Os conceitos de raça e etnia são comumente confundidos entre as pessoas, no entanto, eles são completamente diferentes. Apesar de não ser um consenso, a raça é tida como um conceito complexo de fator biológico — que já foi abandonado por muitos — enquanto a etnia é considerada algo sociológico ligado aos costumes e tradições de um povo.
Para entender melhor qual a diferença entre raça e etnia é essencial saber o que caracteriza cada um desses conceitos. A seguir confira um pouco sobre cada um desses termos:
Raça é um termo, recentemente, considerado como “ultrapassado”. Por muitos anos ele foi considerado como um conceito biológico, que categoriza os indivíduos de acordo com suas características genéticas, seus traços e cor de pele. Desta forma, surgiram as “raças” conhecidas hoje em dia: negros, brancos, pardos e amarelos.
Porém, depois de anos de estudo desse conceito, estudiosos da área da biologia optaram por abandonar a terminologia. A explicação é simples: esses especialistas não acham que as diferenças humanas e seus patrimônios genéticos são grandes o suficiente para que a humanidade seja dividida em raças diferentes.
Além disso, o conceito de raça começou a surgir com uma intenção hierarquizada, por volta dos séculos XVIII – XIX, devido aos naturalistas. Desde o início, a classificação racial foi usada como uma maneira de colocar algumas pessoas como melhores que as outras. Essa relação aconteceu devido à ligação que os estudiosos da época faziam entre os traços físicos de um grupo ao suas habilidades cognitivas — o tamanho do crânio, por exemplo.
Sendo assim, a raça é um conceito que entende as diferenças fenotípicas e aplica isso como uma explicação do porquê um povo é “melhor” do que o outro. Essa ideia foi a base para o racismo como ele é. Além disso, também foi fomentada por anos devido a pseudociências como o racismo científico e a eugenia.
Ao início do século XX, essa mentalidade já havia ganhado força ao redor do mundo e era usada como forma de justificar e legitimar sistemas de doutrinação racial. Logo, fortalecendo o preceito para aqueles que não se enquadravam no padrão de branco europeu, como negros, indígenas e asiáticos.
Atualmente, o termo raça é usado para questões sociológicas, ou seja, para o melhor entendimento de desigualdades raciais. Os movimentos sociais defendem que é preciso saber que esse conceito foi criado para dar poder à “raça branca” sobre outras pessoas. Isso fez com que grupos que não se encaixam nessas características físicas fossem historicamente discriminados e atacados.
A etnia, por outro lado, já é considerada um conceito sociológico há muito tempo. A palavra etnia vem do grego ethnos, que significa “gente ou nação estrangeira” e determina um grupo de pessoas com aspectos culturais semelhantes, comumente ligados a um território.
Sendo assim, grupos étnicos tem suas características sociais próprias, seus costumes, suas tradições e seus modos de vida únicos. Além disso, essas pessoas também podem compartilhar traços linguísticos e religiosos. Um exemplo prático da separação do termo raça e etnia é:
“Aquela pessoa se identifica como amarela e é de etnia japonesa”.
A etnia não é um conceito imutável, ela pode se alterar, e até mesmo se perder com o passar do tempo. Por exemplo, pessoas italianas e japonesas que vieram ao Brasil durante as imigrações do início do século XX e tiveram filhos podem ter perdido alguns traços de sua etnia, devido ao convívio constante com brasileiros e pessoas da américa latina.
A etnia pode ser vista como algo macro ou micro. Ou seja, uma pessoa da Tailândia tem características sociais bem diferentes quando comparada com um brasileiro. Porém, um brasileiro branco também é etnicamente diferente de um brasileiro indígena — assim como dois indígenas podem se diferenciar por serem de grupos diferentes, como os aruak e os karib.
Alguns cientistas consideram os traços fenótipos como algo que também determina uma etnia. Entretanto, isso não é consenso entre as ciências.
Em seu livro “O Povo Brasileiro” Darcy Ribeiro comenta: “A confluência de tantas e tão variadas matrizes formadoras poderia ter resultado numa sociedade multiétnica, dilacerada pela oposição de componentes diferenciados e imiscíveis. Ocorreu justamente o contrário, uma vez que, apesar de sobreviverem na fisionomia somática e no espírito dos brasileiros os signos de sua múltipla ancestralidade, não se diferenciam em antagônicas minorias raciais, culturais ou regionais, vinculadas a lealdades étnicas próprias e disputantes de autonomia frente à nação”.
Sendo assim, houve uma grande confluência de etnias em território nacional, o que resultou na formação de um povo miscigenado e diverso. As principais etnias que formaram o Brasil, ainda nos seus primeiros séculos, foram indígenas, brancos europeus e negros escravizados trazidos da África.
Quando o país já estava estabelecido também surgiram outras etnias que se tornaram parte essencial da população brasileira, como os japoneses e chineses. Atualmente, o Brasil tem a maior população de japoneses e descendentes de japoneses fora do Japão. Todas essas pessoas podem ser consideradas brasileiras, porém, dividem traços étnicos com outras nações.
O conceito de raça no Brasil foi fundamental para estruturar dinâmicas racistas na sociedade. Sendo o último país a abolir a escravidão, o país latino foi construído no racismo cientifico e na ideia de que os brancos eram “superiores” a qualquer outra “raça”. Por esse motivo, houve a escravização e o genocídio dos povos indígenas, bem como a exploração dos corpos negros.
Essas situações deixam cicatrizes gigantes na sociedade brasileira até hoje. Afinal, negros e pardos constituem mais de 50% da população, e mesmo assim são duas vezes mais propensos a serem assassinados (1) e são 72% das pessoas desempregadas no país (2). Além disso, os povos indígenas representam apenas 0,5% das pessoas matriculadas em cursos de ensino superior (3).
Por esses motivos, alguns movimentos sociais levantam a bandeira de que o conceito de raça deve ser ressignificado para que a humanidade consiga entender como as sociedades foram fundadas em ideais racistas que promovem desigualdade e violência contra pessoas não-brancas.
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