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Monitoramento global de oponentes inclui perfis detalhados, desinformação e táticas de intimidação financiadas por dinheiro público

Uma rede secreta financiada pelo governo dos EUA está sendo utilizada para descredibilizar críticos de pesticidas e promover interesses da indústria agroquímica global. Dados de figuras influentes, como pesquisadores da ONU e personalidades da mídia, são compilados em perfis detalhados e compartilhados em um portal restrito. Esses documentos revelam que, além de questionar o uso de pesticidas, as críticas à agricultura industrial e o apoio à agroecologia também são alvos frequentes.

Investigação liderada por veículos internacionais de mídia, como o The Guardian, em parceria com Lighthouse Reports e outras entidades, trouxe à tona a atuação de uma empresa norte-americana de “gestão de reputação” chamada v-Fluence. Contratada por gigantes do setor agroquímico, como Syngenta e Monsanto, a empresa tem como um de seus principais clientes o próprio governo dos EUA, por meio de contratos com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAid). A v-Fluence desempenha um papel central na criação e disseminação de perfis depreciativos sobre opositores dos interesses da indústria, a fim de neutralizar as críticas aos pesticidas e às culturas geneticamente modificadas (GM).

O portal de acesso restrito, criado pela v-Fluence e nomeado “Bonus Eventus”, não se limita a compartilhar informações públicas. Ele hospeda dados pessoais sensíveis de cientistas, jornalistas e ativistas, como endereços residenciais e até detalhes sobre a vida familiar. O jornalista de alimentação Michael Pollan e o escritor Mark Bittman estão entre as figuras midiáticas visadas, enquanto o portal inclui perfis de mais de 500 opositores aos pesticidas e às culturas GM, espalhados pelo mundo.

Esses esforços são amplamente vistos como uma tentativa de minar o crescente apoio global a métodos de agricultura sustentável e orgânica. Em resposta às revelações, muitos questionam o uso de recursos públicos para financiar o ataque a críticos. Especialistas da ONU, como Hilal Elver, apontam que o dinheiro destinado a essas ações poderia ter sido melhor investido em pesquisas sobre os impactos dos pesticidas na saúde humana e no meio ambiente.

A rede, que conta com mais de mil membros de diferentes setores, incluindo funcionários do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) e executivos das maiores corporações agroquímicas, foi criada sob o pretexto de combater a “ameaça” representada por movimentos agroecológicos e organizações que promovem a agricultura orgânica. Os contratos da v-Fluence com o governo dos EUA incluíam, entre outras atividades, a promoção de culturas GM na África e na Ásia, regiões onde a aceitação desse tipo de tecnologia enfrenta forte resistência local.

Enquanto a Syngenta nega qualquer ligação entre seu herbicida paraquat e a doença de Parkinson, a v-Fluence foi apontada como co-ré em processos judiciais que investigam as tentativas da empresa de ocultar os riscos relacionados a seus produtos. Jay Byrne, fundador da v-Fluence e ex-executivo da Monsanto, liderou essa empreitada para suprimir informações científicas desfavoráveis à indústria.

A oposição às culturas geneticamente modificadas tem sido particularmente intensa no Quênia, onde cerca de 40% da população trabalha no setor agrícola. Em 2019, uma conferência científica que discutiria os efeitos dos pesticidas foi minada por esforços de Byrne e sua equipe, que pressionaram patrocinadores a retirarem seu apoio financeiro ao evento.

Em um contexto em que os riscos à saúde associados ao uso de pesticidas são cada vez mais reconhecidos — como doenças neurodegenerativas, câncer e problemas reprodutivos —, as revelações sobre o envolvimento de órgãos estatais na promoção dos interesses da indústria agroquímica levantam sérias preocupações éticas e de saúde pública.


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