Projeto apoiado pela ONU Meio Ambiente promove a restauração de ecossistemas devastados e auxilia aldeões a encontrar meios de subsistência sustentáveis
Mulheres retiram ervas daninha num viveiro de mudas no topo da montanha de Kulen, no Camboja. Foto: ONU Meio Ambiente
Na montanha de Kulen, no Camboja, um projeto apoiado pela ONU Meio Ambiente promove a restauração de ecossistemas devastados e auxilia aldeões a encontrar meios de subsistência sustentáveis, evitando a atividade madeireira. A recuperação da mata aumentou o volume de chuvas, antes abundante, mas reduzido em anos recentes por causa da perda de cobertura vegetal.
No Camboja, durante o século 12, as pessoas iam até a montanha Kulen, um lugar sagrado associado à fertilidade, para cortar pedaços enormes de pedra, que eram arrastados por elefantes.
Até os dias de hoje, moradores sobem o monte, mas por outros motivos. Embora Kulen tenha se tornado uma área protegida, as pessoas vão lá não apenas para catar as lichias que dão nome à montanha, mas também para derrubar árvores e vendê-las em troca de madeira de lei ou de carvão nas cidades mais abaixo da formação rochosa.
Ao longo das décadas recentes, a atividade madeireira ilegal no parque nacional de Kulen devastou amplas extensões de floresta. Conforme a cobertura de árvores encolhia, o povo que residia no topo da montanha via encolher também — ou até mesmo desaparecer completamente — as nuvens de chuva, que costumavam se aglomerar acima da mata.
, conta a moradora Yuth Thy, de 46 anos.
Com financiamento do Fundo de Adaptação, a ONU Meio Ambiente ajudou o governo do Camboja e parceiros a criar um viveiro de mudas e a fornecer materiais para o cultivo de árvores em Kulen.
Desde o início do projeto, em 2014, Thy já passou horas e horas, todos os dias, cuidando das mudas, na esperança de retardar ou reverter os efeitos das temperaturas cada vez mais altas e das chuvas irregulares.
Moradores das comunidades ao redor da área protegida de Kulen receberam treinamento de um projeto apoiado pela ONU Meio Ambiente para desenvolver meios de subsistência sustentáveis e não precisar recorrer à atividade madeireira. Foto: ONU Meio Ambiente
, afirma Thuch Ron, que chefia a comunidade da área protegida de Chuop Tasok.
acrescenta.
Anteriormente, quando as safras de arroz minguavam devido à seca, as pessoas tinham que vender seus animais ou bens para comprar comida.
O projeto diminuiu a dependência que a população tinha da agricultura centrada na chuva e diversificou as dietas, oferecendo treinamento e sementes para as famílias e as escolas locais, com o intuito de estabelecer jardins domésticos, poços para a irrigação e cooperações de criação de galinha.
Agora, os moradores também têm um fornecimento certo de água potável, vinda de um pequeno reservatório, instalado em fontes montanha acima.
recorda o jovem Chong Pring, de 25 anos, que mora na aldeia Kla Khmoum.
Outro benefício da expansão do dossel da floresta cambojana é a abundância de mel silvestre, que as pessoas extraem e vendem montanha abaixo, junto com galinhas, para turistas e também nativos das aldeias e fazendas adjacentes. A descida de Kulen demora uma hora de moto.
Homem cultiva vegetais em seu jardim doméstico na região de Kulen. O projeto apoiado pela ONU Meio Ambiente ajuda moradores a encontrar alternativas de subsistência e depender menos da agricultura baseada na chuva. Foto: ONU Meio Ambiente
Mas a maior alegria e alívio para o povo da montanha foi ver as chuvas voltarem à região.
, completa Ron.
As pessoas não precisam mais procurar por raízes na floresta quando as safras vão mal. Os sinais de uma saúde e renda melhores são visíveis na aldeia de 65 casas, onde 54 famílias têm jardins próprios, 25 frangos e as ruelas são ladeadas por abacateiros, mangueiras e jaqueiras.
A vila começou a compartilhar suas mudas com outra aldeia próxima, que testemunhou o sucesso da iniciativa de reflorestamento na comunidade da área protegida. Esse assentamento vizinho decidiu criar seu próprio viveiro de árvores, a fim de cultivar mudas de espécies raras e recuperar outros locais devastados.
Na escola local, as crianças estão aprendendo sobre as mudanças climáticas e sobre a importância de manter a cobertura florestal. Thy já ensinou uma de suas filhas a produzir mudas.
“ explica a cambojana.
Thy é uma dos dez habitantes da comunidade que foram eleitos para tomar conta do viveiro de árvores. Ela recebe em torno de 7,5 dólares por mês para isso, mas em alguns dias, ela chega a passar quatro horas arrancando ervas daninhas, regando e cuidando das mudas.
“Estou comprometida com esse trabalho porque eu quero que a próxima geração tenha árvores e algumas espécies já desapareceram”, diz.
Ron está muito satisfeito com o treinamento que ele e sua equipe receberam para produzir as mudas. O jovem está inspirando outros aldeões e outras gerações a recuperar a grandiosidade da região de Kulen.
, conclui o jovem.
Veja também:
- Queimadas cresceram 27,5% no país em 2015, segundo Inpe
- Muito além da exploração animal: criação de gado promove consumo de recursos naturais e danos ambientais em escala estratosférica
- ONG entrega à Câmara projeto de lei pelo desmatamento zero
- Essenciais para a vida humana na Terra, solos sofrem risco de extinção com agricultura excessiva
- Brasil é o país com maior perda anual de área verde do mundo, diz relatório da FAO
- Desmatamento da Amazônia: causas e como combatê-lo
- Campanha contra o desmatamento
- “O desmatamento pode estar no seu prato” diz Google