Aumento da população mundial trará desafios globais, como o de possibilitar o acesso a alimentos a esse contingente de pessoas, de forma sustentável
Imagem: Pixabay / CC0
A população mundial deverá saltar do atual patamar de sete bilhões de pessoas para nove bilhões até 2050. Esse aumento trará desafios globais, como o de possibilitar o acesso a alimentos a esse contingente de pessoas, de forma sustentável.
A maior parte das soluções para esse e outros problemas globais poderá vir da química, avaliou Adriano Defini Andricopulo, professor do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC-USP) em conferência durante a 68ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Com o tema “Sustentabilidade, tecnologia e integração social”, o evento ocorre no campus de Porto Seguro da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).
“A Química, sem dúvida, deve dar a maior contribuição para solucionar os desafios globais no século 21”, estimou Andricopulo, que é membro do comitê executivo e coordenador de transferência de tecnologia do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
De acordo com dados apresentados pelo pesquisador, em 1960 um hectare de terra alimentava duas pessoas. Em 2050 a mesma quantidade de terra terá de alimentar mais de seis pessoas.
Esse desafio é agravado pelo fato de que hoje não se consegue alimentar nem os sete bilhões de pessoas existentes no mundo, ponderou. “Será preciso desenvolver novos produtos para proteger as culturas agrícolas contra pragas e doenças”, apontou Andricopulo. “Nesse sentido, a síntese química terá um papel fundamental.”
Cerca de 40% dos alimentos existentes no mundo hoje não existiriam se não houvesse agroquímicos para protegê-los do ataque de organismos causadores de doenças em plantas (fitopatógenos), disse o pesquisador.
A fim de desenvolver novos princípios ativos para pesticidas e herbicidas voltados a controlar ervas daninhas, pragas e doenças fúngicas – uma vez que com o passar do tempo os organismos podem desenvolver resistência a elas –, os químicos têm buscado cada vez mais inspiração em compostos naturais.
Muitas plantas produzem misturas complexas de substâncias químicas que afetam o comportamento de insetos, influenciando onde vão se alimentar ou procriar, afirmou o pesquisador. “Essa informação pode ser usada para desenvolver métodos práticos para o controle de pragas”, disse.
Já o aumento do conhecimento sobre a nutrição vegetal pode resultar na melhoria de plantas para absorver nutrientes vitais, como nitrogênio, de forma mais eficiente, indicou Andricopulo.
Um elemento essencial para o desenvolvimento das plantas, uma vez que é usado em uma série de processos metabólicos, o nitrogênio é abundante na atmosfera, mas não tem nenhuma utilidade biológica direta e precisa ser convertido em outras formas, como nitratos, que as plantas são capazes de usar.
As plantas, contudo, não podem absorvê-lo diretamente do ar, mas somente nas formas de amônia solúvel em água ou nitrato, em que são convertidas por bactérias que vivem no solo.
A fim de fornecer esses compostos para as plantas, têm sido usados fertilizantes, como nitrato de amônio. O uso indiscriminado de fertilizantes, contudo, pode causar a degradação da qualidade do solo, a poluição das fontes de água e da atmosfera e o aumento da resistência de pragas.
“A química pode contribuir na produção de catalisadores mais baratos, por exemplo, que poderiam ajudar as plantas a fixar nitrogênio de forma mais eficiente”, avaliou Andricopulo.
Outro elemento essencial para as plantas – que, em alguns anos, até 80% dele estarão disponíveis em formas que não podem ser absorvidas e usadas – é o fósforo.
A fim de disponibilizá-lo para as plantas são usados comumente fertilizantes criados a partir de fosfato extraído de depósitos de rocha sedimentária e tratado quimicamente para aumentar sua concentração e torná-lo mais solúvel, de forma a facilitar sua absorção.
O problema, contudo, é que os depósitos de fosfato no mundo podem se esgotar nos próximos 50 a 100 anos. “A Química pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento de novas tecnologias para recuperar o fósforo a partir de resíduos para potencial reutilização”, apontou Andricopulo.
Congresso Mundial de Química
O pesquisador destacou que, em julho de 2017, o Brasil será o primeiro país da América do Sul a sediar o Congresso Mundial de Química da União Internacional para a Química Pura e Aplicada (IUPAC, na sigla em inglês).
Uma instituição científica global, criada em 1919 por químicos acadêmicos e industriais, e reconhecida como autoridade em nomenclatura, terminologia, padronização de métodos de pesos e medidas, peso atômico e outros dados químicos, a IUPAC realiza a cada dois anos um congresso mundial.
Até então, somente países da Europa, Ásia, Oceania e América do Norte sediaram o evento.
“A realização do Congresso Mundial da IUPAC no Brasil será o maior evento de Química na América do Sul”, estimou Andricopulo.
O congresso será realizado entre os dias 9 e 14 de julho no World Trade Center, em São Paulo.
Mais informações e inscrições: www.iupac2017.org.