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Experiência imersiva em escolas residenciais no Canadá mostra potencial, mas revela necessidade de educação contínua sobre o tema

A realidade virtual tem se consolidado como uma tecnologia em rápida expansão, com aplicações que vão além do entretenimento. Considerada por muitos como uma “máquina de empatia”, ela tem sido testada em contextos sensíveis, como no entendimento de vivências de refugiados, pessoas em situação de rua e até mesmo pacientes com esquizofrenia. Agora, um estudo interdisciplinar investigou seu potencial para ampliar a compreensão e a empatia em relação aos povos indígenas, especialmente no contexto das escolas residenciais no Canadá.Essas instituições, financiadas pelo Estado e administradas por igrejas, foram cenários de graves violações de direitos humanos. Entre 1905 e 1970, a Escola Residencial Fort Alexander, em Manitoba, foi um local onde crianças indígenas sofreram abusos físicos, emocionais e sexuais. Apesar de o conhecimento sobre essas escolas estar crescendo entre a população canadense, pesquisas recentes mostram que a conscientização superficial não se traduz em um entendimento profundo das consequências desse capítulo sombrio da história.

Para abordar essa lacuna, uma equipe de pesquisadores, em colaboração com sobreviventes das escolas residenciais, desenvolveu uma experiência imersiva em realidade virtual que recria os espaços da Escola Fort Alexander. O projeto, que levou anos para ser concluído, incluiu a reconstrução digital de salas de aula, dormitórios e porões, ambientes descritos pelos sobreviventes. A experiência foi projetada para que os participantes se sentissem pequenos, como crianças, enquanto ouviam relatos emocionantes dos sobreviventes.

O estudo comparou três grupos: um que vivenciou a escola em realidade virtual, outro que leu transcrições dos relatos e um grupo de controle que não recebeu nenhuma intervenção. Os resultados mostraram que tanto a experiência virtual quanto a leitura das transcrições aumentaram a empatia, a sensação de proximidade e a solidariedade política em relação aos povos indígenas. No entanto, os efeitos positivos não se mantiveram ao longo do tempo, desaparecendo semanas após a intervenção.

Essa descoberta sugere que histórias impactantes, como as dos sobreviventes, não necessitam de tecnologia avançada para gerar empatia. A realidade virtual, embora inovadora e envolvente, pode não ser a solução mais acessível ou eficaz em todos os casos. Além disso, o estudo reforça a necessidade de uma educação contínua sobre as escolas residenciais e suas consequências, já que uma única experiência, por mais poderosa que seja, não é suficiente para gerar mudanças duradouras.

A pesquisa também levanta questões sobre o uso ético da realidade virtual. Durante o desenvolvimento do projeto, houve preocupação em evitar que a experiência fosse tratada como um jogo, o que poderia banalizar o sofrimento retratado. Para garantir um enfoque respeitoso, a experiência foi projetada com um caminho pré-definido, limitando a interação dos participantes.

Embora a realidade virtual possa ser uma ferramenta valiosa para engajar públicos que não se interessariam por leituras ou outras formas de aprendizado, seu custo e complexidade técnica ainda são obstáculos. O estudo conclui que, independentemente da tecnologia utilizada, o mais importante é garantir que as histórias dos sobreviventes continuem sendo contadas e que o processo de reconciliação e educação seja constante.

A realidade virtual pode abrir portas, mas é a humanidade por trás das histórias que verdadeiramente transforma. E, no caso das escolas residenciais, essa transformação exige um compromisso contínuo com a memória e a justiça.


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