Répteis: o que são e por que enfrentam a extinção

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Os répteis são um grupo com grande diversidade taxonômica,  variam de lagartos e cobras a tartarugas e crocodilos. Dessa forma, é importante ressaltar que as ameaças à sobrevivência de cada espécie provavelmente serão igualmente variadas. Ainda, dentre essas espécies são encontradas algumas das criaturas mais mortais e venenosas da Terra, como o crocodilo de água salgada e a cobra cuspideira.

De acordo com um estudo de abrangência global divulgado pela revista científica Nature, foi evidenciada a necessidade de conservação dos tetrápodes, classificados como animais de sangue frio, escamosos e em sua maioria predadores. Pois, cerca de 90% das espécies de répteis conhecidas, 21% precisam de apoio urgente para evitar que sejam extintas, pois estão alocadas em uma das três categorias de risco de extinção (vulnerável, ameaçada ou criticamente ameaçada). Em comparação com aves, anfíbios e mamíferos, existem  poucos dados disponíveis sobre a distribuição, tamanho da população e risco de extinção de répteis.

Extinção de crocodilos e jacarés pode ameaçar outros seres vivos

Crocodilos e tartarugas estão entre os animais mais ameaçados

Segundo Cox, 58% das espécies de crocodilos e 50% das tartarugas estão em risco de extinção, tornando-os os mais ameaçados entre os répteis. São também os grupos de répteis mais frequentemente associados a zonas húmidas, habitats que estão cercados pela expansão agrícola, avanço das áreas urbanas e desmatamento para exploração madeireira, bem como pelas alterações climáticas.

As maiores ameaças aos crocodilos e tartarugas são a caça e o comércio ilegal de animais selvagens. Esse comércio ilegal, é realizado para fornecer animais para colecionadores particulares; fins científicos (biopirataria); venda em pet shops (compra e venda ilegal de animais silvestres); e produção de subprodutos (fabricação de adornos e artesanato) que segundo dados do estudo, ameaça 31% das tartarugas. 

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Trabalhos de conservação

Os répteis formam um agrupamento heterogêneo de tetrápodes amniotas ectotérmicos que inclui três linhagens principais, os Testudines (cágados, tartarugas e jabutís), os Squamata (lagartos, serpentes e cobras-cegas) e os Crocodilianos (jacarés, crocodilos e gaviais). Os Rhynchocephalia (tuataras) correspondem a uma quarta linhagem, proximamente relacionada aos Squamata, e estão representados atualmente por apenas uma espécie endêmica da Nova Zelândia.

O tuatara é o único sobrevivente de uma antiga ordem de répteis chamada Rhynchocephalia, que vagou pela Terra no mesmo período dos dinossauros, há cerca de 200 milhões de anos. Tuatara é uma palavra Maori que significa dorso espinhoso, apresenta características mistas entre lagartos, tartarugas e aves. Curiosamente, esta espécie tem uma das vidas mais longas de qualquer réptil (mais de 100 anos), tem temperatura corporal de cerca de 10 °C mais baixa do que a maioria dos répteis e é endêmica das ilhas da Polinésia e Nova Zelândia. 

Quase foram extintas nas principais ilhas há cerca de 200 anos, por causa dos ratos invasores, trazidos pelos colonizadores europeus. Contudo, as populações desta espécie se estabilizaram, principalmente pela proteção contra a coleta não autorizada de indivíduos adultos, ou seja, proteção contra a sua retirada da natureza em 1895, a mesma proteção foi dada aos seus ovos em 1898.   

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Esses répteis são reconhecidos internacionalmente e dentro da Nova Zelândia como espécies que precisam de manejo ativo de conservação. Eles também estão listados no Apêndice I da Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens (CITES), que foi ratificada na Nova Zelândia em 1989 como a Lei de Comércio de Espécies Ameaçadas. Desse modo, a Tuatara é de grande interesse internacional para os biólogos. Por isso, são realizados esforços de conservação, como reprodução em cativeiro e reintrodução direcionada.

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Destruição do habitat 

Apesar da sua considerável importância ecológica nos ecossistemas que habitam, os répteis ainda despertam pouco interesse popular no que diz respeito à sua conservação, por causa do medo que a maioria das pessoas têm em relação a estes animais. 

