Resiliência climática e o desenvolvimento resiliente

Compartilhar

Resiliência climática é a capacidade de adaptação de todos os setores da sociedade frente aos impactos causados pelas mudanças climáticas. Nesse sentido, o desenvolvimento resiliente vai além da busca pela sustentabilidade, levando em conta também medidas de mitigação, adaptação e recuperação socioambiental, no desenrolar das adversidades geradas pelas consequências do aquecimento global.

Em meio à crise, países de baixa renda e comunidades mais pobres representam a porção mais vulnerável e mais atingida pelos impactos provocados pelo clima. Com a pandemia de Covid-19, as desigualdades se tornaram ainda mais evidentes. A parcela da população global que enfrenta limitações diárias, com ausência de saneamento, renda, moradia, além de outras necessidades básicas à vida do ser humano, é também a parcela que mais sofre com a consequência de eventos extremos.

Desenvolvimento resiliente

As mudanças climáticas afetam o desenvolvimento das sociedades e, sendo assim, o desenvolvimento resiliente ao clima é essencial para transformar o modo de vida no planeta.

O desenvolvimento resiliente está baseado em ações que possam traçar soluções para três questões: redução da pobreza, adaptação aos impactos das mudanças climáticas e a redução da emissão de gases de efeito estufa

Desse modo, a resiliência climática busca desenvolver a infraestrutura urbana, o uso da terra, o manejo dos ecossistemas, além dos setores industrial e energético, buscando atingir soluções sustentáveis, que possam frear ou mitigar as mudanças climáticas, além de auxiliar no enfrentamento de suas consequências. 

Uma gestão sustentável do meio ambiente, como a aplicação de sistemas agroflorestais, por exemplo, reduzindo e, idealmente, eliminando o desmatamento, são algumas das muitas formas de promover o desenvolvimento resiliente.

Por outro lado, a busca e a implementação de soluções para a crise climática é urgente, já que catástrofes ambientais e eventos climáticos extremos já estão acontecendo pelo mundo. 

Ebulição global: a era das ondas de calor extremo
Emergência climática: causas e consequências

Responsabilidades compartilhadas em prol da resiliência climática

De acordo com o Banco Mundial, já não há possibilidade de zerar as ameaças geradas pela mudança do clima. Com isso em mente, é responsabilidade dos governantes, e também das grandes empresas do setor privado, encontrar saídas para as demandas que os eventos climáticos impõem. No entanto, cada país, povo e região apresenta necessidades distintas e desafios próprios. 

Ainda assim, práticas de desenvolvimento resiliente alinhadas entre as nações, respeitando suas prioridades específicas, podem contribuir para a redução da pobreza, a diminuição da desigualdade climática e o aumento do bem estar e da qualidade de vida da população. Além disso, é possível sustentar um desenvolvimento econômico que seja capaz de suprir as exigências que a resiliência climática determina. Inclusive, tomando medidas reais para a redução das emissões de gases de efeito estufa.

Contudo, os cidadãos, enquanto consumidores, desempenham um papel fundamental na busca pelo equilíbrio do planeta. É preciso, de forma urgente, repensar e transformar o modo de vida pautado no consumismo. O consumo, cada vez maior, de bens que em pouco tempo são descartados, contribui de muitas formas para a degradação ambiental

Foto de Markus Spiske no Unsplash

Seja na extração e esgotamento de recursos naturais, que se tornam matérias-primas, ou nas várias etapas que envolvem transporte e produção, contribuindo direta e indiretamente para emissão de gases, além do consumo de água e energia, o consumismo é antagônico ao desenvolvimento resiliente. Ainda, promove a geração de altos níveis de resíduos, que não contam com processos de gestão adequados. Muito embora, pelo volume elevado de resíduos que são gerados diariamente, mesmo uma boa gestão poderia se tornar ineficiente.

Hábitos de consumo e geração de resíduos plásticos

O consumo de plástico, amplamente debatido no mundo contemporâneo, é um forte exemplo da necessidade de mudança dos hábitos da sociedade. O aumento de resíduos plásticos é consequência do crescimento da produção e consumo de plástico, além de produtos que utilizam essa matéria-prima, principalmente em embalagens.

Ao mesmo tempo, a reciclagem de todo esse material atinge níveis baixos, mesmo em países com maior desenvolvimento e uma melhor infraestrutura no gerenciamento de resíduos. O que, em tese, deveria colaborar para a prática da sustentabilidade.

