Angústia e ansiedade frente à emergência ambiental são sinais de conexão e urgem mudanças sistêmicas
Angústia, raiva e ansiedade. Essas são algumas das reações mais comuns diante das notícias alarmantes sobre as mudanças climáticas. Ondas de calor, furacões e inundações cada vez mais frequentes estão desenhando o cenário de um planeta em transformação acelerada, enquanto lideranças mundiais falham em adotar medidas significativas para mitigar o avanço da crise. Essas emoções, longe de serem meras respostas individuais, refletem uma preocupação legítima e conectada ao contexto planetário.
Pesquisas recentes evidenciam o impacto psicológico da crise climática. Um estudo global com 10.000 jovens de 16 a 25 anos mostrou que quase metade relatou dificuldades no sono e na concentração devido a preocupações ambientais. No Reino Unido, 73% dos entrevistados descreveram o futuro como assustador, enquanto 48% se sentiam ignorados ao expressar suas preocupações. Esses dados apontam para um sofrimento coletivo, que vai além da simples ansiedade individual.
Uma abordagem mais ampla para entender essas emoções é oferecida pela estrutura de significado de ameaça de poder (PTMF, na sigla em inglês), que analisa o sofrimento considerando os contextos sociais e políticos em que ele ocorre. Ao invés de tratar emoções como sintomas de transtornos, essa perspectiva questiona: “O que aconteceu com você?” e “Como você está sendo afetado por essas dinâmicas?”. A estrutura tem sido usada para analisar respostas emocionais diversas, como culpa, alienação, esperança e desespero, especialmente em relação ao ativismo climático.
Ativistas climáticos frequentemente relatam que o contexto social e a falta de escuta são fatores que amplificam seu sofrimento. O impacto da cobertura negativa da mídia e as mensagens que deslegitimam a urgência climática também contribuem para a sensação de isolamento. Ao mesmo tempo, as emoções, como a raiva e o medo, podem motivar ações significativas, desde campanhas locais até esforços de sensibilização global.
É essencial, entretanto, reconhecer que a luta contra a crise climática não se limita ao indivíduo. A necessidade de mudanças sistêmicas é urgente. Governos e instituições têm papel central na reversão dos danos ambientais, mas o ritmo das ações políticas permanece aquém do necessário. Mesmo assim, iniciativas individuais, como discussões comunitárias, apoio a políticas ambientais e mudanças no estilo de vida, podem contribuir para a sensação de agência e pertencimento.
Conectar-se com pessoas que compartilham preocupações semelhantes também tem um papel transformador. Além de inspirar ações coletivas, essas interações criam um espaço para processar sentimentos complexos, transformando o sofrimento em resiliência. Práticas de autocuidado e pausas estratégicas são igualmente importantes para evitar o esgotamento.
Reconhecer o sofrimento climático como parte de um trauma coletivo é essencial para avançar em soluções. A indiferença de alguns não deve ser vista apenas como descaso, mas também como uma tentativa de evitar o enfrentamento de uma realidade esmagadora. A empatia, nesse caso, pode ser a ponte para conversas mais abertas e efetivas.
Enquanto as emoções como raiva e ansiedade revelam a profundidade do cuidado humano com o planeta, a ação coletiva continua sendo a chave para a transformação. Cada gesto, seja individual ou coletivo, ecoa em um chamado mais amplo: enfrentar a crise climática requer coragem, união e mudanças profundas.