As ameaças à conservação dos répteis têm crescido, principalmente, como reflexo da destruição de seus habitats. A perda de habitat, causada pela expansão das terras agrícolas, urbanização e extração de madeira, contribui mais para o risco de extinção da maioria dos répteis do que qualquer outro fator. 

Além do risco crescente decorrente das mudanças climáticas, que agravam a vulnerabilidade devido à destruição de habitat; à captura para o comércio de espécies selvagens; e o deslocamento de répteis nativos para introdução de espécies invasoras. Essas ameaças são induzidas pelo homem e representam um problema para todos os outros grupos de animais.

Ademais, muitas espécies são altamente especializadas em relação ao habitat e as condições climáticas que exigem para sobreviver. Logo, isso as torna sensíveis às mudanças ambientais.

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Répteis mais ameaçados nos trópicos

O Sudeste da Ásia, Oeste da África, Madagascar e Caribe são hotspots para répteis em risco de extinção. De acordo com a nova avaliação, essas áreas contêm duas vezes mais répteis ameaçados do que os de outros grupos de animais.

Uma vez que mais da metade das espécies de répteis ameaçadas vivem em florestas, onde a destruição do habitat é uma ameaça. Medidas de emergência foram implementadas para algumas dessas espécies ameaçadas, orientando para que sejam coletadas e mantidas em zoológicos, aquários e jardins botânicos. Portanto, ao conservar áreas florestais para um grupo de espécies ajudará a proteger todos os outros.

Alterações climáticas

Como os répteis são seres de sangue frio, devem se aquecer no sol, mas se eles são aquecidos acima de sua temperatura ideal, seu metabolismo é menos eficiente e eles precisam se mover para a sombra para se refrescar.

Contudo, por meio do aumento das temperaturas globais, há a redução das janelas disponíveis para os répteis para forrageamento diário e diminui sua área habitável em geral. 

Ainda, para algumas espécies de répteis, a temperatura ambiente influencia o sexo da prole. Pois, em temperaturas baixas fazem com que muitos ovos de tartaruga se desenvolvam em machos, então as mudanças climáticas podem fazer com que os machos morram.

Endemismo

Há répteis que estão restritos a uma área específica, ou seja, um área endêmica, como a região de uma única pequena ilha. Nesse local a espécie, geralmente, é especializada e por isso requer um esforço de conservação focado nas necessidades daquela espécie.

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É interessante destacar que determinadas aves e mamíferos de acordo com as características do local e da espécie, favorecem a conservação dos répteis. Isso ocorre porque as ameaças impostas a todos os grupos de animais são basicamente as mesmas. Portanto, os esforços de conservação empregados para uma espécie podem beneficiar a todos.

Répteis em extinção no brasil

No mundo são conhecidas mais de 11600 espécies de répteis. Segundo o   Panorama Geral dos Répteis Ameaçados do Brasil, o Brasil ocupa atualmente o 3º lugar em riqueza de espécies desse grupo, contando com 848 espécies registradas em nosso território. Desse total de espécies encontramos 38 quelônios, 6 jacarés, 82 anfisbenas, 292 lagartos e 430 serpentes. No Rio Grande do Sul, são conhecidas cerca de 120 espécies de répteis. Destas, 85 espécies são oficialmente reconhecidas como ameaçadas, onde 17 espécies continentais de serpentes e lagartos estão oficialmente ameaçadas, além das cinco espécies de tartarugas marinhas.

Os conservacionistas da vida selvagem ajudaram em grande parte os répteis indiretamente no passado, atendendo às necessidades de outros animais (por alimento e habitat, por exemplo) que vivem em lugares semelhantes. Também, é de grande importância promover a educação ambiental, o envolvimento e a participação das comunidades residentes em Unidades de Conservação federais (UC’s) e suas imediações, na conservação dos répteis e anfíbios e dos ambientes em que vivem.  

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De acordo com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN/ICMBio) os répteis são de extrema importância para manter o equilíbrio ambiental por serem controladores de diversas outras espécies de invertebrados e vertebrados. Muitas dessas criaturas fascinantes são temidas pelos humanos e vivem em áreas de difícil acesso, como pântanos. 

Por meio da educação ambiental são desenvolvidos projetos específicos que permeiam todas as ações do RAN através de cursos e de produção de material informativo e ludo-pedagógico, visando a promoção da sensibilização sobre as questões do meio ambiente, em especial quanto à importância dos répteis e anfíbios para a manutenção do equilíbrio ambiental.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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