Lixão na Nicarágua / Foto de Hermes Rivera no Unsplash

De acordo com a World Wide Fund (WWF), à medida que a indústria de combustíveis fósseis aumenta os investimentos na produção de plástico, seu custo primário se torna competitivo em relação ao valor do resíduo reciclado. Somado a isso, a não reciclagem de plástico também é reforçada pelo comércio internacional e os plásticos considerados de “baixo valor agregado”, o Low Value Plastic (LVP). 

Basicamente, para o mercado internacional, apenas dois tipos de plástico são interessantes para a reciclagem: o tereftalato de polietileno (PET, reconhecido pelo “1” nas embalagens) e o polietileno de alta densidade (PEAD, ou “2”). Juntos, os dois atingem 90% de todo o plástico reciclado no mundo, como explicam pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Sydney (UTS), na Austrália.

Consumir menos e com mais consciência é uma das ferramentas para mitigar as pesadas consequências das ações antrópicas sobre o meio ambiente e a resposta do clima. Mas também existem ações importantes que envolvem outros atores da sociedade.

Princípios da resiliência climática

De acordo com o Banco Mundial, existem seis princípios adaptativos para construir a resiliência climática, que devem ser praticados, principalmente, pelos governantes. São ações diretas, que podem contribuir, em grande escala, para conter os impactos das mudanças climáticas:

Agilidade nas ações

Agir rapidamente, em favor dos mais vulneráveis, está no topo da lista. Já que quanto menos recursos, maior é o impacto que essa população sofre com as mudanças do clima. As ações incluem o estabelecimento de políticas públicas (e práticas que funcionem) voltadas aos serviços básicos de saúde, infraestrutura, proteção social e econômica.

Incentivo à adaptação

Incentivar pessoas e empresas a se adaptarem, fornecendo informações claras e acessíveis, além de financiar as mudanças necessárias. O esforço na conscientização sobre riscos climáticos, bem como o apoio à pesquisas e inovações, além do acesso e do financiamento às soluções de adaptação são fundamentais.

Análise do uso da terra

Analisar planos de desenvolvimento urbano e uso da terra, sob a ótica da resiliência climática. Confiar na ciência, seus alertas, dados produzidos e modelos de risco é uma forma de tornar as tomadas de decisão eficientes e adequadas frente às crises climáticas. Repensar o desenvolvimento das cidades e sua infraestrutura pode evitar calamidades e proteger a população.

Plano para emergências

Planejar estratégias de recuperação. Mesmo que atenuados, os riscos de desastres não serão anulados e, por isso, se antecipar às catástrofes, tendo em mãos planos de ação para gestão de emergências podem auxiliar na recuperação de toda a comunidade atingida.

Visão unificada

Gerenciar as crises com visão macro. O planejamento para as medidas de adaptação devem levar em conta todo o país, não apenas as regiões atingidas por eventos climáticos, já que esses podem desequilibrar setores econômicos importantes.

Integração

Integrar as estratégias em todos os setores governamentais. Manter todos os setores e agências do governo na mesma sintonia mantém a consistência das ações tomadas a favor da resiliência climática. Os projetos não devem ser isolados e precisam de monitoramento e avaliação constantes.

Rio Coca: geração de energia e impactos socioambientais
Economia biocircular verde: o que é e como funciona

Riscos críticos

De acordo com o The Global Risks Report, de 2024, do World Economic Forum (WEF), eventos climáticos extremos são considerados como o primeiro risco mais crítico a longo prazo. E “a longo prazo” não vai muito longe, significa “na próxima década”. 

Na sequência, ocupam o segundo, terceiro e quarto lugares dessa lista as mudanças críticas nos sistemas terrestres, a perda de biodiversidade, o colapso de ecossistemas e a escassez de recursos naturais. 

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), no Climate Risk Landscape Report 2024, as instituições financeiras também são uma chave importante na integração dos diversos agentes em busca da resiliência climática. Isso porque o setor financeiro representa uma influência significativa nas atividades econômicas globais. 

No que diz respeito à concessão de recursos para financiar empreendimentos, estratégias de investimentos e gestão de riscos, o posicionamento dessas instituições, ao legitimar a cultura do desenvolvimento resiliente, pode impulsionar a economia global em direção a práticas voltadas para a resiliência climática

Por esses motivos, as instituições financeiras e os governos globais têm, como dizem, a faca e o queijo na mão. 

Bruna Chicano

Cientista ambiental, vegana, mãe da Amora e da Nina. Adora caminhar sem pressa e subir montanhas.

Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.

Saiba mais