Redução no desmatamento da Amazônia impulsiona queda de 12% nas emissões de gases de efeito estufa no Brasil

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Em 2023, o Brasil registrou uma queda de 12% nas suas emissões de gases de efeito estufa, totalizando 2,3 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente (GtCO₂e), o que coloca o país mais perto de alcançar suas metas climáticas para 2025. Esse recuo, o mais significativo desde 2009, foi impulsionado principalmente pela desaceleração do desmatamento na Amazônia, mas os avanços não foram suficientes para mitigar os impactos de outros setores econômicos e de biomas que seguem em trajetória de alta. A questão central é que a maior parte das emissões continua sendo originada pela conversão de vegetação nativa, e uma série de setores ainda dependem de ações mais consistentes para reduzir suas pegadas de carbono.

De acordo com os dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), em 2023, as mudanças no uso da terra responderam por 46% de todas as emissões do Brasil, totalizando 1,062 GtCO₂e. Embora o desmatamento tenha sido contido na Amazônia, outras regiões enfrentaram uma aceleração do processo. O Cerrado, por exemplo, viu um aumento de 23% nas emissões, enquanto o Pantanal registrou uma disparada de 86%. O único bioma que apresentou uma redução em suas emissões foi o Pampa, com uma queda de 15%, mas ele representa apenas 1% do total no setor de uso da terra.

Apesar dos avanços na Amazônia, que representaram uma diminuição das emissões do país, a devastação dos biomas continuou a gerar uma emissão significativa de 1,04 GtCO₂e, colocando o Brasil como o quinto maior emissor mundial. Se o desmatamento fosse contabilizado como um país, ele ocuparia o oitavo lugar global, superando o Irã e ficando atrás apenas de grandes potências como Japão e China.

O setor agropecuário, por sua vez, seguiu sendo o principal responsável pela alta das emissões, com um aumento de 2,2% em relação ao ano anterior, marcando o quarto recorde consecutivo de emissões nesse setor. A criação de gado, especialmente a fermentação entérica (os conhecidos “arrotos” do boi), foi a principal fonte de emissões, com 405 milhões de toneladas de CO₂ equivalente, mais do que o total emitido pela Itália. Quando combinadas com as emissões de uso da terra, a agropecuária respondeu por 74% das emissões totais do Brasil.

No setor energético, a elevação foi mais tímida, com um aumento de 1,1% nas emissões. Esse aumento se deveu principalmente ao crescimento do consumo de diesel, gasolina e querosene de aviação, que levaram as emissões do transporte a um recorde histórico. No entanto, a redução de 8% na geração de eletricidade a partir de termelétricas fósseis compensou parcialmente esse incremento. A indústria também seguiu o mesmo caminho, com um pequeno aumento nas emissões, que totalizaram 22% das emissões nacionais.

O setor de resíduos, por sua vez, viu um pequeno aumento de 1%, mas com uma estabilização nos últimos anos após décadas de crescimento acentuado. Os avanços na gestão de resíduos sólidos, como o aumento de aterros sanitários e o aproveitamento energético do metano, ajudaram a mitigar parcialmente as emissões. No entanto, ainda há grande potencial para melhorar a reciclagem e a compostagem, especialmente nas grandes cidades brasileiras.

Em 2023, o Brasil também enfrentou a crescente preocupação com as queimadas, um fator que se torna cada vez mais relevante no balanço de emissões do país. Embora o desmatamento tenha diminuído, o fogo, especialmente nas florestas intactas da Amazônia e da Mata Atlântica, continua sendo uma fonte significativa de emissões de carbono. Emissões de gases de efeito estufa provenientes de queimadas também foram monitoradas, com destaque para a primeira medição do metano e óxido nitroso, liberados pela queima de pastagens.

O cenário atual exige uma transformação profunda e rápida em diversos setores, pois, embora os avanços em alguns biomas, como a Amazônia, tenham sido expressivos, a dependência das florestas para a redução de emissões é arriscada. De acordo com especialistas, o Brasil precisa diversificar suas ações climáticas para evitar o aumento das emissões em outros biomas e setores da economia. Em resposta, as políticas públicas precisam se fortalecer, com foco na redução das emissões da agropecuária, no combate ao desmatamento em biomas como o Cerrado e no fomento à adoção de tecnologias mais limpas em setores industriais e energéticos.

A transição para uma economia de baixo carbono no Brasil é urgente e deve ser acompanhada de políticas eficazes de descarbonização. A implementação de soluções inovadoras, como a recuperação de áreas degradadas e a promoção de práticas sustentáveis na agricultura, será essencial para que o país cumpra suas metas climáticas e, mais importante, para que se posicione como um líder em mitigação de emissões no cenário internacional.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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