O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos está preparando uma prévia da nova versão das diretrizes nutricionais governamentais para 2015. Provavelmente elas orientarão os cidadãos do país para uma significativa diminuição do consumo de carnes.
Essas diretrizes, que são atualizadas a cada cinco anos, tradicionalmente estimulam os cidadãos a fazerem escolhas alimentares tidas como saudáveis, tendo como critério apenas a nutrição humana. A novidade para 2015 é que o governo também irá orientar a partir do que considera é saudável para o meio ambiente. Dada a grande pegada de carbono da produção de carne, espera-se uma posição oficial do governo direcionada à diminuição do consumo.
Os estadunidenses, apesar de já terem diminuído o consumo nos últimos anos, continuam apreciando steaks, hambúrgueres e frango frito. O impacto dessa dieta no meio ambiente é significativo. Hábitos carnívoros contribuem muito mais para a deterioração do meio ambiente do que comportamentos vegetarianos, sendo que a indústria frigorífica é responsável por aproximadamente 15% do total da emissão de carbono global. Cerca de dois terços disso resultam da produção de carne bovina. Em uma comparação por quilograma de carne produzida, percebe-se que a pegada de carbono da produção da carne de cordeiro é ainda maior (confira a tabela abaixo, em inglês):
Os defensores da indústria frigorífica têm travado uma batalha contra qualquer recomendação da diminuição do consumo de carnes há décadas. Mas esses debates são realizados nas linhas de frente da nutrição e não há consenso a respeito das evidências dos malefícios da carne para a saúde. Dessa forma, a recomendação governamental atual é de que a população consuma carne magra, em vez de ingerir menos carne.
A difícil defesa do ponto de vista ambiental
Mesmo assim, defender o consumo de carne a partir da preocupação com o meio ambiente será muito mais difícil para a indústria frigorífica. Agências internacionais e governamentais, incluindo a ONU, já evidenciaram em diversos estudos a enorme pegada de carbono da produção de carne. E agora o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) pode se posicionar da mesma forma.
Por essa razão, vários atores envolvidos com a indústria frigorífica já estão respondendo criticamente a essa nova postura governamental, atacando a noção de que a produção de carne é incompatível com o cuidado com o meio ambiente, e desacreditando a ideia de que o meio ambiente possa ser influenciado com alguma mudança nas diretrizes alimentares.
O Instituto Norte-Americano de Carnes (NAMI) e a Associação Nacional de Produtores de Carne emitiram notas insistindo que a carne magra pode ser parte de uma dieta saudável e questionando qualquer sugestão de impacto ambiental contida nas diretrizes da USDA. “O foco do Comitê de diretrizes alimentares na sustentabilidade pode ser questionado, já que essa não é a especialidade do órgão”, diz a NAMI em sua nota oficial.
Uma prévia das orientações governamentais lançada no mês passado indica a escolha por consumo de produtos de origem vegetal em detrimento aos de origem animal. Essa escolha traria “menor impacto ambiental do que a dieta média atual dos Estados Unidos”. Especificamente, o projeto aconselha menos “carnes vermelhas” e “carnes processadas.”
Mas não é só porque o comitê da USDA está discutindo essas recomendações que elas passaram a ser efetivas no relatório que deverá ser entregue ao ministério da Agricultura e departamentos de Saúde e Serviços Humanos. Uma recomendação também não significa que os departamentos seguirão o conselho na determinação das orientações finais, que deve ser lançado ainda em 2015. Mas se acontecer, o impacto será significativo.
Os americanos não necessariamente acatam essas recomendações nutricionais, disse Janet Riley, vice-presidente sênior de assuntos públicos do NAMI. “Apesar disso, pode haver impacto sobre os itens dos programas de alimentação governamentais, que são significativamente impactados pelas diretrizes nutricionais federais”, continuou a vice-presidente.
De fato, os impactos seriam relevantes. Reduzir a ingestão diária recomendada de carne impactaria na quantia de produtos fornecidos pela indústria frigorífica ao programa de merenda escolar dos EUA, e de um dia para o outro, a dieta de milhões de norte-americanos passaria a contar com menos carne.
Fontes: Washington Post; Diretrizes nutricionais dos EUA; Programa de merenda escolar dos EUA (School Lunch Program); As falhas do serviço de merenda escolar dos EUA
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