Essas remoções provaram ser eficazes contra a caça, mas prejudicaram o alcance territorial e a interação social dos animais
Um estudo realizado por biólogos e preservacionistas da Universidade de Neuchâtel, na Suíça, e filiados de várias instituições na África do Sul, revelou que remover chifres de rinocerontes para protegê-los de caçadores pode ter implicações sociais para os rinocerontes.
A pesquisa, publicada na revista estadunidense Proceedings of the National Academy of Science, descobriu que populações de rinocerontes que tiveram seus chifres cortados reduziram o seu alcance territorial.
Pesquisas anteriores mostraram que os rinocerontes estão sob ameaça de caçadores que os matam para obter ilegalmente seus chifres, que são uma mercadoria popular em muitos países asiáticos.
Nesse novo esforço, a equipe de pesquisa se concentrou em uma das duas espécies de rinocerontes que vivem na África, o rinoceronte-negro. A outra espécie é o rinoceronte branco, e ambos estão ameaçados de extinção.
Atualmente, existem aproximadamente 22.100 rinocerontes brancos e 6.200 rinocerontes negros na África.
Por causa das ameaças que ambos enfrentam, ambos receberam status de protegidos.
Infelizmente, apesar de guardas armados vigiando-os, ambos sofreram declínios populacionais ao longo dos anos.
Para evitar mais perdas, as autoridades de manejo animal autorizaram os administradores do parque a remover os chifres de muitos dos rinocerontes, eliminando o motivo da caça furtiva.
Essas remoções provaram ser eficazes – a caça furtiva foi interrompida com os programas.
No entanto, esses programas não são uma solução simples – remover chifres com segurança é caro e coloca trabalhadores e rinocerontes em risco. Além disso, os chifres voltam a crescer e devem ser removidos a cada 18 a 24 meses.
Menos compreendido é o impacto nos rinocerontes após a remoção dos chifres. Para saber mais, os pesquisadores deste novo esforço estudaram os hábitos dos rinocerontes-negros nas áreas em que eles vagam.
A equipe começou fazendo mapas da área de rinocerontes para a reserva de caça privada Manyoni, na África do Sul.
Eles usaram dados de avistamentos feitos antes do início de um projeto de descorna em 2016 e depois para avistamentos feitos nos anos subsequentes.
Eles observam que foram capazes de mapear o alcance de rinocerontes negros individuais por meio de entalhes de orelha exclusivos feitos por gerentes de jogo.
Eles descobriram que, após a perda de um chifre, os rinocerontes machos reduziram muito seu alcance – alguns perderam até 80% de seu território.
Para algumas fêmeas, relata a equipe, o alcance foi ainda mais reduzido. O grupo repetiu seu trabalho em nove outras reservas de caça usando 15 anos de coleta de dados e encontrou resultados semelhantes.
Os pesquisadores também descobriram que a remoção dos chifres tornava os rinocerontes negros menos sociais uns com os outros – em vez de interagir, eles se evitavam intencionalmente. Eles concluem que a remoção dos chifres pode ser uma forma indireta de domesticação.