Por Ana Carolina Bastida e Mônica C. Ribeiro, da Página 22
Nos últimos anos, a palavra bioeconomia aparece com cada vez mais frequência, apontada como uma das soluções possíveis para manter a Amazônia de pé. Essa economia da floresta precisa, além de conservar a maior floresta tropical do mundo, gerar alternativas de trabalho e renda para as populações que vivem na região, dando-lhes qualidade de vida para que não se vejam enredadas em atividades predatórias da floresta pela falta de opções.
Não há uma solução única para alavancar a bioeconomia na região. É preciso haver atuação de diversos atores – dinamizadores, financiadores, academia, investimento social privado, organizações da sociedade civil, poder público –, além de empreendedores e empreendedoras que vejam oportunidades na conservação da floresta e no uso de seus ativos e saberes.
Conhecer o perfil dos pequenos e médios negócios que trazem impactos positivos para a floresta e suas populações é importante para entender as reais necessidades e os desafios que eles enfrentam para se estruturar e ganhar escala e, desse modo, concretizar a potência da bioeconomia.
Os negócios de impacto positivo que atuam na região amazônica são bastante diversos, não só nos setores de atuação, mas também no grau de desenvolvimento em que se encontram. Trata-se de um setor novo no País, que crescentemente atrai atenções por conta da onda ESG, pela emergência climática e pelo interesse de uma nova geração de investidores e de consumidores que, mais do que consumir marcas, querem a garantia de que elas geram impacto positivo e contribuem para a transformação.
É em busca desses negócios que a Amaz Aceleradora de Impacto tem promovido chamadas anuais para aceleração e investimento. Em 2022 foi realizada a segunda chamada, que recebeu 96 inscrições, vindas de 15 estados brasileiros e também do Distrito Federal, sendo 26 delas originadas do Amazonas e 20 do Pará. São Paulo e Rondônia registram 10 e 5 inscrições, respectivamente. O processo possibilita inscrições de outros estados não localizados na Amazônia Legal, desde que se comprometam a atuar na região em até seis meses após o início da aceleração.
Embora a aceleradora busque negócios em operação, mesmo que em fases iniciais, iniciativas em fase de ideia ou validação de ideia também se inscreveram. A maior parte dos negócios inscritos está na fase de organização ou buscando tração.
Entre os inscritos que mais se encaixam na tese de investimento e impacto da aceleradora, há um número maior de negócios liderados por pessoas residentes ou de origem nos estados da Amazônia Legal em comparação ao ano anterior.
Impacto e modelos de negócio
Nas cadeias de valor abordadas diretamente pelos negócios inscritos estão produtos e serviços socioambientais, artesanato, arte e moda sustentável, produtos alimentícios, soluções tecnológicas para captação de investimentos, blockchain, óleos e manteigas, açaí e outras palmeirasetc.
Em 20 das iniciativas inscritas, a comunidade na qual o empreendimento está inserido ou que fornece matéria-prima para o negócio torna-se uma sócia relevante. E em 45 delas, a comunidade é consultada, embora não participe das decisões e da gestão do negócio.
Em 71,8% dos negócios há mulheres na liderança, e em 84,3% há pessoas negras e indígenas. A faixa etária das lideranças inscritas têm maior concentração entre 35 e 39 anos, mas há presença de pessoas entre 19 e mais de 65 anos.
As iniciativas se conectam também por todos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, sendo que o mais frequentemente acionado é o ODS 8 (trabalho digno e crescimento econômico), seguido pelo 12 (consumo e produção responsáveis).
Dos 96 inscritos, 24 declaram não possuir nenhuma prática de monitoramento do impacto que causam, mas 36 declaram coletar e analisar indicadores de processo e/ou operação do negócio; 12 deles dizem possuir indicadores de resultados/impactos socioambientais definidos, enquanto 13 informam tomar decisões com base na avaliação dos impactos.
Boa parte das iniciativas tem como modelo de negócio B2C (consumidor final como público alvo) – 61 delas se declaram assim. Na sequência, 53 negócios declararam ter como modelo B2B (venda para empresas), e 40 deles B2B2C (empresas que fazem parcerias com outras empresas para chegar ao consumidor).
Muitas das iniciativas operam em mais de um modelo de negócio, e destacam-se ainda empresas B2G (vendem para órgãos públicos) e C2C (negociação direta entre consumidores).
Quanto à natureza jurídica dos empreendimentos inscritos, registra-se a presença de sociedades limitadas, simples e anônimas, cooperativas, associações, microempreendedores individuais e empresa individual de responsabilidade limitada (Eireli).
Dos 96 inscritos, 64 apresentam faturamento na faixa de R$ 1 mil a R$ 500 mil; seis entre R$ 501 mil e R$ 2 milhões; e dois entre R$ 2,1 milhões e R $10 milhões.
A soma do faturamento anual dos 96 negócios inscritos é de cerca de R$ 13 milhões, e a demanda total de investimento deles é de R$ 22,5 milhões. Dos negócios inscritos, 42 têm entre zero e 2 anos de atuação.
Um ponto que se destaca no pipeline das inscrições deste ano são negócios cuja atuação se dá em setores como produtos e serviços (13 deles) e soluções tecnológicas (9), o que pode ser um reflexo do aumento da demanda por soluções relacionadas a carbono e um olhar de setores de tecnologia para a Amazônia.
A Amaz inicia agora a etapa final do processo de seleção da chamada 2022, que inclui a realização de diligências para aprofundamento na análise dos empreendimentos em dimensões de modelo de negócio, equipe e governança, finanças e impacto socioambiental. Esse é também um momento de aprendizagem mútua e trocas entre o time da aceleradora, empreendedores e comunidades impactadas pelos negócios.
Serão selecionados 12 negócios para a etapa final do processo da Chamada, que passarão por uma pré-aceleração na qual serão trabalhados modelo de negócio e matriz de indicadores de impacto. Até seis deles serão escolhidos para receber aceleração e investimentos de até R$ 600 mil.
Conhecer o perfil dos negócios de impacto com atuação na Amazônia é fundamental para que o ecossistema consiga se estruturar de modo otimizado e colaborativo, buscando atender os diversos empreendedores e empreendedoras em suas diferentes demandas e estágios de desenvolvimento.
Além de acelerar e investir nos negócios selecionados pela Chamada, a construção desse pipeline traz subsídios importantes para estruturar o apoio necessário para aterrissar o impacto positivo que a floresta em pé gera para a região, para o país e para o planeta.
A Amaz é coordenada pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Idesam), e conta com um fundo de financiamento híbrido (blended finance) de R$ 25 milhões para investimento em negócios de impacto nos próximos cinco anos, o primeiro voltado exclusivamente para a região.
Tem como fundadores e parceiros estratégicos Fundo Vale, Instituto Humanize, Instituto Clima e Sociedade (ICS), Good Energies Foundation, Fundo JBS pela Amazônia e Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA). Conta também com uma ampla rede de parceiros como Move.Social, Sense-Lab, Mercado Livre, ICE, Costa Brasil, Climate Ventures e investidores privados.
Este texto foi originalmente publicado pela Página 22 de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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