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O termo racismo reverso é usado erroneamente por pessoas brancas para acusar a comunidade negra de discriminação racial

O racismo reverso é um mito criado pela supremacia branca que tem o intuito de banalizar a luta de pessoas racializadas e colocar os individuos brancos como vítimas. Ele costuma ser invocado sempre que uma pessoa branca se sente ofendida com falas proferidas por pessoas negras, e de outras raças/etnias, ou quando ela não concorda com uma ação afirmativa, como o uso de cotas. 

Para entender melhor o porquê do racismo reverso ser um mito, é preciso ter em mente que preconceitos e racismo são coisas diferentes. O racismo é um conceito formado por uma série de preconceitos que colocam pessoas racializadas, geralmente negras, como inferiores as brancas. 

Outro ponto importante é que o racismo é estrutural, ou seja, ele impede que certos indivíduos tenham acesso a direitos básicos como alimentação, trabalho e saúde apenas em decorrência da cor de pele. Já o preconceito é apenas um julgamento sobre alguém baseado em estereótipos, sejam eles de raça, de sexualidade ou de classe social.

Desta forma, quando uma pessoa branca for chamada de “branquela” e, ou, “branco azedo”, ele não está sofrendo racismo inverso, apenas uma forma de preconceito. Esse tipo de prejulgamento contra brancos não sai do âmbito emocional e psicológico, logo, o branco vai continuar sendo socialmente mais privilegiado do que as pessoas negras. 

Paralização de trabalhadores da Viação Grajaú
Racismo no transporte já foi presenciado por 72% dos brasileiros

A história aponta a inexistência do racismo reverso

Para especialistas, o racismo é uma relação entre o poder e o preconceito. O racismo que existe hoje é consequência da vinda dos brancos europeus para as Américas. Esse grupo colonizou uma terra que já tinha moradores, os indígenas, e também forçou a população negra africana a mão de obra escrava, destruindo ecossistemas naturais e  conhecimentos milenares que incluíam formas de linguagem, arquitetura, arte e agricultura.

A escravidão no Brasil durou mais de 300 anos e foi a última a encontrar o seu fim no continente americano, em meados do ano 1888. Depois de libertos, os negros que eram escravizados não tiveram nenhum suporte do poder público para serem inseridos em sociedade, sem oportunidade de trabalho, educação e outros direitos básicos. 

Para reforçar o racismo estrutural deixado pelo abandono da população negra, os governadores de estados brasileiros incentivaram a imigração de europeus para o território nacional em busca de trabalho. O plano não era apenas crescer a economia local, mas sim embranquecer a população, que como resultado da escravidão, tinha uma grande quantidade de individuos negros e indigenas. 

O poder público estava na mão de pessoas brancas, grupos racializados não tinham leis que os protegessem. O plano do governo era eliminar os traços negros da população. Demorou anos para que esses indivíduos tivessem alguns de seus direitos assegurados. As primeiras leis de igualdade racial começaram a surgir no Brasil apenas depois da Constituição de 1988, e tudo isso graças aos movimentos negros que iam para as ruas.

Racismo reverso

Ações afirmativas não são racismo reverso 

A falta de assistência à população negra depois do período de escravatura criou uma defasagem enorme quando se trata de ter acesso à educação, trabalho e saúde. Por esse motivo, foram criadas ações afirmativas que garantem que essas pessoas acessem locais que normalmente não conseguem devido ao racismo estrutural

Em resposta a isso, muitos indivíduos desinformados acreditam que essas ações são um tipo de racismo reverso. Com intuito de entender porque é importante que existam ações afirmativas para a população preta, separamos alguns dados:
  • De acordo com os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2018, 56% da população se autodeclara negra (pretos ou pardos);
  • Porém, apesar disso, apenas 17,8% da população brasileira, que se encontra entre os mais ricos, é formada por pretos e pardos, sendo que eles correspondem a 75% dos mais pobres;
  • No mercado de trabalho não é diferente, o IBGE mostra que entre 2012 e 2017 os trabalhadores pretos receberam cerca de 1,2 mil reais a menos do que trabalhadores brancos. E que mais de 60% dos desempregados no Brasil se autodeclaram negros;
  •  Até a década de 1930, toda e qualquer religião de matriz africana tinha a sua prática proibida no Brasil. Atualmente, essas religiões, como a Umbanda e o Candomblé, são protegidas por lei contra crimes de preconceito religiosos. 
  • 66,7% da população carcerária do Brasil é negra. Nesse caso, os negros são mais condenados do que brancos, quando se trata do porte de drogas. Mesmo que eles comumente sejam apreendidos com menos doses do que brancos; 
  • Em levantamento realizado pela ONG Criola, foi descoberto que o óbito de mulheres negras no sistema de saúde é 78% maior do que de mulheres brancas com as mesmas condições; 
  • Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad/2019), apontam que a evasão escolar é formada por jovens negros de 14 e 29 anos;
  • A fome também tem cor, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), 70% dos brasileiros que passam fome se autodeclaram negros. 

Conclusão sobre os dados

Quando se tem conhecimento dessas informações, é possível entender a necessidade de projetos como a Lei de Cotas, que facilita a entrada de estudantes negros em universidades públicas. O termo racismo reverso, quando aplicado em relação a essas ações, diminui o sofrimento e o dano que foi causado a população negra durante anos de escravidão e abandono social.

Não existe racismo do negro contra o branco, afinal, quem detém o poder na sociedade é o individuo de pele branca. É ele que dita as regras, que escolhe contribuir com o racismo estrutural e que pode causar a exclusão de pessoas negras da sociedade. 

feminismo negro
O que é e como surgiu o feminismo negro?

De onde surgiu a ideia de racismo reverso?

Não se sabe exatamente quando o termo começou a ser usado contra o movimento negro, mas existem hipoteses sobre o seu surgimento. O pesquisador André Ricardo N. Martins, do núcleo de linguagem e sociedades da UnB, defende que o racismo reverso é uma tradução ruim do termo “aversive racism” ou “racismo aversivo”. 

Segundo o estudioso, este termo foi apresentado por Joel Kovel nos anos 70. O objetivo era explicar como os brancos negavam o racismo na teoria, mas em seu dia a dia eram racistas. 

Racismo é crime 

Não existe racismo reverso, mas o racismo tradicional que prega a superioridade da raça branca sobre outras é real e precisa ser combatido. O movimento antirracista é responsável por lutar contra essa discriminação e garantir que pessoas racializadas tenham acesso aos seus direitos, negados pelo racismo estrutural.

O Brasil tem leis que punem o racismo, como a  Lei nº 7.716/1989, com até cinco anos de reclusão, pena inafiançável e imprescritível. Denunciar um caso de racismo, no trabalho, na rua ou na escola, é um dever da luta antirracista. Ficar calado nessas situações só contribui para que esse tipo de pensamento seja perpetuado na sociedade. 


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