Por Sara Leal em IPAM Brasil | É o maior aumento de emissões em quase duas décadas, superado apenas por 2003, quando as emissões cresceram 20% e atingiram seu pico histórico. A aceleração é mais do que duas vezes superior à média mundial estimada para o mesmo ano.
Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (22) no relatório do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), que analisa os números de emissões do Brasil de 1970 a 2021 e suas implicações para as metas climáticas do país. O documento foi produzido pelo Observatório do Clima com a contribuição do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e outras entidades parceiras.
A alta do desmatamento, sobretudo na Amazônia, foi a principal responsável pelo aumento de emissões. Em 2001, a poluição climática causada pelas mudanças de uso da terra subiu 18,5%. A destruição dos biomas brasileiros emitiu 1,19 bilhão de toneladas brutas de CO2 equivalente (GtCO2e) no ano retrasado — mais do que o Japão inteiro —, contra 1 bilhão de toneladas em 2020.
Em 2021, os Estados do Pará (18,5% do total) e Mato Grosso (11,1%) aparecem como os principais emissores brutos, seguidos de Minas Gerais (6,9%), São Paulo (6,5%) e Amazonas (5,7%), que ultrapassa Rondônia marginalmente como terceiro Estado com mais emissões por desmatamento do país.
Tal como em anos anteriores, as mudanças do uso da terra responderam pela maior parte das emissões brutas brasileiras em 2021: 1,18 bilhão de toneladas de CO2 equivalente, representando 49% do total nacional naquele ano.
A maior parte das emissões brutas (92%) é causada por alterações de uso da terra, que em sua maioria consistem no desmatamento do bioma Amazônia, que concentram 77% (911 MtCO2e) das emissões brutas do setor em 2021.
A pesquisadora do IPAM e uma das autoras do estudo, Bárbara Zimbres, explica que o setor Mudanças de Uso da Terra e Florestas “analisa as emissões de gases de efeito estufa causadas pelas conversões na cobertura e no uso da terra, incluindo a substituição das áreas de vegetação natural por áreas de uso antrópico, o que configura como desmatamento, mas também outros tipos conversão entre usos”. Segundo ela, as remoções promovidas pela regeneração da vegetação natural e outros tipos de conversão também são consideradas.
Somando as emissões por desmatamento e outras mudanças de uso da terra com as do setor agropecuário, o relatório aponta que, em 2021, a atividade agropecuária responde por 74% de toda a poluição climática brasileira.
Com base nas lições aprendidas em dez anos de SEEG, o relatório traz recomendações ao novo governo para a reconstrução da agenda climática do Brasil com o objetivo de alcançar as metas do Acordo de Paris.
Entre elas, corrigir imediatamente a “pedalada” de carbono da NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) brasileira, antes da SB58 (reunião intersessional da UNFCCC em Bonn, em junho de 2023); paralelamente, abrir um processo participativo de construção de uma NDC para 2030 que substitua a primeira e que seja compatível com a meta de 1,5°C.
O documento também sugere a elaboração de um plano de implementação da NDC e o estabelecimento de uma trajetória para as emissões do Brasil, que preveja orçamentos de carbono com valores máximos a emitir a cada ano ou a cada cinco anos, incluindo uma proposta de trajetória de redução de desmatamento e de aumento da regeneração e recuperação florestal.
Leia o relatório completo aqui.
*Coordenadora de comunicação do IPAM, sara.pereira@ipam.org.br
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