Especialistas de todo o mundo concordam que um dos grandes desafios para a preservação do planeta é a demanda cada vez mais alta por alimentos, provocada pelo rápido crescimento da população global nos últimos séculos. No entanto, estudo recente publicado na revista Nature revela que é possível frear a curva de degradação e regenerar a natureza até 2050, combinando ações de conservação a mudanças no sistema alimentar.
Conduzido por David Leclère, pesquisador do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados (IIASA/Áustria), em parceria com outros autores, o estudo mostra como a aplicação de estratégias integradas, que equilibrem natureza e produção agrícola, pode ajudar a evitar os graves efeitos da perda de biodiversidade no mundo.
Para desenvolver o trabalho, foi adotada uma abordagem que combinava diferentes modelos de biodiversidade e de uso de terras, avaliando o desempenho de cenários futuros por meio de estratégias integradas.
A análise desses cenários revelou que a maioria das combinações de modelos obtiveram bons resultados: 61% delas mostraram que a execução de estratégias de conservação levou a um aumento positivo na curva da biodiversidade até o ano de 2050.
Essas estratégias consistem em promover ações para conservação e restauração ambiental – estender a rede de reservas naturais protegidas e restaurar terras degradadas, por exemplo –, além de basear as futuras decisões de produtividade agrícola em práticas voltadas para a sustentabilidade.
Ao combinar essas ações com uma série de intervenções no sistema alimentar, os pesquisadores alcançaram resultados ainda melhores. Essas medidas preveem um comércio de alimentos cada vez mais globalizado, a diminuição do desperdício de alimentos pela metade e adoção de dietas de menor impacto para a natureza, com a redução de 50% do consumo de carne e de outros alimentos cuja produção demanda uso excessivo de terra.
Juntas, essas ações compõem um cenário em que seria possível evitar cerca de 90% das perdas futuras de biodiversidade. As medidas que envolvem interferência no sistema alimentar também preveniram problemas relacionados à acessibilidade dos alimentos, que é dificultada no cenário atual.
Embora complemente a atual estrutura do cenário de mudança climática global, o trabalho de Leclère e seus colegas não considera o impacto dessas mudanças sobre a biodiversidade, ignorando os efeitos do aquecimento sobre a fauna, a flora e seus ecossistemas. Também foram deixados de lado outros tipos de ameaças à natureza, como colheitas, espécies invasoras e a prática de caça.
A ausência de cenários que levem em conta essas ameaças pode ter resultado em estimativas muito otimistas diante da realidade. Para chegar ao resultado esperado, talvez a pesquisa tenha de ser expandida futuramente, abrangendo todos os tipos de ameaças à biodiversidade.
Apesar disso, o estudo comprova que é possível, sim, reverter a curva de degradação com algumas décadas de esforços em comunidades do mundo todo. Para isso, é preciso investir na produção sustentável de alimentos, adotar hábitos alimentares mais saudáveis e garantir a preservação e recuperação ambiental, reunindo esforços em escala global – e tendo em mente que atitudes individuais também fazem a diferença.
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