhecido como MDMA ou “droga do amor”, mais utilizado por seus efeitos estimulantes, mas também pode induzir alucinações e delírios.

Efeitos dos psicodélicos 

Como droga ilícita e recreativa, muitas vezes em uma dosagem alta, uma substância psicodélica é responsável por diversos efeitos, como:

  • Perceção de tempo alterada; 
  • Dificuldade de comunicação; 
  • Alucinações ópticas, táticas e sonoras;
  • Falta de racionalidade; 
  • Náusea; 
  • Experiências sensoriais mistas (por exemplo, ver sons);
  • Aumento de energia; 
  • Experiências religiosas;
  • Experiências sensoriais vívidas.
  • Sentimentos de euforia;
  • Relaxamento; 
  • Aumento de energia;
  • Confusão e problemas na concentração;
  • Dormência; 
  • Batimentos cardíacos rápidos ou irregulares.

Por outro lado, o abuso de substâncias psicodélicas pode resultar em alterações de consciência mais severas, incluindo nervosismo, paranoia e sentimentos de pânico.

Benefícios medicinais 

Através de diversas pesquisas sobre os efeitos dessas substâncias na saúde, especialistas conseguiram comprovar benefícios associados ao uso controlado de psicodélicos. Stevens Rehen, membro da Sociedade Internacional para Pesquisa em Psicodélicos e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, por exemplo, afirmou em 2021 que “em breve, teremos o uso de psicodélicos aprovados na psiquiatria”. 

Na maioria dos casos, elas podem ser usadas no tratamento de transtornos associados à saúde mental e outras condições, como: 

  • Transtorno do estresse pós-traumático (TEPT); 
  • Transtornos de humor;
  • Transtornos por uso de substâncias;
  • Sofrimento psicológico associado a doenças potencialmente fatais;
  • Dores crônicas. 

Uma pesquisa realizada pelo Champalimaud Centre For The Unknown levantou questões sobre o uso de psicodélicos no tratamento desses transtornos. 

“Até agora, as terapias psicodélicas têm sido em grande parte confinadas ao domínio da investigação e dos estudos clínicos. Mas isso parece prestes a mudar. Já estamos testemunhando o uso off-label de cetamina, antes vista apenas como um anestésico, no tratamento da depressão e de transtornos por uso de substâncias, apesar da falta de diretrizes claras, de aprovação formal das agências reguladoras e de recomendações relativas ao apoio psicológico”, disse Albino Oliveira-Maia, chefe da Unidade de Neuropsiquiatria da Fundação Champalimaud.

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Transtorno perceptivo persistente por alucinógenos 

Um dos efeitos mais perigosos das drogas psicodélicas, seja pelo seu uso contínuo ou não, é o desenvolvimento do transtorno perceptivo persistente por alucinógenos (HPPD, na sigla em inglês). O transtorno é caracterizado por um efeito prolongado ou, muitas vezes, constante da droga utilizada.

Possíveis riscos

Segundo uma pesquisa de 2016, os psicodélicos são “poderosas substâncias psicoativas que alteram a percepção e o humor e afetam vários processos cognitivos. Geralmente são considerados fisiologicamente seguros e não levam à dependência ou vício”. 

Por isso, não levam à dependência química. Porém, acredita-se que pessoas sob efeito de drogas ilícitas com essas características podem criar tolerância e efeitos de abstinência através do uso contínuo. 

Além disso, as “experiências psicodélicas” dessas substâncias não são os seus maiores efeitos. Alguns usuários podem contar com um ou vários de uma série de efeitos colaterais, que variam de moderados a graves.

A psicose induzida por psicodélicos pode persistir em algumas pessoas. Esses indivíduos podem enfrentar problemas contínuos de saúde mental, como paranoia, alteração de humor e distúrbios visuais. Em alguns casos, o abuso dessas substâncias também pode desencadear outros transtornos, incluindo a esquizofrenia. 

Assim, é importante notar que o uso dessas substâncias para tratar qualquer condição deve ser feito apenas com supervisão profissional qualificada. 


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