Psilocibina é uma substância psicoativa presente em cogumelos que muda a percepção da realidade e pode ter efeitos terapêuticos
Psilocibina é uma substância psicoativa presente em cogumelos pertencentes ao gênero Psilocybe, que possui mais de 100 espécies. Por seu caráter psicoativo e alucinógeno, os cogumelos são comumente chamados de cogumelos mágicos. No entanto, há cogumelos com substâncias psicoativas que não são psilocybes, são os cogumelos do gênero Amanita que possuem a substância psicoativa chamada muscimol.
A psilocibina pode ter efeitos diversos no corpo, como a distorção da realidade. E, apesar de ser uma substância ilegal em muitos países, pesquisas já apontaram seus possíveis efeitos terapêuticos.
De onde vem a psilocibina?
A psilocibina está presente em cogumelos alucinógenos do gênero Psilocybe. No Brasil, o mais comum é o Psilocybe cubensis. Ele é comum em pastagens pois instala-se em matérias como o esterco de bovinos e equinos.
Além dos pastos, ele também pode surgir em depósitos de esterco, jardins (embora seja raro) e florestas com alta umidade no solo. A espécie Psilocybe mexicana cresce comumente em terrenos alagados na região do México.
Como a psilocibina age no corpo
A psilocibina, quando ingerida e absorvida pelo intestino, é convertida em psilocina. A psilocina atua sobre os receptores do cérebro, induzindo efeitos psicodélicos. Ela ativa os receptores de serotonina principalmente no córtex pré-frontal. Essa parte do cérebro afeta o humor, a cognição e a percepção.
Assim, a psilocibina pode distorcer a forma como algumas pessoas que a ingerem percebem objetos e pessoas. Depois de em média 20 a 30 minutos da ingestão, seus efeitos começam a aparecer, o que pode incluir alucinações, distorções visuais e auditivas, percepções táteis, como formigamento ou calor, e sinestesia.
As pessoas que ingerem psilocibina frequentemente descrevem uma expansão da consciência e uma percepção diferente sobre o eu e o universo, como a sensação de unidade e interconexão. Todos esses efeitos podem ser vivenciados por um período de quatro a oito horas – o tempo que a psilocibina fica ativa no corpo.
Essas reações também fazem com que a psilocibina esteja ligada a experiências místicas. Diversas pessoas utilizam a substância buscando a expansão da consciência e uma experiência com algo sagrado.
A potência dos efeitos da psilocibina, no entanto, depende de diversos fatores, tais como as espécies de cogumelo, as condições de crescimento, o período de colheita, a dosagem e também a forma como o organismo individual de cada indivíduo pode reagir. Com determinada dosagem, as pessoas podem experimentar efeitos diversos, inclusive alguns benéficos, segundo a ciência.
Efeitos da psilocibina
Os cogumelos possuem risco de desencadear problemas mentais e emocionais, bem como causar acidentes. Tudo isso dependerá da procedência dele e também da dosagem, que é difícil medir, pois pode variar de cogumelo para cogumelo.
A psilocibina pode produzir efeitos positivos e negativos, tais como:
- Euforia;
- Paz;
- Emoções mudando repentinamente;
- Sensação de que o ambiente não é real;
- Sensação de estar desligado do ambiente;
- Pensamento distorcido;
- Alterações visuais, como halos de luz e cores vivas;
- Pupilas dilatadas;
- Sonolência;
- Concentração prejudicada;
- Falta de coordenação;
- Tontura;
- Dor de cabeça;
- Aumento da frequência cardíaca, pressão arterial e temperatura;
- Náusea;
- Bocejos;
- Fraqueza muscular;
- Sentido distorcido de tempo;
- Experiências introspectivas;
- Reações de pânico;
- Paranoia;
- Psicose;
- Nervosismo.
Terapia com psilocibina
A psilocibina, ainda que insegura e ilegal, já foi apontada em algumas pesquisas como uma possibilidade para uso terapêutico. Substâncias alucinógenas desse tipo são utilizadas há centenas de anos por diversas culturas e tradições religiosas, como prática de medicina e de rituais espirituais.
A descoberta do LSD na década de 1940 intensificou as pesquisas e investigações sobre os possíveis usos de substâncias psicoativas na saúde mental. De 1940 a 1960, vários estudos sobre a psilocibina, entre outras substâncias, foram feitos, mas interrompidos pela aprovação da Lei de Substâncias Controladas em 1970.
Somente anos mais tarde as pesquisas retomaram a investigação sobre a psilocibina. E, em 2006, pesquisadores concluíram que a substância é geralmente segura e pode ter um impacto positivo no bem-estar.
Em 2016, um estudo publicado no Journal of Psychopharmacology indicou que a terapia com psilocibina foi associada a uma redução significativa nos sintomas de ansiedade e depressão. Além disso, a substância melhorou o bem-estar espiritual, aumentou a qualidade de vida e diminuiu o sentimento de desesperança em pessoas com câncer.
Outro estudo também investigou o uso de psilocibina, aliada ao suporte psicológico, e constatou que a substância pode ser eficaz no tratamento da depressão, à medida que revive a capacidade de resposta emocional.
Uma pesquisa feita com acompanhamento também mostrou efeitos duradouros da substância. Nesse estudo, mais de 70% dos participantes descreveram a terapia com psilocibina como uma das experiências mais pessoais e espiritualmente significativas de suas vidas. Similarmente, um estudo da Universidade de Yale comprovou um aumento duradouro de 10% nas conexões entre neurônios em camundongos com testes com psilocibina, o que mostra o potencial da substância no tratamento de condições relacionadas à saúde mental.
Por fim, uma pesquisa realizada por pesquisadores do Centre for Psychedelic Research do Imperial College London mostrou que a psilocibina pode ser tão eficaz quanto um dos medicamentos antidepressivos mais utilizados, o escitalopram. A pesquisa envolveu uma comparação entre os efeitos da sessão de terapia com psilocibina e o uso do antidepressivo por seis semanas.
O grupo que participou da sessão com psilocibina recebeu uma dosagem oral do medicamento em um ambiente clínico especializado enquanto ouviam uma lista de reprodução de música e eram orientados por uma equipe de apoio psicológico. Os resultados mostraram que, quando os escores de depressão foram reduzidos, as reduções ocorreram mais rapidamente no grupo de participantes que utilizaram psilocibina.
As pessoas tratadas com a substância mostraram melhorias em uma série de fatores, incluindo a capacidade de sentir prazer, expressar emoções, maiores reduções na ansiedade e ideação suicida e também aumento da sensação de bem-estar.
Psilocibina é legal no Brasil?
No Brasil, a Lei 11.343/06, que cuida de crimes relacionados às drogas, lista as substâncias proibidas no país. Entre elas, encontram-se a psilocibina e a psilocina. Portanto, assim como em diversos outros lugares do mundo, a substância é ilegal e ainda carece de estudos para que seu uso possa ser aprovado e possivelmente feito com fins terapêuticos.