As queimadas na Amazônia são causadas por fatores sociais e geopolíticos, e estão no centro da emergência ambiental vivida no século XXI.
A queima de biomassa florestal como prática agropastoril utilizada no meio rural, por exemplo, é uma técnica recorrente e antiga no Brasil e uma das principais causas das queimadas na Amazônia. Trata-se de uma estratégia que se caracteriza como um dos principais contribuintes mundiais para a emissão de gases do efeito estufa.
Nos últimos anos, o crescimento das queimadas na Amazônia despertou grande atenção para o problema. Essa prática afeta o equilíbrio dos ecossistemas presentes na região, a saúde humana e, consequentemente, o planeta.
A Amazônia possui características geográficas e ambientais distintas do resto do país. Essas condições favorecem a exposição da população amazônica, tornando-as mais vulneráveis aos efeitos das queimadas. Entenda as principais causas e consequências das queimadas na Amazônia brasileira e a situação atual dessa prática no País.
A Amazônia é uma região de 8 milhões de km2 que se estende por nove países da América do Sul e compreende um conjunto de ecossistemas, no qual a bacia hidrográfica do Rio Amazonas e a Floresta Amazônica estão envolvidas. Além de abrigar a maior biodiversidade do planeta, a Amazônia é responsável por fornecer inúmeros serviços ecossistêmicos fundamentais à qualidade de vida da população humana, como regulação climática, água limpa para consumo e ar puro.
A Floresta Amazônica é a maior floresta tropical do mundo, ocupando uma área de aproximadamente 6,7 milhões de km2. Ela abrange cerca de 40% do território brasileiro, além de ocupar porções dos territórios da Venezuela, Colômbia, Bolívia, Equador, Suriname, Guiana e Guiana Francesa.
No Brasil, ela ocupa praticamente toda a região norte, principalmente os estados do Amazonas, Amapá, Pará, Acre, Roraima e Rondônia, além do norte do Mato Grosso e oeste do Maranhão.
Ademais, a região amazônica também abriga a maior bacia hidrográfica e o maior rio do mundo em volume de água: o rio Amazonas, com 6.937 km de extensão. Além do Brasil, a bacia hidrográfica do Amazonas se estende por partes da Bolívia, Colômbia, Equador, Guianas, Peru, Suriname e Venezuela.
Além de fornecer diversos serviços ecossistêmicos, a Amazônia abriga a maior reserva de biodiversidade do planeta. Vale ressaltar, ainda, que a região é lar de grande parte dos povos indígenas brasileiros. Por isso, assegurar a sua conservação garante a sustentabilidade natural e a sobrevivência da cultura desses povos.
Segundo o estudo “Esclarecendo a crise de queimadas na Amazônia”, existem três tipos principais de queimadas na Amazônia. O primeiro tipo de incêndio ocorre a partir do desmatamento.
Primeiro, a vegetação é derrubada e deixada para secar ao sol. Em seguida, o fogo é utilizado para queimar a vegetação. A queima possui a função de preparar a área desmatada para a agricultura ou pecuária.
O segundo tipo de queimada é aquele que ocorre em áreas utilizadas para a agricultura que já foram desmatadas anteriormente. Um exemplo citado no estudo diz respeito aos pecuaristas, que usam o fogo para eliminar ervas-daninhas e pastagens. Pequenos agricultores, indígenas e povos tradicionais também utilizam o fogo na agricultura de corte-e-queima.
O terceiro tipo de queimada, chamado de incêndio florestal, é aquele no qual o fogo pode invadir florestas. Quando uma floresta pega fogo pela primeira vez, as chamas são restritas principalmente ao sub-bosque. Porém, quando a prática se torna recorrente, os incêndios florestais ficam mais intensos.
Caracterizada entre os principais contribuintes mundiais para a emissão de gases de efeito estufa, a queima de biomassa é uma prática recorrente e antiga no Brasil. Entretanto, a consciência global sobre seus possíveis impactos é relativamente recente.
Atualmente, os desmatamentos e as queimadas são duas das maiores questões ambientais enfrentadas pelo Brasil. Embora distintas, as duas práticas estão tradicionalmente associadas, uma vez que a derrubada da vegetação quase sempre é sucedida pela queima de biomassa florestal para “limpar” a área.
Nesse contexto, a Amazônia permaneceu conservada até a inauguração da rodovia Transamazônica em 1970, considerada o marco inicial para a era “moderna” do desmatamento.
A partir disso, a intensidade e o uso indiscriminado das práticas de queimada, utilizadas na preparação da área desmatada para atividades agropastoris, se transformaram em um grave problema ambiental para o Brasil. Além disso, os incentivos fiscais foram um forte condutor dos desmatamentos nas décadas seguintes.
De acordo com os Relatórios de Ocorrência de Incêndios (ROI) do Núcleo de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais do Prevfogo, existem inúmeras causas para as queimadas e incêndios florestais.
A primeira delas é o analfabetismo ambiental, que expressa o desconhecimento sobre os sistemas, as inter-relações e interdependências dos processos que asseguram a vida na Terra. O analfabetismo sobre o meio ambiente e suas questões é tido como a maior ameaça à sustentabilidade socioambiental do planeta.
A segunda causa apontada está relacionada à expansão das fronteiras agropastoris. Segundo o relatório, a preparação de áreas desmatadas para atividades agropastoris é a principal causa das queimadas na Amazônia.
