Dados da NASA apontam que 2012 foi o nono ano mais quente desde 1850, ano em que iniciaram suas medições
Os últimos anos foram marcados por temperaturas mais intensas e estações do ano não definidas, bem como por eventos climáticos extremos, como a onda de calor que atingiu a Europa em 2013 (na Inglaterra, por exemplo, estima-se que mais de 700 pessoas faleceram devido às altas temperaturas); o furacão Katrina, que atingiu os Estados Unidos em 2005, causando aproximadamente mil mortes e prejuízos financeiros e materiais, entre outros acontecimentos naturais. Recente relatório da norte-americana Nasa (Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço) aponta os motivos para esses acontecimentos: a variabilidade natural do sistema climático e o aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera.
A variabilidade natural do clima está relacionada a ciclos e tendências na órbita da Terra, entre elas a radiação solar, a composição química da atmosfera, a circulação oceânica, a biosfera etc. Algumas ações humanas podem, contudo, interferir nessa variabilidade, como emissão de gases que geram o efeito estufa, a urbanização e o desflorestamento. Segundo a Agência para o Oceano e a Atmosfera (NOAA, na sigla em inglês), que pertence a uma repartição do governo dos EUA para estudos meteorológicos e climáticos, esses fatores contribuíram para fazer de 2012 o décimo ano mais quente desde 1850, quando teve inicio esse tipo de medição. Já para o Instituto Goddard de Estudos Espaciais, da NASA, que faz a revisão anual das temperaturas médias da Terra, 2012 foi o nono ano mais quente. Essa diferença de resultado se dá porque as duas agências utilizaram métodos de análise diferentes. Porém, a conclusão a que chegaram é semelhante: os anos mais quentes ocorreram a partir de 1998 e a causa disso são as emissões industriais de carbono e outros gases causadores do efeito estufa, que aprisionam o calor na atmosfera.
Apesar de boa parte do ano de 2012 ter sofrido influência do fenômeno La Niña, responsável pelo resfriamento das águas do oceano Pacífico, a temperatura média global foi de 14,6°C, ou 0,56°C acima da média observada em meados do século XX, linha-base da pesquisa. Segundo a agência espacial norte-americana NOAA, o Ártico e a América do Norte foram os pontos do planeta onde as temperaturas foram mais extremas.
A temperatura global aumentou a uma taxa média estimada de 0,17°C por década durante os anos de 1971-2010. Já a tendência durante o período que compreende 1880-2010 foi de 0,062°C por década. Além disso, o aumento de 0,21°C da temperatura média da década de 1991-2000 para a década de 2001-2010 é maior do que o aumento de 1981-1990 a 1991-2000 (0,14°C) e maior do que para qualquer outra de duas décadas sucessivas, desde o início dos registros instrumentais, por volta de 1850.
O ano mais quente foi 2010 (apesar do fenômeno La Niña), segundo a Organização Mundial de Meteorologia (WMO, na sigla em inglês), com uma anomalia de temperatura média estimada em 0,54°C, ficando acima da linha base de 14,0°C. O ano menos quente foi 2008, com uma anomalia (desvio do padrão de variabilidade de temperatura) estimada de 0,38°C, mas suficiente o bastante para registrar 2008 como o ano em que a La Niña foi mais quente (confira na tabela abaixo).
Ainda segundo o relatório, o Brasil foi o país da América do Sul que registrou anomalia de temperatura mais alta, 0,7 °C, entre 2001-2010. Uma das temperaturas mais altas, 44,6°C, ocorreu em Bom Jesus, em 31 de janeiro de 2006.
Os anos entre 2001 e 2010 também foram os mais quentes para as águas do oceano. O ano mais quente foi 2007, com uma anomalia de temperatura de 0,95°C. Já 2003 foi o ano em que a temperatura das águas da superfície dos oceanos foi mais alta, com uma anomalia de temperatura na ordem de 0,4°C. Isso confirma o que pesquisadores vêm dizendo há algum tempo: a superfície do oceano vai aquecer mais lentamente do que a terra, porque boa parte do calor adicional vai ser transportada para as profundezas do oceano ou perdida pela evaporação.
Outros eventos
O relatório da Organização Mundial de Meteorologia afirma ainda que a inundação foi o evento mais extremo enfrentado pelas pessoas ao redor do mundo ao longo da década de 2001-2010. A Europa Oriental foi particularmente afetada em 2001 e 2005, a África em 2008, Austrália e Ásia em 2010 – neste último, mais precisamente o Paquistão, onde 2 mil pessoas morreram e 20 milhões foram afetadas. Além disso, muitos deslizamentos de terra foram registrados ao redor do mundo.
