O racismo reverso é um mito criado pela supremacia branca que tem o intuito de banalizar a luta de pessoas racializadas e colocar os individuos brancos como vítimas. Ele costuma ser invocado sempre que uma pessoa branca se sente ofendida com falas proferidas por pessoas negras, e de outras raças/etnias, ou quando ela não concorda com uma ação afirmativa, como o uso de cotas.
Para entender melhor o porquê do racismo reverso ser um mito, é preciso ter em mente que preconceitos e racismo são coisas diferentes. O racismo é um conceito formado por uma série de preconceitos que colocam pessoas racializadas, geralmente negras, como inferiores as brancas.
Outro ponto importante é que o racismo é estrutural, ou seja, ele impede que certos indivíduos tenham acesso a direitos básicos como alimentação, trabalho e saúde apenas em decorrência da cor de pele. Já o preconceito é apenas um julgamento sobre alguém baseado em estereótipos, sejam eles de raça, de sexualidade ou de classe social.
Desta forma, quando uma pessoa branca for chamada de “branquela” e, ou, “branco azedo”, ele não está sofrendo racismo inverso, apenas uma forma de preconceito. Esse tipo de prejulgamento contra brancos não sai do âmbito emocional e psicológico, logo, o branco vai continuar sendo socialmente mais privilegiado do que as pessoas negras.
Para especialistas, o racismo é uma relação entre o poder e o preconceito. O racismo que existe hoje é consequência da vinda dos brancos europeus para as Américas. Esse grupo colonizou uma terra que já tinha moradores, os indígenas, e também forçou a população negra africana a mão de obra escrava, destruindo ecossistemas naturais e conhecimentos milenares que incluíam formas de linguagem, arquitetura, arte e agricultura.
A escravidão no Brasil durou mais de 300 anos e foi a última a encontrar o seu fim no continente americano, em meados do ano 1888. Depois de libertos, os negros que eram escravizados não tiveram nenhum suporte do poder público para serem inseridos em sociedade, sem oportunidade de trabalho, educação e outros direitos básicos.
Para reforçar o racismo estrutural deixado pelo abandono da população negra, os governadores de estados brasileiros incentivaram a imigração de europeus para o território nacional em busca de trabalho. O plano não era apenas crescer a economia local, mas sim embranquecer a população, que como resultado da escravidão, tinha uma grande quantidade de individuos negros e indigenas.
O poder público estava na mão de pessoas brancas, grupos racializados não tinham leis que os protegessem. O plano do governo era eliminar os traços negros da população. Demorou anos para que esses indivíduos tivessem alguns de seus direitos assegurados. As primeiras leis de igualdade racial começaram a surgir no Brasil apenas depois da Constituição de 1988, e tudo isso graças aos movimentos negros que iam para as ruas.
A falta de assistência à população negra depois do período de escravatura criou uma defasagem enorme quando se trata de ter acesso à educação, trabalho e saúde. Por esse motivo, foram criadas ações afirmativas que garantem que essas pessoas acessem locais que normalmente não conseguem devido ao racismo estrutural.
Quando se tem conhecimento dessas informações, é possível entender a necessidade de projetos como a Lei de Cotas, que facilita a entrada de estudantes negros em universidades públicas. O termo racismo reverso, quando aplicado em relação a essas ações, diminui o sofrimento e o dano que foi causado a população negra durante anos de escravidão e abandono social.
Não existe racismo do negro contra o branco, afinal, quem detém o poder na sociedade é o individuo de pele branca. É ele que dita as regras, que escolhe contribuir com o racismo estrutural e que pode causar a exclusão de pessoas negras da sociedade.
Não se sabe exatamente quando o termo começou a ser usado contra o movimento negro, mas existem hipoteses sobre o seu surgimento. O pesquisador André Ricardo N. Martins, do núcleo de linguagem e sociedades da UnB, defende que o racismo reverso é uma tradução ruim do termo “aversive racism” ou “racismo aversivo”.
Segundo o estudioso, este termo foi apresentado por Joel Kovel nos anos 70. O objetivo era explicar como os brancos negavam o racismo na teoria, mas em seu dia a dia eram racistas.
Não existe racismo reverso, mas o racismo tradicional que prega a superioridade da raça branca sobre outras é real e precisa ser combatido. O movimento antirracista é responsável por lutar contra essa discriminação e garantir que pessoas racializadas tenham acesso aos seus direitos, negados pelo racismo estrutural.
O Brasil tem leis que punem o racismo, como a Lei nº 7.716/1989, com até cinco anos de reclusão, pena inafiançável e imprescritível. Denunciar um caso de racismo, no trabalho, na rua ou na escola, é um dever da luta antirracista. Ficar calado nessas situações só contribui para que esse tipo de pensamento seja perpetuado na sociedade.
Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.
Saiba mais