Durante essa prática, o desconhecimento das técnicas de prevenção e dos fatores que influenciam o comportamento do fogo é responsável pela dispersão descontrolada das chamas por toda a região.
Além do analfabetismo ambiental e da expansão de fronteiras, causas naturais e comportamentais também são evidenciadas. Porém, sabe-se que a intensidade desses incêndios é menor e que eles geram poucos impactos para a Amazônia.
Já segundo o estudo “Esclarecendo a crise das queimadas na Amazônia”, as principais causas dos incêndios florestais ligados ao desmatamento são a falta de governança local e a especulação da terra. A subsistência de agricultores e o manejo do gado de forma extensiva também aparecem como fatores que levam à queima da biomassa.
O risco e a facilidade de propagação do fogo são influenciados pelos seguintes fatores:
As baixas precipitação e umidade relativa do ar e ventos fortes favorecem o início e a propagação do fogo na vegetação. A baixa pluviosidade na região durante o inverno resseca as coberturas vegetais, facilitando a dispersão de chamas.
Ondas de calor e suas altas temperaturas, como as decorrentes de fenômenos como o El Niño ou da estação seca, também aumentam os riscos de combustão. Ventos fortes e constantes, por sua vez, aumentam a evapotranspiração e diminuem a umidade relativa do ar, favorecendo a propagação do fogo na vegetação.
A declividade de um local também favorece a dispersão das chamas na vegetação. O fogo se alastra mais rápido quanto mais acidentado for o terreno. Além disso, regiões com inclinações acentuadas contribuem para regimes específicos de movimentação do ar, que também auxiliam na propagação do fogo.
A combustão e a propagação do fogo também dependem da matéria orgânica que está sendo queimada. A natureza do fogo dependerá das constituições químicas da biomassa e do local em que ela se encontra.
Apesar das mudanças climáticas serem apontadas como fatores que favorecem a ocorrência das queimadas na Amazônia, evidências sugerem que o aumento de incêndios não foi determinado por elas. A alta incidência dos incêndios decorrentes do processo de desmatamento foi consistente com as imagens de queimadas em larga-escala ocorrendo em áreas desmatadas e que foram mostradas na mídia, enquanto que as enormes plumas de fumaça atingindo altos níveis atmosféricos só poderiam ser explicadas pela combustão de grandes quantidades de biomassa vegetal.
O número de focos de queimadas na Amazônia apontados pelo Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre janeiro e agosto de 2019.
Em relação ao mesmo período dos anos anteriores, os dados deste ano coletados pelo Inpe mostram que os incêndios aumentaram cerca de 52,5% nesta região.
Além disso, os incêndios florestais no Cerrado e na Mata Atlântica também apresentaram elevado crescimento em relação ao período anterior.
Os dez municípios que tiveram maior foco de incêndios florestais em 2019 são também os que apresentaram maiores taxas de alertas de desmatamento, segundo nota técnica do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) sobre a temporada de fogo de 2019. Os maiores registros neste ano foram nos estados do Acre, Amazonas, Mato Grosso, Rondônia e Roraima.
Nos dias 10 e 11 de agosto de 2019, aconteceu ainda um episódio que é lembrado como o “Dia do Fogo”, quando foi articulado um movimento conjunto para atear fogo na floresta amazônica. Nestes dois dias, foram detectados mais de 1,4 mil focos de calor na Amazônia.
No mês de agosto de 2019, o total de focos foi de 30.900 focos, mas no mesmo período de 2022 foram registrados 33.116 focos ativos no no bioma amazônico. Em todo o mês de setembro de 2021, foram 16.742 focos de incêndio. Porém, em pouco mais de sete dias, no início de setembro de 2022, foram 20.261.
As queimadas são responsáveis por liberar gás carbônico (CO2) e metano (CH4) na atmosfera. Esses gases contribuem para o aquecimento global e podem mudar o clima da Amazônia, criando o ambiente propício para que outros grandes incêndios ocorram com mais frequência.
Trata-se de um ciclo vicioso. A perda da maior reserva de biodiversidade do planeta e a poluição do solo e de ambientes aquáticos também são graves consequências geradas pelas queimadas.
Além disso, o desmatamento é responsável por aumentar o escoamento da água e, consequentemente, a descarga dos rios. Isso acontece porque a redução da cobertura vegetal diminui a infiltração da água no solo e as taxas de evapotranspiração.
Esse processo altera as condições morfológicas e biogeoquímicas dos ecossistemas aquáticos, já que causa a exportação de sedimentos terrestres para os córregos.
As queimadas também contribuem para o aumento de casos de doenças respiratórias, já que afetam a qualidade do ar.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), em documento elaborado para eventos relacionados a incêndios florestais, destaca a saúde como dependente de um ambiente saudável, evidenciando a necessidade em direcionar o problema das queimadas a um contexto global de mudanças.
Além do gás carbônico, outras espécies químicas são produzidas e liberadas para a atmosfera durante as queimadas, como monóxido de carbono (CO), óxidos nitrosos (NO3) e hidrocarbonetos. Esses elementos sofrem reações fotoquímicas que auxiliam na formação de poluentes secundários, os quais atuam como gases do efeito estufa e intensificam o aquecimento global.
Além disso, o fim das queimadas está diretamente relacionado com a interrupção nos desmatamentos. Para isso, são necessárias quatro linhas de atuação que incluem:
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