Um estudo recente aponta que o aumento de inundações pode acarretar o desaparecimento de 1,7 mil cidades e estados norte-americanos. As áreas urbanas, incluindo Nova York e Miami, podem se encontrar abaixo do nível do mar daqui a cem anos. E esse número pode aumentar, caso as taxas de emissão não diminuam. Os pesquisadores do estudo também afirmam que mesmo que não haja mais emissão de gases de efeito estufa, levará muitos anos para o resfriamento do sistema climático atual, principalmente naquelas cidades que já estão no limite. Outro estuda aponta que para cada 1°C a mais no valor de temperatura, poderá levar ao aumento de 2,3 metros do nível do mar.
Nesse período analisado, as secas afetaram mais pessoas do que qualquer outro tipo de desastre natural, devido à sua longa duração, como na Austrália em 2002 e na África Oriental, resultando em perda de vidas e escassez de alimentos. De acordo com um relatório das Organizações das Nações Unidas, a aridez já afeta 40% de terras do planeta.
Segundo estudo do NOAA, o período de 2001-2010 foi marcado também pelo aumento de ciclones tropicais, registrando uma média de 15 tempestades por ano, bem acima de 12, média de 1981-2010. 2005 foi o ano em que mais ocorreu esse tipo de fenômeno natural, 27 no total. Um deles foi o Katrina, de categoria 5, considerado o mais devastador da década.
O calor recorde da década 2001-2010 foi acompanhado pelo derretimento das calotas polares, geleiras e do gelo marinho. Até a década de 1960, o gelo do mar cobria, no final do inverno, 14-16 milhões de quilômetros do Ártico, e 7-9 milhões de quilômetros no final do verão do hemisfério norte. Mas esses números diminuíram consideravelmente desde então. O mês de setembro dos anos de 2005, 2007, 2008, 2009 e 2010 registrou a menor taxa de extensão de gelo no mar. Em 2007, houve uma redução de 39% dos 4,28 milhões de km² de extensão de gelo marinho.
O derretimento das camadas de gelo (o ápice foram em 2007 e 2008) vem contribuindo consideravelmente, mais do que outros fatores, para a elevação do nível do mar. A taxa observada de elevação foi de cerca de 3 mm por ano, quase o dobro da taxa verificada no século XX, a saber, 1,6 mm por ano.
Gases causadores do efeito estufa
O dióxido de carbono (CO2) é um dos principais gases responsáveis pelo efeito estufa, que aprisiona o calor na troposfera. Ele é injetado no ar naturalmente durante a decomposição de materiais orgânicos, mas também através da queima dos combustíveis fósseis usados para geração de vários tipos de energia, principalmente o petróleo e o carvão. De acordo com um relatório do WMO, a concentração atmosférica média global de dióxido de carbono subiu para 389 ppm (partes por milhão) em 2010 (um aumento de 39% em relação ao período pré-industrial), outros gases que contribuem para o aquecimento global também tiveram aumento, como metano e óxido nitroso.
O metano (20 vezes mais danoso que o CO2 no dequilíbrio do efeito estufa) é liberado durante a extração, produção e distribuição de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás), em aterros sanitários, devido à decomposição anaeróbica (redução de oxigênio) dos materiais biodegradáveis dos resíduos orgânicos encontrados lá, etc. Ele registou um aumento de 1.808.0 ppb (partes por bilhão), ou seja subiu 158% em relação ao período industrial. A emissão desse gás cresceu depois da Segunda Guerra Mundial, mas desde 1980 sua taxa de crescimento tem diminuído na ordem de, aproximadamente, dois terços.
O ritmo de crescimento do óxido nitroso (300 vezes mais danoso que o CO2 no desequilíbrio do efeito estufa), por sua vez, vem sendo constante desde 1978. As fontes associadas ao crescimento desse gás são o uso de fertilizantes nitrogenados nas práticas agrícolas, a queima de combustível fóssil e de biomassa e na criação de gado.
A emissão humana de clorofluorcarbono (CFC) e aerossol também alteram o equilíbrio atmosférico.
A sigla MPT se refere aos gases que devem ter sua taxa de emissão reduzidas, conforme foi estabelecido no Protocolo de Montreal. São eles: CFC-11(clorofluorcarboneto), CFC-12 (diclorodifluormetano), CFC-113, CFC-114, CFC-115, CCl4,CH3CCl3, HCFC-22, HCFC-141b, HCFC-142b, HCFC-123, CF2BrCl, CF3Br.
O relatório do WMO considera que a diminuição do uso de substâncias que interferem na camada de ozônio, como pede o Tratado de Montreal, pode permitir que essa camada se recupere em poucas décadas.
Saiba mais sobre o relatório da Nasa, assistindo ao vídeo abaixo: