Resistência bacteriana: o que é e como evitar?

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A resistência bacteriana acontece quando bactérias sofrem alterações e deixam de responder aos antibióticos. Com o passar do tempo, infecções simples se tornam cada vez mais difíceis de serem combatidas, podendo levar a uma piora do quadro clínico e até ao óbito. Uso indiscriminado de antibióticos, excesso de prescrição, práticas deficientes de saneamento e higiene, pouco controle de infecção em hospitais e clínicas e utilização desnecessária na agropecuária são as principais causas para que as bactérias resistentes se multipliquem. 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2050, a resistência bacteriana poderá ser a principal causa de óbitos no mundo, resultando na morte de 10 milhões de pessoas.

O que são bactérias?

As bactérias são seres procariontes e unicelulares, isto é, são formadas por uma única célula, sem núcleo e com organelas ligadas à membrana. Elas podem viver isoladas ou reunidas em agrupamentos que possuem formas típicas e variam entre as espécies. As bactérias pertencem ao reino Monera.

As bactérias medem entre 0,2 e 1,5 nm de comprimento e apresentam um envoltório externo rígido, chamado de parede bacteriana, que determina a forma e protege a bactéria contra agressões físicas do meio ambiente. Sob a parede celular, encontra-se a membrana plasmática, que delimita o citoplasma, fluido onde há milhares de proteínas e organelas responsáveis pelo metabolismo da bactéria. O cromossomo bacteriano, constituído por uma molécula de DNA, também fica mergulhado diretamente no citoplasma.

Apesar de existirem bactérias úteis e benéficas aos seres humanos, há algumas que transmitem doenças. A infecção ocorre principalmente por meio do contato com secreções ou pela água, alimentos e objetos contaminados. As principais doenças transmitidas por bactérias são tuberculose, tétano, gonorreia, disenterias bacterianas, sífilis e lepra.

O que são antibióticos?

Imagem de freestocks no Unsplash

Antibióticos são medicamentos usados para combater infecções em animais e humanos, destruindo as bactérias ou impedindo que elas se reproduzam. Existem vários tipos de antibióticos para tratar diferentes infecções bacterianas, como as dentárias, de ouvido, bexiga, rins e pele. Eles também podem ter diferentes formatos, como comprimidos, cápsulas, líquidos, cremes e pomadas.

No entanto, profissionais da saúde e ambientalistas apontam que o uso desses medicamentos está afetando o meio ambiente e a saúde humana, principalmente por sua utilização na agropecuária. Os antibióticos, uma vez no ambiente, causam resistência bacteriana e, com isso, aparecem as superbactérias.

Os antibióticos combatem as infecções matando as bactérias ou suspendendo sua reprodução. Para ter esse efeito, o medicamento ataca a parede da bactéria e interfere na sua reprodução e produção de proteínas. Logo após a ingestão do antibiótico, ele já começa a funcionar, mas a sensação de melhora acontece depois de alguns dias. Em geral, os antibióticos devem ser tomados por 7 a 14 dias — mas isso é definido de acordo com orientação médica. Vale ressaltar que, mesmo sentindo melhora no quadro, não se deve interromper o tratamento.

Quem faz uso do medicamento em excesso ou de forma inadequada, pode facilitar o surgimento de bactérias resistentes ao tratamento.

Superbactérias e resistência a antibióticos

Quando os antibióticos são usados inadequadamente, eles se tornam menos eficazes contra determinado tipo de bactéria, pois esta acaba melhorando suas defesas, resultando em uma superbactéria.

O nome “superbactéria” é dado popularmente às bactérias multirresistentes, ou seja, àquelas bactérias resistentes a diversos tipos de antibióticos. 

Trata-se de uma preocupação em relação à saúde humana. Na Tailândia, por exemplo, a resistência aos antibióticos causa mais de 38 mil mortes por ano e 3,2 milhões de dias de internação. Na Índia, mais de 58 mil bebês morreram em um ano como resultado de infecção por bactérias resistentes que geralmente são transmitidas pelas mães.

Contaminação ambiental

Na agropecuária, os antibióticos são utilizados para tratar doenças clínicas em animais, prevenir e controlar eventos de doenças comuns e aumentar o crescimento animal. Esse uso dos medicamentos gera impactos no meio ambiente, pois cerca de 70% a 90% de antibióticos são eliminados por meio da urina e das fezes dos animais. Como consequência, o solo e a água são contaminados disseminando superbactérias.

Um estudo realizado na Tanzânia, por exemplo, observou a existência de micróbios por toda parte no país. Nos animais domésticos, 50% das bactérias eram superbactérias. Ainda que eles não tenham tido contato com antibióticos, estão expostos às superbactérias no ambiente.

Além da contaminação ambiental, os antibióticos usados na agropecuária acabam contaminando o organismo humano por meio da ingestão de produtos de origem animal, como a carne.

Dados relevantes

Diante desse contexto, a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2019, divulgou um relatório exigindo ações para evitar uma crise de resistência a medicamentos. Segundo o grupo responsável pela divulgação do relatório, se nenhuma ação for tomada, doenças resistentes a medicamentos podem causar 10 milhões de mortes a cada ano até 2050.

Dados do relatório Fronteiras 2017 também alertaram sobre as superbactérias, estimando que o uso de antibióticos irá aumentar 23% neste século, sendo que só a medicação usada em rebanhos deve crescer 67% até 2030.

O descarte inadequado, embora em menor escala, também pode contaminar o meio ambiente e ser um fator de geração de resistência bacteriana. Descartar antibióticos no lixo comum ou privada gera sérias consequências, podendo atingir, por exemplo, águas superficiais e passar ao ambiente aquático. Nesse caso, o correto é encaminhar os antibióticos de volta às farmácias.

Ainda assim, há contaminação ambiental. Bem como acontece com os animais, os antibióticos também são liberados na urina e fezes dos humanos. Uma saída consciente é cuidar da saúde, prevenindo a necessidade do uso desses medicamentos, e reduzir o consumo de produtos de origem animal, como carne e leite, que demandam o uso de antibióticos em sua produção.

Mecanismos de resistência bacteriana

As bactérias podem manifestar resistência intrínseca, ou seja, mecanismos de resistência naturais de um gênero ou espécie bacteriana, ou podem expressar resistência adquirida, isto é, aquela originada a partir de mutações nos próprios genes ou pela aquisição dos genes de resistência de outras bactérias. 

Como evitar a resistência bacteriana

A resistência bacteriana pode ser evitada por meio de atitudes simples:

  • Uso de antibióticos apenas sob recomendação médica;
  • O tempo e a dose do antibiótico devem ser propostos pelo médico e usado de acordo com a sua orientação;
  • Não cortar o tratamento com antibióticos mesmo que não existam mais sintomas de infecção.

Ademais, é fundamental que hospitais e clínicas façam um levantamento das bactérias mais comuns e estabeleçam o perfil de sensibilidade e resistência desses micro-organismos. 

Equipe eCycle

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